Isto num momento em que se torna evidente, pelo menos na crucial área das políticas socioeconómicas, que os arranjos europeus forjados nas duas última décadas só acrescentam crise à crise – MCL que compare a evolução dos indicadores económicos e a dimensão da resposta europeia à crise com o que se passa do outro lado do Atlântico.
Antes de elencar algumas das perguntas urgentes em tempos de crise, a que o europeísmo acrítico não consegue dar resposta, gostaria apenas de lembrar a MCL as declarações de Marisa Matias, Rui Tavares e Miguel Portas. A esquerda socialista, o europeísmo crítico, não se deixa encerrar na categoria dos «eurocépticos» criada por MCL para efeitos de combate político. É a miopia do europeísmo feliz que pode bem destruir a UE:
Quem avançou para a moeda única com um orçamento federal residual – que representa hoje perto de 1% do PIB europeu – e sem possibilidade de emissão de dívida pública europeia, numa utopia, sem precedentes históricos, de Estado mínimo que só pode acentuar a elevadíssima polarização regional e social, aumentar a crise económica e, em última instância, minar o projecto europeu?
Quem criou um Banco Central Europeu independente do poder político democrático e com um mandato enviesado que sobe as taxas de juro ao mínimo risco de inflação importada e que demora uma eternidade a descê-las perante as forças da deflação que operam hoje à escala global num contexto de crise sem precedentes?
Quem aprovou um Pacto de Estabilidade e Crescimento focado na miragem pré-keynesiana do equilíbrio orçamental como um fim em si mesmo, que contribui para que as políticas predatórias de privatização e de subversão da provisão pública passem por naturais e inevitáveis e que, se for hoje cumprido, assegura o regresso da depressão?Quem dotou a Comissão Europeia de instrumentos e de vontade política para não fazer mais do que alargar a lógica da concorrência mercantil a um número crescente e potencialmente ilimitado de áreas?
De que forma é que o Tratado de Lisboa poderia inverter estas desgraçadas escolhas? A fé no inevitável progresso do «projecto europeu» não vale como resposta...
De que forma é que o Tratado de Lisboa poderia inverter estas desgraçadas escolhas? A fé no inevitável progresso do «projecto europeu» não vale como resposta...
17 comentários:
Diz-se que a Clara Ferreira Alves assina como "Fado Alexandrino" os comentários que faz nos blogues. Será verdade?
"Quem aprovou um Pacto de Estabilidade e Crescimento focado na miragem pré-keynesiana do equilíbrio orçamental como um fim em si mesmo, que contribui para que as políticas predatórias de privatização e de subversão da provisão pública passem por naturais e inevitáveis e que, se for hoje cumprido, assegura o regresso da depressão?"
Se me puder explicar de que forma é que o keynesianismo e constantes défices estatais, melhoram a economia e qualidade de vida da população, talvez até concordasse consigo
É que eu, ao contrário do sr. Keynes, ainda não consegui perceber qual o processo que permite ao Estado criar riqueza simplesmente aumentando as despesas, uma vez que todo o dinheiro que têm tira primeiro da economia produtiva (impostos) ou através dos défices (mais divida nacional) ou então imprime a diferença (taxando assim através de inflação).
As únicas nações que se podem dar ao luxo de fazer despesa estatal contra-cíclica são as que têm reservas e excedentes orçamentais. Só por aqui já excluímos uma boa parte delas, Portugal incluído.
A mim o homem parece-se mais com um mago ou alquimista do que um economista, visto que consegue criar prosperidade através do consumo e da despesa dos governos. Não estaremos a ver numa miragem keynesiana?
Caro,
A UE ainda tinha uma saída. Era preciso era substituir barroso pelo candidato certo:
http://tinyurl.com/cvsfo3
;)
Um abraço,
Carlos
Há um Fado Alexandrino mas não me parece que seja a Clara.
http://fado-alexandrino.blogspot.com/
Também escreve para The Braganza Motheres
Não sendo eu economista, pelo menos para já...parece-me que um entre os vários argumentos para o sr carlos é o de que o Estado pode garantir que esse dinheiro que vem dos impostos possa ser efectivamente despendido em consumo fazendo girar a economia. É a ideia do multiplicador keynesiano. Em armadilha de liquidez, o dinheiro com que as pessoas ficam não é usado para o consumo contraindo assim toda economia numa espiral negativa.
Algum economista a sério que me corrija se disse algum barbaridade...
Keynes explica, na sua teoria do paradoxo de thrift, que as recessões são causadas por uma falta de consumo e que se estimularmos o consumo a economia recupera. A crise actual é um perfeito exemplo da estupidez desta teoria. tomemos como exemplo a economia americana: a causa da crise não é falta de consumo, é precisamente o oposto. os consumidores americanos consumiram mais do que podiam e os bancos emprestaram a quem não podia pagar. Se tivessem produzido mais, consumido menos e poupado mais, nada disto estaria a acontecer. E depois, a ideia de que o Estado sabe melhor que os indivíduos como gastar o dinheiros que tira através dos impostos desses mesmos indivíduos e empresas, é simplesmente absurda. Se querem estimular o consumo, baixem os impostos.
"Se tivessem produzido mais, consumido menos e poupado mais, nada disto estaria a acontecer."
Se produzissem mais, estariam a produzir para quem? Quem consumia?
Os chineses?
Boa resposta, Luís. E o modelo de solução da UE à crise está viciado em qualquer caso http://tinyurl.com/csngjf
Carlos Santos
Então acha que a crise resultou de consumo a menos e poupanças a mais?
Deviam ter comprado mais casas, apesar de existirem milhões delas vazias sem compradores.
Deviam ter comprado mais a crédito, apesar de estarem afogados em divida.
Se assim fosse, não tínhamos chegado a este ponto, pois não?
Bastava continuar a consumir, consumir e milagrosamente a recessão acabava.
Agora vamos por o Estado a consumir em vez das famílias e empresas. O problema é só que o Estado consome com o dinheiro que tira primeiro deste agentes através dos impostos. não é possivel escapar das dividas, contraindo mais dividas, nem é possivel escapar de uma recessão desbaratando o dinheiro que resta
Eu concordo com o João nas suas críticas ao BCE. É necessário que o BCE convirja para o modelo da FED, dando prioridade simultânea ao crescimento e à inflação.
Caro Carlos,
apenas considero que a sua lógica tinha uma falha: não adianta produzir se não houver quem vender.
E não eram os chineses com os salários com que tiraram os empregos aos ocidentais que estavam em condições de desempenhar esse papel.
Em todo o mundo com poder de compra à partida houve uma forte compressão salarial.
O "crescimento" recente das economias foi feito à base de crédito, claro. Assim era possivel simular que a classe média mantinha poder de compra e anunciar niveis de crescimento presumivelmente desejáveis.
Deu no que deu...
" ... os consumidores americanos consumiram mais do que podiam e os bancos emprestaram a quem não podia pagar. Se tivessem produzido mais, consumido menos e poupado mais, nada disto estaria a acontecer."
Mas no caso de empréstimos bancarios apesar destes empréstimos proporcionarem um aumento do consumo, este consumo não é sustentado por um aumento real do poder de compra, de rendimento liquido disponivel; este empréstimo tem um custo, ao contrario por exemplo de um aumento dos salarios, ou das pensões de reforma. Para que este aumento de consumo faça sentido, parece-me, ele tem de estar ligado a politicas redistributivas dos rendimentos. Assim me parece ...
Talvez em lugar de produzir mais , produzir melhor..Melhores bens de consumo , mais caros , mas mais duradouros e pagos a pronto. Lembrei-me , por exemplo , dos móveis de boa madeira que passavam de geração em geração , ou de roupas que não pareciam um trapo depois de 2 lavagens. Ou das casas com 80 anos que dão menos problemas que algumas com 20. Claro que as modas tinham de ir á vida e com ela a publicidade.
Tenho no meu Blogue uma votação, para escolha da melhor estação de radio, gostaria de receber o teu voto.
O link do Blogue é:
http://trocaletrastexo.blogspot.com/
João,
Eu deparei-me recentemente com um texto que sugeria que nada havia a mudar na forma como a economia descrita é pensada. O valor das chamadas heterodoxias é uma mais valia a retirar destes tempos:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/depois-do-neoliberalismo-keynes-etica.html
Sobre uma das respostas da MCL:
http://ovalordasideias.blogspot.com/2009/04/o-agravamento-fiscal-extraordinario.html
A politologia está para a análise política assim como as colunas de má-língua estão para o social-croquete. Que profundidade há a esperar de politólogos? Tragam de volta os bons historiadores - eles têm a percepção necessária da evolução das sociedades, não se limitando às superficialidades da política.
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