quarta-feira, 20 de março de 2013

Três notas sobre Chipre e a banca


11-   O que se tem passado em Chipre por estes dias ilustra eloquentemente como funciona a banca. Os depositantes são, antes de tudo, credores do seu banco. O que está aqui em causa não é um imposto, mas sim o custo da falência de dois gigantescos bancos e a forma como os credores são afectados.

22- Os depositantes não são credores como os outros. Dada a função social da banca enquanto guardiã das poupanças, o Estado garante parte dos depósitos em caso de falência. Foi essa garantia – da qual depende a confiança dos depositantes – que foi colocada em causa pela troika ao penalizar os depósitos abaixo dos 100 mil euros. A confiança que já não é recuperável aconteça o que acontecer.

33- Os depositantes devem ser os últimos a serem afectados por uma falência bancária e, mesmo assim, de forma limitada graças às garantias públicas. No caso cipriota, não se percebe porque é que os outros credores não são afectados prioritariamente, nomeadamente todos os empréstimos inter-bancários (ver os diferentes azuis do gráfico abaixo, retirado deste artigo). A única justificação é o poder de cada credor face ao poder político.


4 comentários:

João disse...

Imprudente montar o argumento com base numa proposta que não procedeu. Com efeito, o que tem que se perguntar é - se a taxa incidir apenas sobre os depósitos mais avultados, fará sentido/será justa?

Manuel Pinto disse...

Mas isto é assim tão complicado?
1- Os bancos cipriotas estão falidos! (Como estavam os bancos da Islandia e Irlanda, devido ao colapso do esquema de piramide/D.Branca que montaram, na ausencia de regulação. E estão também os bancos ingleses, só que ninguem disse que o rei vai nu...)
2 - O Estado cipriota (e o Islandês e irlandês... e o inglês) assumem que pagam a factura (pois os governantes são "funcionários dos Bancos). Mas também estão falidos (ou ficam) para salvar os bancos (Irlanda, por exemplo. A Inglaterra também mas ninguem reparou ainda) e portanto precisam de dinheiro do BCE.
3 - O BCE/UE diz que salva os bancos cipriotas mas, em vez de requerer que o estado cipriota passe a poupar mais ("austeridade") para conseguir pagar a divida (uma desculpa esfarrapada), exige que os depositos nesses bancos levem um "haircut". Isto porque não vale a pena impor austeridade ao Estado cipriota pois está mais que falido. E assim a factura passa para os depositantes bancarios. Qual é o problema de "sacar" 10% de quem tem depositos superiores a 100k?? A mim sacaram-me 25% do meu salario e nunca tive (nem vou ter) 100k na minha conta bancaria... A medida "cipriota" é muito mais justa (o erro foi propor o saque a depositos abaixo dos 100k, mas este erro é propositado, para assim a medida ser recusada e não serem acusados de estar a castigar os ricos >100k).
Se decidiram apostar numa economia baseada em serviços financeiros (legais mas imorais!), onde os depositos chegaram a ser 800x o PIB, têm que assumir os riscos. Tivessem apostado na agricultura, por exemplo... Quiseram ser um grande casino e agora que assumam o risco.

O que está aqui em jogo é de outra dimensão, mas não é a esfarrapada "quebra de confiança" nos bancos. Isso é conversa da tanga e os ignorantes jornalistas só conseguem perceber essa ideia primitiva. O que está aqui em jogo é a aposta na economia de casino. E onde o risco pode atingir uma dimensão fatal para o capitalismo é na Inglaterra, que está a levantar todo este turbilhão de noticias e contra-noticias para espalhar a confusão e ver se passam despercebidos. Foram e são os melhores especialistas nesta tactica! A Inglaterra é o Chipre a uma escala 1.000 vezes superior. Os seus bancos também estão falidos (o RBS teve um prejuizo de 5,6biliões de Libras em 2012, quase tanto como o buraco do CHipre todo) e em vez de pedir ajuda ao BCE, puseram-se a imprimir dinheiro. Isto só funciona no longo prazo se os os Europeus do Euro se afundarem primeiro. Logo, aqui está a guerra: será que os ingleses conseguem confundir os europeus (essencial/ os alemaes e franceses) e levá-los a cometerem hara-kiri? Ou estes aguentam firmes e serão os ingleses a estoirar como uma sapo cheio de ar?
O resto não passa de cortinas de fumo e truques de palco para alimentarem os jornais e TVs.

maria povo disse...

obrigada manuel pinto!aqui está uma visão muito acertada sobre esta embrulhada toda!!!
jornalistas?? copy paste...

José Machado de Castro disse...

O que está a acontecer aos bancos cipriotas alerta para a situação de fragilidade da banca em Portugal, em que os depósitos dos clientes constituem a fonte mais importante de financiamento dos bancos (mais de 40%). Os empréstimos doutros bancos (agora quase só do BCE) são 36% do financiamento, mas os capitais próprios são menos de 8% (em Junho de 2012). Não será de exigir o aumento dos capitais próprios da banca para 30% ou mais?
José Machado de Castro