O Bloco de Esquerda tem tido, de há mais de um ano a esta parte, sondagens
que apontam para uma possível duplicação dos seus resultados de 2005. Penso que o BE faz mal se porventura considerar isto como um dado adquirido: não é, de todo. Na hora dos constrangimentos tácticos virem ao de cima, nomeadamente os relacionados com a formação de um governo, o BE poderá muito bem acabar com muito menos votos do que as sondagens faziam prever… É que as pessoas querem sobretudo saídas e soluções, não querem apenas protesto (a não ser que estejam muito, muito zangadas…). Além de que, ao nível da esquerda radical, o espaço do protesto per se já está ocupado… e, portanto, para crescer e se afirmar, é necessário que o BE apresente alguma inovação política.
Por tudo isso, poderão ser eleitoralmente mais produtivas posições tais como as que Miguel Portas expressou ao i (18/5/09): “estamos claramente a preparar o Bloco para ser governo” e “recusamos pertencer a qualquer governo com esta liderança (do PS)”.
Mas é ainda curto: para capitalizar plenamente com o descontentamento entre os eleitores socialistas, sendo capaz de converter isso em votos e, posteriormente, em políticas de mudança, o BE precisaria porventura não só de clarificar se aceitaria apoiar um governo socialista com outra liderança (exceptuando Alegre, que está fora de jogo), já na próxima legislatura, mas também de fazer disso um tema central de campanha (à semelhança do que fez, de forma muito bem sucedida, o CDS, em 2002: “por um braço direito no governo”).
Sem isso, o Bloco Central e a abstenção poderão tornar-se as únicas vias de saída para os segmentos do eleitorado cansados da maioria absoluta mas desejosos de uma solução estável no parlamento, como a bipolarização crescente nas sondagens parece sugerir… No meu último artigo (11/5/09), apresentei algumas das vantagens de uma solução do tipo “esquerda plural”, caso os portugueses para aí apontem nas eleições. Parece que estou muito bem acompanhado: “se o PS não tiver maioria absoluta, a viragem que poderá ser útil fazer não é rumar ao centro nem, muito menos, à direita, mas sim à esquerda (Mário Soares, DN, 19/5/09)”.
Excertos do meu último artigo no Público, 25/5/2009: "Notas Soltas"
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7 comentários:
Algumas questões:
- as sondagens têm puxado sempre o BE para cima. creio que não terá havido nenhuma sondagem que desse o BE com menos votos que o PCP nas últimas duas ou três eleições e, uma por uma, o povo as contrariou;
- os jornais e as empresas que manipulam estes resultados, lá saberão porque o fazem;
- no dia em que o BE participar num governo com o PS, acaba;
"o BE precisaria porventura não só de clarificar se aceitaria apoiar um governo socialista com outra liderança (exceptuando Alegre, que está fora de jogo), já na próxima legislatura, mas também de fazer disso um tema central de campanha"Não podia discordar mais, a discussão central devem ser as políticas, as soluções políticas de compromisso com a população. Esse sim é o "ar fresco" na política, isso sim pode cativar as pessoas para a política...isto na minha opinião.
E para quê coligações? Alguém já pensou bem verdadeiramente na questão? É uma espécie de compromisso de partidos em que cada um cede bocado? Ou será que a dimensão do partido conta no nível de cedência? Afinal o tamanho também conta...
O Bloco esteve ao lado do PS no referendo do Aborto, na lei do divórcio, esteve ao lado de Cravinho no combate à corrupção...se um partido pode optar livremente por ratificar ou não as políticas de outros partidos porque há-de abdicar desse direito. Se a coligação não serve para condicionar isso, então serve para quê mesmo? Caso essa liberdade se mantenha numa coligação, então ela serve para quê? Só para dar "um ar" de esquerda a um partido que perde massa de esquerda?
Se existem dois partidos diferentes, é sensato assumir-se que existe divergência política "suficiente" para que sejam dois e não um.
Quando, e se, houver um PS que cative mais voto à esquerda, então que vá a eleições e volte a capturar o eleitorado da esquerda, não há que ter medo de perder eleitorado. O eleitorado não tem donos, ou pelo menos as mulheres e homens intelectualmente livres não tem dono.
Clarificação: Há menos de 1 ano tornei-me militante do Bloco. No passado já votei PS e uma vez no PCP, ou seja, não sofro de "partidarite", quero sim políticas de esquerda. Se o PS não as quer, eu quero estar com o partido que as queira, e se o Bloco um dia também não as quiser, também eu não quero estar no Bloco. No fim, o que verdadeiramente conta são as políticas, por isso colocar os "arranjos" políticos no centro do debate parece-me um erro crasso.
Concordo com o João Dias em terem de ser as políticas o centro do debate e não os partidos. Mas, também é certo que os partidos são o dispositivo que permite a concretização dessas políticas, de modo que é necessário prestar alguma atenção a isso. Na Galiza, em 2005, PSOE e BNG tiveram de fazer uma campanha em que se dizia (mas sem anunciar) que juntos poderiam tombar o dinossauro do Manuel Fraga. E isso foi que aconteceu. Ninguém que votasse BNG ou PSOE foi enganado. A coligação estabeleceu-se, mas perdeu força ao passo do tempo. BNG, que na Galiza é o que o BE em Portugal, veio afastar-se da "sua" política e aproximar-se à do PSOE. Deixou de ser uma força popular para tornar-se profissional do poder em mesmo muito pouco tempo. E em 2009 o bipartito sumiu. Agora governa um PP mais ultraliberal e espanholista do que nunca.
O importante são as políticas, sim, mas também quem as leva em frente.
Esse sinismo de "analista política" é algo que sempre me meterá muita impressão, tenho impressão, por mais anos que ande por aqui.
O André Freire até é capaz de concordar com a politica do partido em questão mas descarta qualquer possibilidade de acreditar que essa ideia de sociedade possa vencer.
Sucumbe perante a sua própria desesperança. É terrivelmente desencorajador esta visão do mundo.
É uma visão que reproduz o pior da política - o joguinho de cadeiras. Assim não André Freire, obrigado.
Zé
Quando um partido diz que para negociar alianças com outro este tem que mudar de liderança, é o mesmo que dizer que não quer fazer alianças com esse partido.
Ou será que estou a esquecer algum exemplo histórico que mostre o contrário ?
Haverá alguém no BE que aceitasse que lhe dissessem do lado do PS: "fazemos aliança com o BE, mas só se substituirem o Louçã".
Meus caros, deixem-me fazer um bocado de advogado do diabo.
Uma possível coligação para governar entre o PS e o BE pode significar uma boa oportunidade para modificar muita política no nosso país. No entanto, e como já foi referido, o BE corre o risco de se descaracterizar e dissolver ideologicamente. Resta saber até que ponto uma "meia mudança" (que é o máximo que eu acho uma coligação BE PS pode fazer) é capaz de ser eficaz na resolução dos problemas. Se não o for, é o adeus ao BE.
Sinceramente, sou a favor de uma governação sem coligações. Acho que precisamos de uma mudança o mais à esquerda possível. Mas até que ponto isto é algo realista, é algo que me preocupa. Façam bem as contas. O PS vai governar mais 4 anos em maioria relativa ou então em coligação, period.
Das duas uma. Ou isto melhora e fica lá mesmo os quatro anos. Ou então a nossa realidade começa mesmo por descambar e então tudo é possível. Mas chegará ? Será o suficiente para o BE conseguir se tornar governo ?
Pessoalmente acho que não. Meus caros, com tanto político pouco iluminado estamos destinados a abrir a caixa de pandora. Revolução, guerra civil. Venham as apostas ....
Não há duvidas que o BE é um partido social democrata.Pelo manos na cabeça de muitos dirigentes.É preciso tirar as teias de aranha que o BE e os seus dirigentes têm relativamente a outras forças de esquerda.A América latina(Bolívia,Venezuela,Equador,Uruguai,Chile,Paraguai,peru,honduras, Nicarágua,etc) são exemplo espectaculares de como ideologicamente diversas correntes de esquerda conseguem com determinação e unidade(sem teias de aranha) chegar a políticas de unidade e conseguem em alguns casos chegar ao poder e fazem políticas de esquerda.
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