quarta-feira, 16 de setembro de 2015

É tempo de rolarem cabeças...

... de quem está à frente da direcção de campanha da coligação de direita PAF.


Tudo isto tem um ar de plano. A coligação de direita entra na campanha demarcando-se da troika. Hoje estamos a crescer e a criar empregos porque nos opusemos ao que a troika queria. Para culminar esta argumentação, Passos Coelho vai ao debate principal da campanha e repete - várias vezes! - que foi o Governo Sócrates quem chamou a troika. "A austeridade foi trazida pela crise que trouxe também a troika" (1:50). O objectivo foi "recuperar a autonomia financeira e política também" (3:20). Passos agita a cabeça, ar desagradado, quando Costa ataca Passos por julgar que a economia cresceria cortando no rendimento (12:25). Que é "uma mistificação que o Governo acha a austeridade que é virtuosa"(17:00), como se houvesse um "entendimento perverso" de que Passos gosta de "aplicar ao país austeridade, medidas difíceis, redução de rendimento [porque] são virtuosas". Ou que o PSD nunca negociou com a troika o Memorando de Entendimento (21:40). Portas acompanha.

Claro que haveria inúmeras provas a mostrar que Passos Coelho mente:

Fonte: INE - reporte de défices excessivos

1) Sobre o carácter expansionista da austeridade: Basta ler o programa do Governo. Era a tese da poda ("Há que desbastar"), das dietas ("Há que cortar nas gorduras"). O pedido de ajuda externa, e os termos em que foi concedido pelas instituições internacionais referidas, constitui o ponto de partida fundamental para a reformulação das nossas finanças públicas. Assim, o Governo garante o cumprimento atento e rigoroso do Memorando de Entendimento."


"O Governo entende que a austeridade na despesa do Estado, sujeita a modelos de eficiência, virá a constituir, a prazo, uma alavanca para a melhoria da produtividade, para o incremento do potencial de crescimento e para a criação de emprego." "O cumprimento dos objectivos e das medidas previstas no Programa de Assistência Financeira (...) terá precedência sobre quaisquer outros objectivos programáticos ou medidas específicas, incluindo apoios financeiros, benefícios, isenções ou outro tipo de vantagens fiscais ou parafiscais cuja execução se venha a revelar impossível até que a sustentabilidade orçamental esteja assegurada." "Assim como a Europa foi central na transição para a democracia, será agora central para a transição para uma economia mais robusta, mais aberta e mais competitiva. As reformas estruturais previstas neste programa de governo lançam as bases para um novo ciclo de prosperidade e crescimento no médio e longo prazo". Era o espírito de 2011 a falar...

Vítor Gaspar defendeu várias vezes esse carácter expansionista da austeridade: aqui. Álvaro Santos Pereira defendeu que as medidas do pacote laboral de julho de 2012 (corte de retribuições, de dias feriados, de férias, de descanso compensatório) iriam embaratecer o trabalho em 5% e, com isso, pôr o emprego a crescer 2% no primeiro ano e 10% a médio prazo, embora Passos Coelho defenda agora que Portugal só será competitivo no espaço de "uma ou duas legislaturas" (debate com Costa, 23:00). Ah, mas isso é diferente: o pacote laboral foi uma medida estrutural e não foi austeridade...

2) Sobre a vontade que a troika viesse: tantas coisas podem ser chamadas:
a) Passos Coelho, Catroga e os seus despudores;
b) A sequência de factos no início de 2011 que começa com as pressões da Alemanha e França para que Portugal peça a "ajuda externa". Depois, com as alterações de rating da banca nacional que vira lixo, dificultando o seu financiamento externo e, com isso, - tal como aconteceu com a Grécia - criando dificuldades ao Estado português. A reviravolta na opinião dos banqueiros que passam a pedir que venha o FMI. E a reviravolta na imprensa económica especializada que, de uma visão negativa do FMI, passa a achar que é o melhor que nos pode acontecer.

Ora, a ideia parece ser: se as provas surgirem, Passos Coelho aparecerá a dizer: "Sim, quisemos, porque se estava em bancarrota". E lá regressaremos ao debate de 2011. Lá se conseguia enfiar Sócrates no meio da campanha, associando o PS a um detido com pulseira electrónica.

O problema é que é uma jogada muito arriscada. Porque:
1) o que fica na cabeça das pessoas é que Passos mentiu no debate com António Costa, o qual foi gravado por 3 canais de televisão, visto por 3 milhões de pessoas...;
2) que Passos Coelho apenas sabe dizer "Bancarrota, Sócrates, bancarrota, Sócrates";
3) e que tudo parece um jogo de ilusionista para que todos esqueçam os 4,5 anos (repito: 4,5 anos) de governação da coligação de direita e, sobretudo, os seus magros resultados.

6 comentários:

Dias disse...

Continua a fazer-se de sonso, não assumindo o que na realidade fez e que é do conhecimento público (já não falando da mentiras da campanha de 2011).
Depois da fase preparatória - campanha especulativa consertada pelos “amigos”, escreveu a Sócrates, incentivando a entrada do FMI; mais tarde, gabou-se de que o governo iria além da troika.

Hoje arma-se em cordeirinho: “nenhum governo afecta rendimento das pessoas por prazer”, quando de facto foi essa a sua escolha.

Jose disse...

Esta conversa é do mais eleitoral, naquilo que eleitoral significa de desprovido de outro sentido que não o de baralhar e ganhar votos.

A crise de 2011 é a crise que Medina carreira anunciava há anos.
O que a crise financeira de 2008 fez foi antecipar o que necessáriamente decorreria de uma política suicidária.
Quando Durão Barroso disse em Abril de 2002 que 'os socialistas deixaram o país de tanga' foi a festa socialista, em que sempre 'há mais vida para além do orçamento'.
Agora que não podem repetir a sua máxima favorita, manipulam números para projectar orçamentos que se equilibram diminuindo a receita e acrescendo à despesa.
Por alguma razão a economia faz parte das ciência sociais, leia-se à medida do autor.

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
Não sei se o entendi quando diz: "Esta conversa é do mais eleitoral". Pressupus que falasse do post, da minha conversa. E em conformidade respondo:

Se é assim como diz - e acho que o Governo e Passos Coelho partilham dessa ideia - então não haverá mal em assumir todo um programa assente nas virtualidades da austeridade, mesmo que fossem medidas duras. Foi isso que foi feito de 2011 a 2012/13... Mas o problema da cepa das pessoas é que - perante o imediato (ganhar votos) - tentam camuflar o estrutural. E como em 2014 já se tinha desistido de mudar o país, havia que gerir a conjuntura. E isso implica negar o passado recente.

É mau? Sem dúvida. As pessoas deveriam ter estrutura.

Jose disse...

Caro João
O simples facto de serem referidas ‘as virtualidades da austeridade’ é seguro indicador da menoridade de uma classe política para quem o fazer o necessário é adiado até que uma crise grave justifique uma tal tirada de retórica (entre o eufemismo e a antítese, diria) .
Todos os PECs foram e seriam nada mais que austeridade. O memorando limitou-se a acabar com uma palhaçada (tudo voltaria rapidamente à ’normalidade) e passar a abordar problemas que levarão décadas a resolver porque sempre foram não só ignorados como potenciados.
E sendo elementar princípio de gestão que projectos de longo prazo requerem financiamento de prazo comparável, toda esta discussão é uma cretinice se referida ao sufoco de 2011.
Mais grave ainda é ver economistas, que se dizem sérios, empenhados em criar modelos piramidais para escamotear que o passado é irrepetível e que o futuro é exigente, reintroduzindo uma estúpida competição sobre quão depressa regressaremos ao paraíso.
Basta atentar na exploração da variação do PIB, como se não houvesse riqueza fictícia, e riqueza sustentável e até potenciadora de enriquecimento.
Dito isto sobra o facto que refere, de que ‘as pessoas deveriam ter estrutura’. Estrutura é palavra sem conteúdo quando a retórica domina e a comunicação social é mero amplificador dessa retórica.

Anónimo disse...

40 Anos e´ muito tempo, mas a cobiça do homem e´ de uma dimensão incomensurável.
Registe-se que o homem português sempre conviveu com o pouco ou quase nada.
Hoje, numa de boa-fé, ate´ e´ capaz de perdoar a quem o espolia, tortura e por vezes mata. E quem não perceber isto, pode saber remar, mas a canoa não sulca as aguas.
Ate´ sabem, vejam la´…dançar o Vira de Pancas!
Ah…o Malhadinhas do Aquilino Ribeiro…esse e´ que era homem as direitas, quando dava pro torto tinha porras o teso!
Agora amocham…Amocham…Amocham. Ate falam de economia. Uns falando de Marx acompanhado de Ricard, Smith, Keines ou Piketi e outros mais…intitulam-se de catedráticos e, e, e… mas o país continua nesta Miséria Franciscana.
Tenhamos coragem, assumamos a responsabilidade de dar a volta a isto..! de Adelino Silva

meirelesportuense disse...

Foi -na linguagem deles em 2011/2012-, uma "enorme oportunidade de fazer, o que de outro modo não poderia ser realizado"...E isso eram -entre outros- os cortes das Pensões e dos Vencimentos dos Funcionários Públicos, a desregulamentação das Convenções Colectivas, uma certa forma de ajustar hoje, um pouco dos "desmandos" do Período Revolucionário...Por isso, eles pretendiam -e pretendem, esperem pela volta- ir ainda "muito para além do exigido pela Troyka"!
Não sei se no Luxemburgo, o valor de 1.500 Euros tido como necessário ao Rendimento Mínimo dos Cidadãos, foi consequência de algum PREC'L -Período Revolucionário Em Curso (algures no tempo) no Luxemburgo- desconhecido por mim.