Face ao estaleiro ideológico que tomou conta de Portugal e da Europa, a esquerda tem de arrojar um projecto político verdadeiramente alternativo com viabilidade para poder ser concretizado. Um projecto que defina à partida o tipo de sociedade e de economia que ambiciona para o país, estabelecendo, posteriormente, os meios e os instrumentos mais adequados para o atingir.
Renato Carmo, Os fins da esquerda, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Setembro de 2013.
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3 comentários:
Infelizmente os meios vão faltando...
Renato Carmo: "para se atingir uma sociedade mais igualitária, uma economia (sustentável) mais produtiva e uma democracia mais representativa e participativa, a saída do euro significa o melhor caminho, ou pelo menos, aquele que reúne as condições mais plausíveis para se concretizarem os fins defendidos"?
JCG: claro que sim, e por um conjunto relativamente vasto de razões. No curto prazo, essa saída é o único caminho disponível para o fim da "austeridade". Pode trazer problemas, sem dúvida, mas a maior parte desses problemas só poderá ir sendo resolvida à medida que apareça. Não é leal, numa discussão, exigir aos defensores da saída que prevejam na minúcia o que deverá ser feito para cada dificuldade que venha a emergir. Mas é pelo contrário leal sublinhar, contra os defensores da "permanência crítica" (como o Francisco Louçã e o Bloco "party-line"), que a permanência implicará incontornavelmente, no curto prazo, a continuação na estrada "austeritária", mais retórica "crítica", menos retórica "crítica".
No longo prazo (e deixando aqui de lado os aspectos "patrióticos" do problema, isto é, os relativos ao "quicking away the ladder", aspectos que todavia também me parecem cruciais), a saída permitirá o rompimento com o "consenso de Bruxelas", ou "consenso de Maastricht", que é condição preliminar ao retomar de políticas económicas keynesianas: de "keynesianismo de esquerda" ou de "keynesianismo de centro", isso logo se verá, e dependerá do jogo político em cada país. Em todo o caso, saímos do universo ideológico/mental "água doce", o qual produz políticas económicas necessariamente de direita, mesmo que, por hipótese, o Bloco ou o Syriza estivessem/venham a estar nos governos nacionais adentro da Eurolândia.
Se a direcção do Bloco não compreende isto, então: a) ou a referida direcção faz um "refreshing" urgente de teoria económica, ou b) a esquerda política portuguesa não-PC está mesmo perdidinha de todo, e não há mais nada de nada a fazer com ela. "RIP"...
Para os "vossos" princípios, meios e fins. Quando o jornal/revista é de direita já não pugna pelos princípios jornalísticos. Quanto coerência...
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