quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Um esquerdista, uma publicação radical

[P]orque é que o centro-esquerda, de modo geral, não beneficia das falhas dos seus adversários políticos? A principal razão reside na sua absorção das políticas do centro-direita, que remontam há quase três décadas: a aceitação de acordos de livre comércio, a desregulamentação de tudo e, na zona euro, das regras orçamentais vinculativas e da versão mais extrema de independência do banco central no mundo inteiro. Eles são completamente indistinguíveis dos seus adversários (...) Quando a zona euro foi construída foi com alicerces neoliberais. Lembro-me de um proeminente político social-democrata que tinha orgulho em saber de cor todas as regras do Tratado Europeu. Ninguém questionou se as regras faziam sentido (...) Será que os partidos de centro-esquerda teriam um melhor desempenho se se voltassem de novo para a esquerda? A eleição de Jeremy Corbyn como líder do Partido Trabalhista britânico pode anunciar essa mudança. Mas a Grã-Bretanha não está vinculada ao consenso da zona euro. Aí basta apenas uma mudança de governo para mudar a política, enquanto na zona euro seria necessária uma alteração do Tratado - ou, mais provavelmente, uma revolução. Está longe de ser evidente que os atuais partidos de centro-esquerda vão aparecer como agentes de mudança. Eu suspeito que não.

Wolfgang Munchau, editor associado na área de assuntos europeus, Financial Times (traduzido no DN).

4 comentários:

Unknown disse...

Na zona euro só tem restrições, quem não consegue pagar as suas contas. Os países estáveis fazem o que lhes aprouver e ninguém contesta seja o que for!!

Jose disse...

Conclusão: sem política monetária não há discurso político de esquerda que possa ser levado à prática.

A gestão eficiente do capitalismo ofende-lhes as meninges ideológicas.
A revolução socialista já não a querem fazer.
Têm que dar ares de estarem a construir o socialismo enquanto não destroem o capitalismo; para isso precisam dos vai-vem da política monetária, o dá e tira de conquista/inflação, e nada de globalização, com livre comércio à medida e controlo de capitais quanto baste.
Um capitalismo com moeda e aprisionado em fronteiras são serviços mínimos de socialismo
O costume.

Jaime Santos disse...

Um pequeno País com a nossa estrutura produtiva não beneficia de uma moeda forte, e esta é a melhor razão para sair do Euro, com ou sem orçamentos equilibrados. Note-se que a Dinamarca e a Suécia, países muito mais desenvolvidos que nós, não aderiram ao Euro porque os seus eleitorados quiseram manter esse atributo essencial da soberania que é a emissão de moeda. Mas por uma vez tenho que concordar com o que é dito acima. De facto, sem política monetária independente, não podemos seguir outro modelo económico que aquele que nos é imposto pelo sítio onde essa política é decidida, ou seja Frankfurt. Portanto, votar para quê (esse mau hábito socialista), se as escolhas de política económica, que são centrais ao processo de escolha democrático, estão decididas a priori, como bem diz Munchau? Agora o que é curioso é verificar-se que muito pouca gente na nossa Direita parece preocupada com a perda de Soberania e Autonomia que isto implica (onde já vão as dúvidas que o CDS tinha em relação ao processo de construção europeia, hoje seriam classificadas de socialismo, aposto). Ou seja, a Direita Portuguesa tornou-se simplesmente pró-capitalista, mais nada. Como de costume, a única coisa que o Conservadorismo quer conservar são os privilégios (e se possível, expandi-los).

Anónimo disse...

Bom post.


«Eu suspeito que não», também.