Um banco central pode controlar, se assim escolher, os termos relevantes, em particular as taxas de juro, da dívida pública denominada na moeda que emite. Por isso, é tão importante que o banco central seja por sua vez controlado pela política democrática, a que está no Estado nacional.
O Banco Central Europeu é um banco de vários Estados, tendo um estatuto pós-nacional e pós-democrático, mas, mesmo assim, é absurdo jornalistas económicos sérios continuarem a repetir que as condições de financiamento do país estão dependentes dos “mercados”. Não estão nada. Estão exclusivamente dependentes da política do BCE. Sempre estiveram, de resto, por acção e omissão.
Devido à crise, a dívida atinge níveis recorde em percentagem do PIB, mas as taxas de juro nunca foram tão baixas. É o poder do banco central.
Entretanto, as regras orçamentais foram enviadas para o caixote do lixo da história onde temos de garantir que permanecerão. Há outras coisas, como a moeda única, que terão de ir para o mesmo sítio. O problema é que as regras são hábitos mentais persistentes de quem controla o Ministério das Finanças.
É absolutamente necessário aumentar o investimento público, dados os óbvios efeitos multiplicadores num contexto de crise e, num critério míope, o seu retorno nestas condições financeiras.
O governo faz um alarido com a intenção de aumentar o investimento público em mais de 20%, passando de 2,5% (cerca de 4,8 mil milhões de euros), em 2020, para 2,9% do PIB (cerca de 6 mil milhões de euros), em 2021. Se esta modestíssima intenção se concretizar, se, reparem, o investimento aproximar-se-ia, em termos nominais, do valor de 2011, 6,1 mil milhões de euros (3,5% do PIB). Muito longe dos níveis de outros tempos, os de convergência.
As regras austeritárias europeias foram as principais responsáveis por um facto infelizmente pouco notado entre nós: desde 2012, o investimento público, que chegou aos níveis mais baixos da UE (em percentagem do PIB), não é sequer suficiente para compensar a natural deterioração do stock de capital público, o que significa que o investimento público líquido tem sido negativo nestes anos.
O Governo conta com a peculiar “bazuca” europeia, a que representará, se tudo correr como o previsto, umas poucas décimas do PIB nacional em 2021.
A “bazuca” serve sobretudo para alimentar a esperança europeísta, sempre concentrada no horizonte de longo prazo, um luxo ideológico para uma elite compradora sem vontade para chegar aos níveis de investimento e sem instrumentos para o planeamento que a situação impõe.
8 comentários:
Toda a razão, salvo na afirmação, demasiado otimista, de que as regras orçamentais foram enviadas para o caixote do lixo da história. Apenas se encontram suspensas e já se anuncia o seu retorno, eventualmente para 2022, na UE.
É verdade que as taxas de juro nunca foram tão baixas. Isso explica que, de acordo com estimado no projeto de orçamento do Estado, o recorde da dívida pública portuguesa, atingido este ano, se acompanhe de uma redução, nominal e relativa, dos juros pagos sobre a dívida pública, em relação ao ano passado.
Para o ano, 2021, prevê-se pagar abaixo de 5,5 mil milhões de euros. 2,6% do PIB, o menor montante de juros, em percentagem, desde o final dos anos 70, em Portugal. Igualado em 1980, 2004 e 2005, mas nestes anos não havia centenas de milhões de euros de restituição, em dividendos e impostos, dos juros que o Estado paga ao Banco de Portugal, pelo volumoso montante de dívida que este conserva, e que em rigor se devem abater àqueles números. No final de 2021 se constatará que há quarenta anos que o Estado não pagava tão pouco (em % do PIB).
A crise é grave e, com as lições que aprenderam da grande depressão desencadeada em 2008, os bancos centrais não hesitam em recorrer agora, quase ilimitadamente, ao financiamento monetário dos défices e das dívidas públicas. Ainda que de modo indireto no caso do BCE, com o pagamento de autênticas “comissões de intermediação” aos bancos e fundos de investimento, que parasitam o circuito, comprando dívida aos estados para a revender ao BCE.
Lamentável é que sejam precisas crises tão graves para a maior compreensão da importância de uma moeda, de um banco central e de uma política monetária ao serviço da recuperação económica e do desenvolvimento de cada povo e país, em lugar das necessidades de acumulação do grande capital transnacionalizado e dos poderosos estados ao seu serviço.
Ouvi hoje de um consultor de investimento (parafraseado):
"Os bancos centrais vão manter baixas as taxas de juro."
"As baixas taxas de juro vão manter a inflação baixa."
O mundo muda, se o dissesse há 10 anos, duvido que mantivesse o emprego, tal o a contrariedade face aos livros de economia que estão nas prateleiras com edições novinhas.
De bazuca em bazuca, até à fisga final!...
Para evitar o colapso da moeda única, o BCE tem estado, nos últimos 10 anos, a "imprimir" euros (os computadores evitam a rotativa, mas o efeito é o mesmo) e a alimentar os déficits dos estados da zona euro, com aquilo que se designa por quantitative easing (QE), usando os bancos como intermediários e assim distorcer as regras dos tratados, que proíbem o financiamento direto desses mesmos déficits pelo banco central.
Uma monumental mentira, portanto.
O que acaba também por ser engraçado, pois o país mais beneficiado pelo QE, a Alemanha (as compras são feitas em função da contribuição de cada país para o BCE sendo, portanto, a Alemanha o maior contribuinte, o que faz dela o maior beneficiário) está a produzir excedentes há muitos anos.
Pergunta-se: então o que é que os hunos estão a financiar com a dívida que emitem?
Então, se nem nas infraestruturas que se degradam todos os dias (rust never sleeps) eles investem o suficiente.
Outra mentira.
Como a controle da inflação é a principal função de um banco central neoliberal, a taxa de juro tem de ser baixa, pois o aumento do custo do crédito terá reflexos nos preços finais dos bens e serviços, levando ao aumento da inflação.
O que tem estado a acontecer, pois a inflação não tem tendência a subir, mas a baixar (estando já muito aquém do suposto valor ideal de cerca de 2%).
O que leva a desconfiar se a deflação é assim tão má para toda a gente, ou se há quem aproveite com ela.
Pois, lá está: os agiotas...
Mais uma mentirazinha para a coleção...
A bazuka é apenas mais uma mentira.
Nada daquilo é para levar a sério.
Se algum dinheiro chegar, vai chegar tarde e a más horas.
O plano estratégico é demasiado generalista, cheio de boas intenções e sem meios para se impor.
Aquilo exige projetos concretos e os projetos exigem muito trabalho, de gente que sabe, com meios técnicos e humanos capazes de os executar.
Se fosse para fornecer umas máscaras, qualquer vendedor de pipocas estaria em condições de fornecer os bens e serviços que o estado estivesse disposto a comprar.
Mas parece que todas as propostas serão filtradas e sujeitas a escrutínio rigoroso.
Nada de mentiras, agora, meus caros.
«um facto infelizmente pouco notado entre nós: ... o investimento público, ...»
Infelizmente estava tudo muito entusiasmado com a política de rendimentos e reversões, e com a explosão de tascos e tasquinhas, lojas e lojinhas!
Quanto a lixo, fica por dizer o que se passa quando a moeda do banco central é lixo.
Hahaha!...
João pimentel ferreira ri-se, da forma boçal aí em cima expressa. Travestido de vitor correia, o seu riso não deve enganar ninguém. O nosso travesti holandês faz o que faz, mesmo que por vezes use o "carlos" como fisga a ver se passa
Debrucemo-nos antes sobre o texto de JR e de alguns comentários aí em cima expressos.Valem a pena e devem levar a pensar.
E a tirar conclusões
Jose regressa à sua modinha
Ainda sem ocultar aquele ressabiamento histórico pelo facto do lixo infecto, de marca passos coelho/ portas, ter sido corrido e democraticamente corrido.
E jose aparece assim, ainda com as carnes agitadas pelas "reversões" resultantes de um acordo à esquerda, que, se bem que limitadas, deixou a tralha que sonhava com a revanche neste estado
Mas jose persiste noutra questão:" entusiasmado ...com a explosão de tascos e tasquinhas, lojas e lojinhas!"
O toque histriónico ao sabor do ponto de exclamação da ordem, não esconde estes atavismos tão deliciosamente freudianos de jose
E fala jose em lixo...outro lapsus linguae notável
Enviar um comentário