sexta-feira, 1 de março de 2013
Voltar a tentar?
Leio Teresa de Sousa, no Público, há para aí um par de décadas e lembro-me dos anos que andou a prometer amanhãs europeus e globais que cantam e a saudar a esquerda que abdicou do essencial do seu programa, da sua identidade, nesses dois processos de imbricada construção política neoliberal. Agora, como a sua crónica no Público de ontem ilustra, e perante óbvios fracassos, continua a projectar sobre o passado e o presente as mesmas ilusões. Começa por Delors e Mitterrand, pela forma como chegaram ao estatuto de santos europeus, graças primeiramente à viragem que operaram, no início dos anos oitenta, de um ambicioso programa de esquerda para um programa de rendição à pressão dos capitais através da austeridade. Esta foi justificada, em última instância, pelos compromissos com a integração europeia, já que continuar um programa socialista transformador obrigava a rupturas com as tendências liberais aí inscritas. Teresa de Sousa acha que se evitou uma catástrofe com esta viragem. Eu acho que, na realidade, a catástrofe tem aí um marco político essencial: desemprego de massas continuado, liberalização e desregulação financeiras, o grande e muito duvidoso contributo da elite socialista francesa para a história económica do período por via nacional e europeia. Toda esta rendição activa culmina em Maastricht, o início da história de uma aberração monetária que subalternizou a França, um dos países que mais tinha e tem a ganhar com uma moeda muito menos forte. Segundo Teresa de Sousa, a “desindustrialização” francesa só pode agora ser travada através de reformas que Hollande, declarado da mesma escola dos tais santos europeus, irá tentar implementar. Neste contexto monetário e com estas regras europeias, as tais reformas serão sempre prejudiciais ao mundo do trabalho e não travarão o processo, como anteriores impulsos “reformistas” indicaram (ai como eu anseio por um tempo onde esta palavra ganhe de novo o cunho progressista que já foi o seu, incluindo na sua declinação estrutural…). Ser sério na ideia de travar a tal “desindustrialização” obriga a romper com uma parte da história política da social-democracia francesa desde os anos oitenta e com a europeização e globalização realmente existentes para a qual também contribuiu.
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3 comentários:
Não faria mais sentido apelidar a essas "reformas" de contra-reformas? Ou seria um abuso de linguagem?
Qualquer dia os partidos que querem liberalizar ainda mais o mercado de trabalho vão ser chamados partidos reformistas.
Apesar da França não ter escapado ao processo de desindustrialização ainda é um colosso industrial, o problema é que nós não sabemos por quanto tempo mais vai resistir.
Invocar o nome de Jacques Delors como um adepto deste status quo degradante não me aparece correcto , pois ele tem sido um dos opositores da política actualmente seguida na Europa , tendo já proferido por diversas vezes que a Europa caminha para o abismo.
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