sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Nós só queremos salvar o euro

António Vitorino e outros destacados dirigentes da social-democracia europeia puseram no papel o que muitos andam a dizer há longo tempo: “na sua forma actual, o euro não é viável a longo prazo”. Até aqui estamos de acordo, o problema vem a seguir.

Para salvar o euro, dizem, é preciso transformar o Mecanismo de Estabilidade Europeu (MEE) numa espécie de FMI do Velho Continente e completar a União Bancária.

Ora, estou muito menos preocupado em salvar o euro do que em garantir um futuro decente para a generalidade das populações europeias. Dar poder ao MEE para impor a vontade dos seus financiadores aos Estados com dificuldades financeiras (como faz o FMI), ou dar poder ao BCE para decidir arbitrariamente sobre o destino dos sistemas financeiros nacionais, até pode ajudar a salvar o euro. Mas não é isto que evita que a UE prossiga o seu actual papel de destruição dos Estados sociais de direito democrático na Europa.

Se o governo português está a pensar em abrir uma guerra com a Alemanha por causa da Declaração de Roma (como sugere Teresa de Sousa neste texto), espero que o faça por algo que valha verdadeiramente a pena. Se a preocupação é salvar o euro independentemente das suas implicações para as nossas vidas, deixem lá que saia de Roma um texto redondo e vazio. Já estamos habituados.

8 comentários:

Paulo Marques disse...

Espero que se engasguem com o euro.

Geringonço disse...

Deixemo-nos de ingenuidades...

É mais assim:

"Nós só queremos salvar o status quo do qual amplamente beneficiamos à custa dos mesmos do costume"

Jose disse...

«Estados sociais de direito democrático»

Traduzindo, na versão mais actual: Estados em que os cidadãos decidem pelo voto o que querem dentre os variados menus partidários sem que o saber-se quem paga a conta seja tema enunciado, para que não se lhes tolha a liberdade de escolha.

Anónimo disse...

Ricardo Paes Mamede num texto claro e directo.

"Ora, estou muito menos preocupado em salvar o euro do que em garantir um futuro decente para a generalidade das populações europeias. Dar poder ao MEE para impor a vontade dos seus financiadores aos Estados com dificuldades financeiras (como faz o FMI), ou dar poder ao BCE para decidir arbitrariamente sobre o destino dos sistemas financeiros nacionais, até pode ajudar a salvar o euro. Mas não é isto que evita que a UE prossiga o seu actual papel de destruição dos Estados sociais de direito democrático na Europa".

Venham mais postas assim

Jaime Santos disse...

Eu concordo consigo, o Euro é uma questão de somenos. Mas nada nos diz que o fim da moeda única seja um processo agradável. A experiência histórica com o fim de zonas monetárias ou com o abandono de taxas de câmbio fixas é tudo menos promissora. E, a não ser que se veja uma crise financeira monumental em Portugal como uma oportunidade de 'luta pela hegemonia', conviria que nos lembrássemos que cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém... A ser assim, a manutenção do projeto da moeda única deve ser defendida pelo menos até existir uma alternativa viável, coisa que de momento, nem vê-la...

Anónimo disse...

Esse ódio à democracia está - lhe entranhado no corpo nso é Jose?

Quase tanto como a choraminguice pegada e torpe em torno dos credores e dos agiotas.

Anónimo disse...

Um processo "agradável"?

É esta a palavra certa?

Já todos percebemos que o que nos espera não é nada "agradável". Mas a presente situação com a condução dos destinos da Europa atribuídos a estes vassalos com ares de prima-dona também é tudo menos "agradável". Ainda mais porque se vai agravar. Ainda para mais porque estão em causa princípios democráticos básicos que os europeístas redondos querem fazer esquecer. Ainda para mais porque o edifício concentracionário que pretendem construir apresenta fissuras cada vez maiores.

Sair duma prisão custa muito . Mas ficar eternamente nela custa muito mais. E só não tem esta opinião quem se amesenda com o carcereiro ou quem lucra com o sistema.

Anónimo disse...

O sistema está viciado à partida. É um facto e o domínio dos meios de informação pelo "regime" comprova-o.

Mas apesar desta constatação parece que tal não chega para alguns dos peões de brega.

Repare-se como se questiona já a própria democracia e o voto. Repare-se como já se fala em "menus partidários" com o intuito de os colocar em causa. Repare-se que de facto há diferenças e há opções diferentes. Repare-se que os diferentes partidos têm opiniões (publicadas) sobre como abordar a crise e sobre o "tal pagamento da conta". Um exemplo que agora está ma ordem do dia. Sobre os Offshores. Veja-se que há partidos que os querem para os motivos que se sabe. Há partidos que escondem transferências suspeitas. Mas há partidos que exigem outras soluções que possam contribuir para o desenvolvimento do país e para a distribuição da riqueza, à custa dos interesses criminosos dos tais trafulhas dos offshores.

Que se queira já "apagar" o "menu partidário" dá bem a ideia do projecto defendido pela tralha fundamentalista neoliberal. Perante a revolta dos povos ( e ainda só pelo voto) começa-se a pedir que se acabe com essa chinesice dos «Estados sociais de direito democrático»

Só não vê mesmo quem não quer ver