Quem é que transformou o défice no objectivo último da política económica? Agora que os défices dos países da UE atingem, em média, os 6% do PIB, onde fica o Pacto de Estabilidade e Crescimento? Será que a Comissão vai processar toda a gente por não cumprir um «pacto estúpido» (Romano Prodi)? Enfim, valem-nos os economistas que defenderam a privatização da CGD e da Segurança Social: «Permanece uma obstinação no gastar, gastar e gastar» diz o inenarrável António Borges ao Jornal de Negócios, à margem de uma conferência sobre «responsabilidade social» (deve ser uma piada…). Populismo de mercado no seu melhor.
Em que mundo é que vive esta gente? Será que ainda não perceberam a natureza da crise? Sigamos os seus conselhos. Com a receita fiscal a diminuir e as despesa a aumentar (efeitos inevitáveis da crise), Borges propõe o quê? Que o governo corte nas despesas públicas? No investimento público? Isto num contexto de uma crise de procura sem precedentes daria certamente bons resultados. Adicionar crise à crise.
O que fazer? Aumentar a protecção social, o emprego público na satisfação das necessidades sociais e acelerar a reconversão ecológica das economias. Deve ser a isto que Borges chama «gastar, gastar e gastar». Só um empregador, um investidor e um comprador de última instância, só os poderes públicos coordenados à escala europeia, é que nos podem tirar da crise. A UE tem de abrir rapidamente os cordões à bolsa. E, entretanto, convém não esquecer que o sistema financeiro dos principais países europeus está, segundo Wolfgang Munchau do FT, praticamente falido. É o que dá dar rédea solta aos Borges desta vida. Agora com responsabilidade social…Enfim, a especulação paga-se cara. A solução decente passa pela nacionalização e reestruturação do sistema financeiro. Um regresso ao futuro. É a única forma de evitar mais de uma década perdida à japonesa…
6 comentários:
Bem; como tou com pressa, só alguns apontamentos.
Ainda vai chegar o dia e os economistas aqui do fórum organizam um seminário, eu diria melhor, uma workshop!, sobre DESPESA! Porque é um conceito crítico,
pq se lhe perguntares, àquela ruiva de olhos azuis, o que andou a fazer hoje à tarde:
ela diz! gastei! fui às compras! fiz uso do carro eléctrico q o papá me deu!; estacionei num parque daqueles geridos pelos amigos do Presidente Costa; pedi poucos embrulhos, pouco pensei na Amazónia a desaparecer; e bebi o meu suco, ao lanche através de uma palhinha ecológica.!
Claro, meu queridos,
enquanto o papá sustentar;
não há-de fazer outra coisa senão gastar!
Papá, papá! Para o ano vou para Londres aprender Bioquímica - linda menina, deixa desgraçados morrer à fome! segue a tua vida!
Já trataste do papéis?
E Sócrates gania aos 80 anos... eu que não me fartei de gastar, gastar, gastar...
que foi feito de tanto gasto?
Inda não perceberam? Q a sola gasta? E qd "esta sola vai à vida é preciso haver guita para comprar uma nova?" Porquê? Porque a velha tá gasta; já não serve; e assim nem pedir consigo!
boa apresentação acima de tudo.
olhem os cartazes da manela, boa apresentação, belo cabeleireiro e tb já com call-center: são os gastos do PSD! (tb uma pequena ajuda para a retoma. ou não é assim?)
Quando refere "dar rédea solta aos Borges", imagino que se refere aos Borges economistas...., pois o que faz falta, e muita, neste mundo de "cinzentões", é dar mais rédea solta aos Borges .... o Poeta claro.
O mais grave ainda, meus senhores!; que é que aqui também ainda se aperceberam dos descrédito da situação a que chegámos. Os velhos economistas, como os novos, são meros papagaios de imitação de teorias que a história já deixou para trás. E isto vale tanto para um keynesianismo, como para um liberalismo, como para um tal vitalismo!
A política hoje faz-se pelo dinheiro! O Estado é um dos lugares onde se quer estar para garantir um rendimento fixo, e mais fixo agora, com a bonança das baixas de preços. O Estado hoje também contribui para a desigualdades de rendimentos; porque está a querer emular um jogo, o do mercado, estrutura essa que é ela mesma deficitária: então Estado-e-Mercado são os dois melhores aliados, hoje, no Portugal da crise. A banca endividou-nos, as construtoras encheram-se de €€, e o Estado javardou em cima de tudo isto pela colecta de impostos. A base fiscal também vai desaparecer. Como desaparece 1/3 na Irlanda; depois a fasquia vai ter de ser outra vez baixado: para os funcionários públicos, para os reformados, para os desempregados!
A dinâmica da dívida que nos trouxe cá é já na sua alma uma lógica keynesiana; mais despesa vais accionar o multiplicador; mas o multiplicador é um artifício matemático!; mas os senhores dizem que é uma política: pois é! É a política do deficit spending: das famílias, do Estado, das Empresas; ontologicamente o multiplicador está-se a borrifar para quem está a gastar! Mas que é q andámos a fazer nas últimas duas décadas?!
Andámos a construir um país com uma mega metrópole; um Norte ao deus de ará e um interior esquecido e vencido pelo cacequismo partidário. A restrição aproxima-se; não há saltos mágicos; uma coisa é a quântica, outra é a acumulação! Muita confusão se produziu por mal se entender estas duas. Pedir que não se repita o erro desta vez seria bom de mais.
A crise veio para ficar. Vai-se instalar. É gerível? O que não é gerível são os estádios, os parques, os centros comerciais, os lugares no estados, as 300 e muitas freguesias, os 10% de défice exterior!! isso não é que não é gerível; há muito tempo; e não se fez prospecção nenhuma!
Pois para finalizar, a filosofia iluminista continua a sua saga por encontrar o objecto quando o objecto há muito não se quer no lugar do sujeito. O objecto já se foi; não façam o sujeito ir correr atrás dele. Deixem-no; entregue; ao seu ser!
A frase "Os défices baixos são uma consequência do bom desempenho económico e os défices altos uma consequência de uma recessão aguda" aponta para uma irrelevância da política orçamental (que me recorda a falácia oposta da "equivalência ricardiana") que parece ser contrariada pelo resto do texto.
Quanto ao resto fiz um post em que humildemente procuro de algum modo responder a este post (e outros no mesmo sentido).
Fantástica receita para a crise: o Esatdo em tempo de crise garante a universalidade do emprego e das protecções sociais, mesmo à custa de um aumentosito do défice. Mas onde raio é que o Estado vai buscar o dinheiro. É que se não se pode baixar impostos porque o Estado precisa de se financiar, como diz o VM, com o crescimento das necessidades de emprego e social, o financiamento do Estado vai ter de aumentar. Sendo assim provavelmente o que é preciso é aumentar os impostos: aumentar o IVA, o IRS e o IRC, cancelar os reembolsos, tudo em nome da garantia de emprego e da estabilidade social. Onde essa espiral nos leva é que eu gostaria que alguém me explicasse.
Acho tudo isso um erro.
O Estado não se deve comportar como o senhor e dono de toda a economia. Todo o dinheiro que tem, vindo dos impostos de quem cria riqueza no país devem ser rigorosamente gastos, com todo o cuidado, transparência, justificando cada tostão. O Estado deve ser escrupuloso nos gastos e não esbamjador como é actualmente. Se não for para baixar impostos, porque isso causa muita comichão a boa gente, seja porque assim, com rigor, certamente que o dinheiro rfenderá muito mais.
Tenham vergonha e não pensem que o Estado é o Big Brother que cuida de todos. Equilíbrio é a chave e parece que os ex.mos srs. não o têm.
http://atexturadotexto.blogspot.com
www.mudarportugal.pt
http://mms-mudarportugal.blogs.sapo.pt
Caro João,
Além de limitarem a despesa os neoliberais desenvolveram a mais surreal das teses: a culpa da crise foi da existência de crédito, sendo que o grande investimento especulativo puro alavancado (tipo short selling) não é obviamente crédito para eles. Estou a tentar desmontá-los em dois textos:
http://tinyurl.com/dzu2vy
Abraço,
Carlos
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