segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Ajuda e lucro

A direcção do jornal - como, aliás, a do jornal Público - parece alinhar com a agenda de Marcelo Rebelo de Sousa: imiscuir-se nos assuntos governamentais e dar azo a uma intervenção musculada em véspera eleitoral. 

A nota reproduzida é sibilinamente aldrabona ao transmitir a  ideia de que Marta Temido não quer, por teimosia ou preconceito ideológico, a "ajuda extra do sector privado". Vários jornalistas do mesmo jornal já o afirmaram no programa Expresso da Meia Noite.

É aldrabona, primeiro, porque nem se trata de uma ajuda. 

Seria sempre uma intervenção em que o sector privado iria lucrar com o pagamento pelo Estado por fazer o que é sua obrigação e que apenas não é cumprido porque, mais uma vez ao longo de décadas, os Orçamentos de Estado subfinanciam o SNS. É como se os privados investissem sabendo que a sua capacidade instalada (como o recente Hospital do grupo Cuf em Lisboa ) vai ser - por certo e sem risco - preenchida e paga por fundos públicos. Mas os jornalistas do Expresso nem se lembram de discorrer sobre um efectivo e atempado reforço dos meios do SNS. Porque se assim fosse, será que não sairia mais barato aos cidadãos - e não contribuintes - portugueses?

Como disse uma vez, a ainda administradora do grupo Luz Saúde, Isabel Vaz (ex-Espírito Santo, hoje grupo Fidelidade, de accionistas chineses) não há nada mais lucrativo do que a Saúde, depois da indústria do armamento (ver em baixo). Naquela altura, era a inauguração do Hospital da Luz.


Depois, porque parece ter passado desapercebido uma chamada de atenção recente da ministra da Saúde em conferência de imprensa. Em resposta a uma pergunta da Rádio Renasncença sobre se o Governo não pensava fazer parcerias com o sector privado - por que será que as boas almas se encontram? - Marta Temido respondeu que o SNS ainda tinha oferta disponível, mas que se faltasse sempre se poderia recorrer "a figura da requisição" do sector privado. Mas talvez nesse caso o sector privado já não esteja tão interessado em prestar essa "ajuda extra", não é? 

É estranho como tão depressa a comunicação social se tornou um canal de transmissão de mensagens tão orientadas e interesseiras.

5 comentários:

Anónimo disse...

A POLÍCIA POLÍTICA dos oligarcas em ação!

Fernando disse...

Já estão a ganhar....todos os que fogem de consultas adiadas no público e que não podem esperar, o que vão fazer? Desde que o público ande entretido com o COVID, maravilha para os privados. Já agora esse testemunho é infeliz mas explica muita coisa.

Anónimo disse...

Nem mais.

Anónimo disse...

Há gente que acha que uma ida a um hospital privado equivale a uma estadia num hotel de 5 estrelas, com tratamento personalizado e umas bolachinhas "gourmet". Não vão esperar muito para terem o que merecem.

Anónimo disse...

O público não anda entretido com o Covid. Quem nos entretém com essa linguagem são os agentes privadoS