quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Ideologia e medo têm um único fim?

Entrevista de Jorge Torgal ao jornal Público

Jorge Torgal, médico especialista em saúde pública, foi entrevistado pelo jornal Publico e a Rádio Renascença. Nela, o médico expressa certas opiniões que têm ido contra aquilo que tem sido veiculado, por diversos actores políticos, na comunicação social. Veja-se os sublinhados.

Mas por estranho que possa parecer, a parte da entrevista em que o médico critica os ex-bastonários da Ordem dos Médicos e a utilização política de uma ideologia, o papel do sector privado ou o medo que se está a criar, essa parte foi obliterada das peças da RTP e da SIC, passadas esta manhã. E porquê?

Porque, muito possivelmente, não estou certo, aqueles dois órgãos de comunicação social enviam às televisões os excertos que consideram mais relevantes - no seu ponto de vista ou no ponto de vista de alguém, de quem edita ou de quem coordena a edição. E as televisões montam a peça. Mas se assim for, e se ninguém consultar a entrevista toda - porque ainda leva tempo fazê-lo - as televisões apenas comunicam o que alguém por elas escolheu... Neste caso, alguém no Público e na Rádio Renascença. E, se assim for, é mais grave do que possa parecer, porque a informação acaba por estar ainda mais centralizada e condicionada, menos independente.

Neste caso, é ainda mais paradigmático. É que se manteve a parte em que Torgal defende um plano mais ousado do Ministério da Saúde para o Outono e Inverno e se pede uma "coragem forte" para mudar os planos seguidos quanto ao tratamento das patologias não Covid. Ora, estas ideias - com os cortes cirúrgicos introduzidos (os sublinhados) - passam a entroncar bastante bem na mensagem comummente passada pela comunicação social: o sector público não dá conta do recado e alguém tem de tratar das outras patologias que estão a ser deixadas sem tratamento. Algo precisamente contrário ao que o médico disse.

4 comentários:

Tavisto disse...

Muitos se lembrarão o quão sovado foi Jorge Torgal quando, na qualidade de porta-voz do CN de Saúde Pública, defendeu um confinamento mais suave aquando da primeira fase da epidemia. Sucede que, muitos dos que então preconizaram a solução adotada, vêm hoje responsabilizar o Governo pelas consequências ao nível da saúde e de economia, resultantes da solução encontrada em consonância com o Presidente da República. Mais, querem aproveitar-se das consequências de uma solução de consenso para impor o sistema nacional de saúde colocando privados e setor social no mesmo patamar do SNS. Chama-se a isto fazer política suja, porque o fazem de forma dissimulada evitando discutir em profundidade os resultados duma mudança de paradigma, nomeadamente saber-se quanto iria custar ao País e quem iria pagar a fatura.

João disse...

Concordo consigo e subscrevo.

Anónimo disse...

Censura da polícia política das elites, que incluem supostos jornalistas dos media escritos, faladas e televisionados.
Era interessante conhecerem-se os nomes dos "beneficiários" do saco azul do BES, para entender meia dúzia de coisas estranhas.
Como,por exemplo, manter diretores de informação durante mais de 10 anos.

Anónimo disse...

Não é o tempo dos tais directores que determina o enfeudamemto ideológico dos meios de comunicação
Os boys ao serviço são facilmente descartáveis. Ou então passam para outra, como o Barroso.