quinta-feira, 7 de março de 2013

Hegemonias


O eurodeputado Vital Moreira, que no Parlamento Europeu tem por mérito próprio grandes responsabilidades na área do comércio internacional, alinhou anteontem no Negócios com o principal dogma da nebulosa neoliberal, de que o seu ordoliberalismo é parte integrante desde a primeira reunião da Mont Pelerin Society: as virtudes da “liberalização do comércio e do investimento” são mesmo irrestritas, segundo afiança. O protecionismo dos mais fortes traduz-se em novas rondas de desarmamento comercial transatlântico, quando, na realidade, o armamento já é residual. Promete-nos ganhos de crescimento e de emprego que ninguém  pode autorizar e que a experiência passada não justifica, muito menos para aqueles países que precisam de política comercial e cambial para poderem gerir a abertura que mais convenha ao seu desenvolvimento. Estou a pensar, sei lá, em Portugal. Ainda se lembram das promessas feitas aquando da nossa adesão (integrados na UE) à Organização Mundial do Comércio em meados dos anos noventa?

Imagino que, do alto do Consenso de Bruxelas, Portugal seja uma pequena e irrelevante região. Nos cálculos das fracções dominantes do capital transatlântico, ancoradas nos países centrais e que segundo muitos estudos de economia política internacional têm acabado por guiar os destinos da integração, nem se fala. No fundo, confirma-se que a integração europeia pouco mais é do que um espaço livre-cambista que manieta de forma desigual os Estados e que tem por efeito consolidar o capitalismo alemão na Europa, na sombra da hegemonia do capitalismo norte-americano.

Entretanto, na mesma área política e no mesmo jornal, o Negócios, mas infinitamente mais realista, temos João Pinto e Castro, uma das poucas vozes que aí começa a desafiar este consenso europeu que não nos garante qualquer futuro. Perante passividades e tacticismos de resultados duvidosos ou perante a convicção genuína numa qualquer possibibilidade supranacional robusta, que corre o risco cada vez maior de só gerar impotências desesperadas e humilhações flagrantes, haja quem ouse pensar o impensável que poderá tornar-se inevitável. Até na direita neo-conservadora surgem sinais de abertura intelectual para considerar o euro e os seus danos, de José Manuel Fernandes a João Carlos Espada, mas a direita não tem de ter pressa porque as grilhetas do euro garantem todas as vitórias que contam na economia política.

2 comentários:

Anónimo disse...

De Vital Moreira nada de especial se pode esperar.Afinal, ele como outros (por ex Pina Moura )fazem parte da chamada elite mas daquela que tendo chegado onde queria (ele era deixar a sua irrelevância...e saltar para um lugar pago principescamente ) atraiçoa( ou talvez não...) nobres ideais (falsamente) declarados seus.
Entre tais pessoas e as cobras ou as minhocas( com perdão destas) não existe diferença digna de nota.
Que se atafulhe e se engasgue no mar das suas imbecilidades.

Alvaro disse...

"Ainda se lembram das promessas feitas aquando da nossa adesão (integrados na UE) à Organização Mundial do Comércio em meados dos anos noventa?"

E ainda há quem se lembre das promessas ao:

a) Aderir à CEE;
b) Arrancar o mercado Único;
c) Aderir à Moeda Única?
d) Ratificar o Tratado de Lisboa, o tratado final que iria resolver todos os problemas da UE.

Nã, cada passo em frente na integração europeia representa um passo atrás para Portugal.

Estes 27 anos de CEE/CE/UE conduziram Portugal para a beira do abismo. Com Passos & Gaspar dá um prodigioso salto em frente.