As eleições alemãs foram marcadas pela vitória, perto da maioria absoluta, da CDU de Merkel, por um ligeiro crescimento do SPD, pela derrota da esquerda, com a descida do Die Linke, que perdeu mais de um quarto dos votos, e mesmo dos Verdes, mais social-liberais do que outra coisa. E já nem falo da colonização ordoliberal do SPD, que não é de agora. Perante isto,
perante o reforço dos dois partidos da alternância sem alternativa, agora juntos de novo no governo, a derrocada dos liberais, sempre positiva, é um detalhe. No fundo, creio que as eleições alemãs traduzem politicamente o desenvolvimento socioeconómico desigual na Zona Euro, em que aqui tenho insistido: se depender da maioria de uma Alemanha que se sente com força, nada mudará ou mudará o que tiver de mudar para que tudo fique na mesma.
A verdadeira mudança, a ocorrer, não será desencadeada à escala europeia, ao contrário do que insistem muitos europeístas. Terá de ocorrer pelas periferias, país a país, ali onde a crise económica e social se faz sentir com uma intensidade impar e onde o esfarelamento das soluções políticas convencionais é plausível a prazo. Mais tarde ou mais cedo, aí será eleito um governo que tenha a coragem de um acto soberano democrático, recusando a chantagem austeritária e desobedecendo às regras europeias que bloqueiam tudo menos o neoliberalismo. Aí
sim, as coisas começarão a mudar na escala de que a Europa ainda é feita, por contágio político e por acção inconsciente das forças económicas.
O melhor é então agir sem esperar pela Alemanha, como diz o Daniel Oliveira, agir como se tudo dependesse dos que aqui vivem, sem esquecer as articulações possíveis com outros na mesma situação, mas sem ilusões sobre a sobreposição da escala das solidariedades
mais ou menos abstractas com a escala onde ocorrerão as mudanças concretas.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
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3 comentários:
Hein? Desculpem, mas cá para mim é mais assim:
http://www.inacreditavel.pt/?p=20576
Além de que
"Esta eleição, saindo do primarismo das análises feitas maioritariamente desde ontem, tem alguns dados importantes que não podem ser ignorados. Desde logo existirá agora no Parlamento Alemão uma maioria de Esquerda. Sim, que a vitória apontada a Merkel foi tão real que a Direita perdeu de facto as eleições. Um segundo facto que não pode ser ignorado é que o conjunto dos partidos que defende o fim do Euro tal como ele existe hoje alanca quase 15%, só não tendo uma maior importância real por o AfD (partido de Direita Euro-céptico) ter ficado a alguns milhares de votos da barreira de entrar para o Parlamento. Ter quase 15% de eleitores Alemães a não querer esta moeda única não pode ser ignorado.
Com estes resultados a única razão pela qual não haverá um Governo sem Merkel na Alemanha é o triste facto do SPD preferir um entendimento com a Direita do que com outros à sua Esquerda. É muito relevante (e ainda mais preocupante) que a imprensa internacional dê mais credibilidade à entrada dos (literalmente) Neonazis do Golden Dawn para um futuro Governo Grego do que à possibilidade do Die Linke (até mais moderado do que os autóctones PCP e BE) vir a integrar uma coligação com o SPD.
Estas eleições correm o risco de se tornar históricas. Não porque Merkel tenha sido massivamente apoiada, mas porque na sua sequência (e depois da desilusão com Hollande) se pode dar o enterro definitivo da Social-Democracia Europeia, com a antecipada grande coligação SPD-CDU/CSU. Não é compreensível para ninguém de Esquerda que o SPD, herdeiro de Schröder, tenha mais facilidade em se aliar com a CDU/CSU de Merkel do que com o Die Linke, herdeiro de Oskar Lafontaine, ex-Ministro das Finanças de Schröder e ex-líder do próprio SPD."
http://quandooslobosuivam.blogs.sapo.pt/43349.html
Lá como cá, os sociais-democratas - não praticantes - aliam-se preferencialmente com a Direita.
Depois choram lágrimas de crocodilo e queixam-se que as pessoas não os apoiam.
Deitam-se com o Diabo mas não querem acordar com ele.!
Assim não há dúvida que os sinos devem repicar pelo enterro da social democracia europeia.
O SPD ganhou as eleiçöes de 1998 por causa da estratégia do líder Oskar Lafontaine de afrontar directamente a CDU de Kohl.
Mas como Lafontaine era mesmo Social-Democrata, o partido näo o nomeou para Chanceler, ficando "apenas" como Ministro das Finanças do inerranável Schröder.
Descontente com a viragem à Direita do SPD e do Governo SPD/Verdes, Lafontaine saiu e fundou o WASG, que depois co-fundou o Die Linke.
Entretanto o inerranável Schröder coligou-se com a Merdkel num Bloko Zentral, e o SPD caiu nas eleiçöes à bruta, e ainda näo recuperou nem metade do que perdeu.
Agora parece que vai voltar o tal Bloko Zentral, o que vai PASOKizar o SPD, logo oas notícias para o Die Linke!
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