sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Camisas rasgadas e voz baixa

 

Por que está a União Geral dos Trabalhadores (UGT) tão irritada?

Quem reparar nas declarações feitas pelo secretário-geral da UGT, publicadas nos últimos dias, ficará com uma impressão de extrema insegurança e fragilidade dos seus dirigentes, ao pôr-se tão declaradamente em bicos dos pés. Será que, por detrás destes comportamentos, estará a discussão de uma nova forma de funcionamento da concertação social e, se calhar, de um mecanismo de aferição de representatividade das confederações com assento na concertação social? Ou apenas uma opção errada (a apostar já no bloco central), em tempos de alguma fricção no seio da coligação parlamentar de esquerda?

Senão, como se entende as atitudes da UGT?

Carlos Silva acha que o primeiro-ministro deveria primeiro receber as confederações signatárias do acordo, em vez de chamar a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), primeiro que a UGT. Carlos Silva dá uma entrevista em que diz que, se CGTP quer acrescentar uma adenda para redução do pagamento especial por conta - em que a UGT não foi tida nem achada - então tem de fazer o que a UGT fez: assinar o acordo que o Parlamento pôs em causa. 

Por que razão parece que o secretário-geral da UGT querer rasgar a camisa em público, se o Governo não lhe der atenção? Sobretudo quando se sabe que nunca se teve amor, exigindo-o por direito ou humilhando-se a ser a sombra do seu cão

Os dirigentes da UGT deveriam ter um pouco mais de prudência e não alinhar em versões do funcionamento da Comissão Permanente da Concertação Social (CPCS) que apenas visam afastar a voz mais crítica - a da CGTP - por acaso uma confederação sindical como a UGT.

O formato escolhido para o funcionamento da CPCS inclui, desde o seu início em 1984, várias entorses de governamentalização da concertação social. Primeiro, sendo a CPCS uma comissão do Conselho Económico e Social, ela é contudo presidida pelo primeiro-ministro que a convoca. Depois, esse formato permite que sejam aprovados acordos sem ser por consenso e com apenas metade de um dos lados. Pior: tem permitido que na comissão de acompanhamento da execução desses acordos, apenas tenham assento as confederações signatárias e não todas as presentes na CPCS, quando a CPCS é uma das comissões do Conselho Económico e Social.

Nesta governamentalização, a UGT tem desempenhado o seu papel privilegiado de central sindical bem comportada, com quem o Governo tem de aceitar alguma negociação. A UGT faz voz grossa àquilo que não é essencial, para alinhar em geral com quem não deve, por obediência político-partidária. Foi assim no acordo de concertação social de 2011 que serviu de base ao Memorando de Entendimento com a Troica e que foi alargado no de 2012, ainda com a sua assinatura. Nas reuniões, as suas opiniões são bem críticas - vidé actas da CPCS de 2009 a 2015 - mas depois, no final, tudo parece desvanecer-se e, por artes de acordos bilaterais que se desconhecem, acabam por assinar o que não devem, arrependendo-se depois - como aconteceu com o acordo de 2012 - que abriu a caixa de pandora para alterações profundas da legislação laboral e não criaram o emprego que se prometeu (2% a curto prazo e 10% a médio prazo).

Escreveu então o secretário-geral da UGT João Proença:
"Existiam duas formas de encarar a terrível situação em que vivemos: a fácil, que consistia numa atitude absentista sem apresentar contributos para a discussão e abdicando de propor alterações ou a mais difícil; a escolhida pela UGT, que consistiu num aprofundado e duro trabalho a fim de minimizar os impactos das imposições da Troica e assim, alcançar uma versão final do Acordo tripartido positiva para os/as trabalhadores/as portugueses/as”. “Este Acordo deve significar o fim da pressão exercida em relação à desregulação laboral e social e um compromisso bi e tripartido com vista a uma retoma real da negociação coletiva, elemento essencial para assegurar a conciliação entre o trabalho e a vida familiar e soluções negociadas para as inevitáveis mudanças que se avizinham”.
Viu-se. 

Bem pode Carlos Silva rasgar a camisa. Aliás, tal como fez muitas vezes João Proença ao ameaçar que não assinaria acordos se a sua opinião não fosse incorporada nos textos desses acordos. O certo é que os textos incluíram essas opiniões, mas a aplicação do texto ficou pelo caminho, sem que a UGT tivesse efectivamente rasgado a camisa, partido os pratos ou virado a mesa.

19 comentários:

Jaime Santos disse...

Conhece aquele ditado que diz que numa sala quem mais berra é quem tem menos poder? É mais ou menos a mesma coisa...

Anónimo disse...


A UGT foi criada precisamente para confundir e dividir os trabalhadores, a sua postura e´ a de conciliadora de classes.
A burguesia que tem governado o país tudo tem feito para destruir as bases orgânicas progressistas dos trabalhadores. Precisamente, PS, PSD e CDS, os mesmos que retiraram o articulado progressista da Constituição da Republica Portuguesa. Essa mesma gente criou a Concertação Social e outros mecanismos conservadores com a mesma finalidade, combater o Trabalho e favorecer o Capital. De Adelino Silva

Carlos Sério disse...

Afinal em que consistiu o acordo de concertação social alcançado pelo governo de António Costa?
De um lado temos as associações patronais representativas de 100% dos patrões, do outro, temos os sindicatos onde apenas a UGT, representativa de cerca de 20% dos trabalhadores, se prestou a assinar o acordo.
Nestas condições, onde cerca de 80% dos trabalhadores representados pela CGTP, estão em desacordo, como é possível considerar o acordo alcançado como um verdadeiro acordo de concertação social?
Não, chamem-lhe o que quiserem mas nunca se poderá chamar ao dito “acordo” entre os patrões, a UGT e o governo, um verdadeiro acordo de concertação social.
É uma mentira. É uma falácia. Uma falácia usada repetidas vezes pelo anterior governo de Coelho/Portas sem que alguma vez tivesse merecido a devida denuncia social.

Jose disse...

80% dos trabalhadores não se fazem representar por sindicatos. Ou serão mais?

Se a questão é a luta de classes melhor que o caso se resolva à batatada, e quanto mais depressa melhor.

Jose disse...

O acordo de concertação promovido pelo Governo só tem uma leitura: ajudem-nos a manter-nos no poder e deixem-nos dizer que chegamos a acordo.
No primeiro episódio houve negociação e efectiva compensação.
No segundo episódio há pura pedinchice/chantagem e cobardia do patronato.

Se essa cobardia vai ter a chancela formal da CGTP, será vergonha maior.
O que faz a UGT - exigindo decência - devia ser bandeira do patronato - escorraçando a comunada.

Unknown disse...

Pobre país que tem tanto farsante a fazer de conta que fazem politica e negociação. E o ar doutorar e tolo dos tudologos a quererem fazer de bons actores. Nesta palhaçada ao menos a esganiçada mor tem formação especifica para a representação. socrates estás perdoado, volta mais o resgate.

Anónimo disse...

Pobre país mesmo que tem esta coisa do secretário-geral da UGT a posicionar-se para o lugar do Saraiva da CIP

O ar doutoral e tolo ( confesso que não me agrada este tipo de linguagem mas é a usada por Cristóvão) de quem faz afirmações escritas no vento como se verdades fossem. Não há um mínimo debate,não há um único argumento. Apenas o repetir a indigência argumentativa lida em qualquer jornal do regime e colonizado pela extrema-direita.

Quanto à "esganiçada " aí em cima repetida, já se aconselhou Cristóvão a guardar os seus piropos para o seu próprio habitat

Anónimo disse...

Percebe-se o ódio de Jose aos sindicatos. Já por bastas vezes o tem manifestado. Os sindicatos são-lhe uma espinha encravada no goto. Nos tempos pelos quais resuma saudade estes eram proibidos e combatidos. Os patrões gostam de ter as mãos livres para explorar. A mediocridade comprovada dos patrões portugueses agrava ainda mais a situação.
Jose está dum dos lados da barricada. Está de forma consciente e desabrida a que de vez em quando salta o verniz desta forma patética.



Anónimo disse...

Como se entende esta frase

"Se a questão é a luta de classes melhor que o caso se resolva à batatada, e quanto mais depressa melhor"?

O verniz estalado com toda a certeza. A pirueta arrogante de quem, quando era novo teve aquele comportamento assaz pusilâmine perante a Revolução de Abril, uma Revolução tão generosa como pacífica? A tentativa marialva de se chegar à frente a afirmar a capacidade de "macho" que lhe falhou a 25 de Abril e que agora parece algo senil?

Mas há um outro lado da questão que ele tenta ilidir. O seu desconforto perante a situação presente.Mais do que isso, a sua impotência argumentativa e o seu apelo destrambelhado à "pancadaria" como método de resolver para o seu lado aquilo pelo qual o seu lado luta e quer. O aumento das taxas de lucro e a exploração desenfreada. Mesmo que para tal seja necessário um banho de sangue.

Anónimo disse...

Mas a irritação canhestra e destemperada de herr jose permanece no seu comentário posterior.

Agarra-se a tudo.

Naquela linguagem esdrúxula a lembrar o que Eça dizia de alguns seminaristas do reino, tenta recuperar a TSU. Esquece-se que ele ainda há pouco apoiava com toda a força a posição de Passos Coelho sobre o assunto, com o intento claro de dar uma mãozinha para o derrube da geringonça. Erro crasso de Coelho, que mostra a mediocridade que o anima, a comprovação que a luta tem benefícios e de que há males que vêem por bem.

Desamparado, desmemoriado, jose vem agora de novo dizer que no primeiro "acordo" houve negociação e efectiva compensação. Uma pirueta manhosa e que mostra de que é feita gente desta estirpe. Apanhada em contra-mão depois duma cena tão tão.

Mas a pirueta fica mais palpável com o que refere como o "segundo episódio" ( esta forma de dizer as coisas sem ter a coragem de o assumir de frente...).Mais palpável porque transparece ainda mais o desacerto e a raiva. Veja-se:"pura pedinchice/chantagem,cobardia do patronato, se essa cobardia vai ter a chancela formal da CGTP, será vergonha maior."

Alguém como jose qualificar a posição da CGTP como o faz significa pela certa a justeza da posição desta central sindical.

Alguém como jose elogiar a posição da UGT da forma como o faz revela a trampa que esta "central" é.

E mostra como um tipo, patrão, convidado e pago como perito patronal para a área laboral, assumia o seu papel de perito e de bandeira do patronato:
"escorraçando a comunada"

Eis a luta de classes em todo o seu esplendor.
Mas a "batatada" não será efectuada nos moldes simiescos solicitados por este jose

Anónimo disse...

FRASE DO DIA

“Conheço bons patrões. Um exemplo? Eu.”

CARLOS SILVA EM ENTREVISTA AO OBSERVADOR

Jose disse...

Cuco, deixa-te de pieguices.
Se tanto apelas à luta de classes agora impressionas-te com a 'batatada'?
Estás à espera de quê? Que haja uma classe que desista para te dispensar da Revolução?
Ou há concertação ou batatada e o resto é treta.
Esta meia/dose de uma e outra coisa é o pântano, o esterco geringonçoso.

Anónimo disse...

Mais uma vez se estranha este apelo ao cuco. Quem será o cuco que aflige as noites e perturba as digestões do tipo das 1 e 09?

E esta forma coloquial de tratamento significa exactamente o quê? Uma educação aprimorada, uma indisposição momentânea, um assumir o não assumido?

Não interessa mesmo nada. Porque há um outro motivo para o das 1 e 29 se expor assim a um novo puxão de orelhas- está irritado, particularmente irritado. E foge agora para o esterco.

"A pirueta arrogante de quem, quando era novo teve aquele comportamento assaz pusilâmine perante a Revolução de Abril, uma Revolução tão generosa como pacífica? A tentativa marialva de se chegar à frente a afirmar a capacidade de "macho" que lhe falhou a 25 de Abril e que agora parece algo senil?"

Confirma-se

Anónimo disse...

Postas as coisas no devido lugar passemos para o assalto que o sujeito das 1 e 09 quer dirigir.

O seu bruááá tenta agora justificar o seu apelo à batatada. Como um vulgar fedelho em busca duma justificação para o levantar da murraça e do cacete assume o papel do provocador barato e banal.

Assume o papel atribuído não raras vezes ao lumpem. Curioso é que quem agora assim se posiciona é...um patrão.

Anónimo disse...

Tentemos elevar o nível do debate sem nos determos nas fanfarronadas patéticas com cheiro a produtos de decomposição orgânica, nem no ódio cristalino à dita geringonça.

O aqui exposto pelo sujeito da 1 e 09 é uma prova do desespero destemperado que atinge assim estas coisas.

Perante a explosão de grandes contradições associáveis a um capitalismo mergulhado numa crise a que nem sequer tem valido a fé inabalável no autocontrolo do mercado e na teoria dos ciclos sucessivos,o neoliberalismo puro e duro, assente na globalização, terá atingido os seus limites? Serão necessárias outras receitas, velhas ou renovadas?

Aqui, desta forma pesporrenta, pateta, embonecada com jactâncias pindéricas, o sujeito da 1 e 09 mostra, um tanto desajeitadamente é certo, o que lhe vai alma. E apela um pouco extemporaneamente à "batatada".

Mais uma

Anónimo disse...

Três notas:

-A luta de classes, que antes era negada por um perito patronal,é assim agora desta forma grotesca reconhecida pelo mesmo. Inexoravelmente continua o seu curso tal luta.
Mas o palco desta processa-se onde os seus protagonistas o queiram e de acordo com os seus objectivos. E não ao baile mandado de qualquer provocador de meia-tigela.

-A forma destrambelhada usada pelo sujeito em causa oculta mal o seu apoio ao que é Carlos Silva e ao que é a UGT. Contribui para a caracterização dum e doutro. Um mimo esta dos patrões quererem ser Carlos Silva e Carlos Silva assumir-se como patrão.

-Um dos motivos para o destrambelhamento do das 1 e 09 provavelmente também estará relacionado afinal com o tema do post. A UGT desmascarada. Passos Coelho apanhado em contra-mão no pote da TSU, a trair a sua base de apoio e a acabar por levar uma banhada. E o sujeito que o andou a confortar, a ter que dar estas piruetas bem grosseiras.

Jose disse...

Cuco parte para o narcisismo e cita-se nas atoardas que criou!

Dedica-te aos aplausos que é onde te chega o talento.

Anónimo disse...

A propósito dessa cena canalha da batatada

“ Trump representa o que a extrema-direita sempre representou para os conservadores tradicionais: as questões são as mesmas, o tom é que é umas oitavas acima.”
Manuel Loff, hoje, no Público

Anónimo disse...

Agora o das 14 e 52 atira para debaixo do cuco os aplausos a Carlos Silva.
Uma fuga que confirma o já dito.
E depois escrevinha sobre o talento, atordoas, narcisismo.

O coitado ainda não terá percebido que isto não é mais do que um esgar a dizer nada? A petulância gratuita e impotente da batatada agora travestida em talento ou à sua falta?

O silêncio e o medo. Silêncio pelo que se discute. Medo que se discuta, inclusive aquilo que começou a discutir.

Vem de longe. E que se volta a confirmar. Por isso o seu gosto peculiar pelo esterco.