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A experiência ensina-nos que na academia há sempre quem prefira recorrer a métodos que podemos designar por «extra-científicos» para evitar debates que agora são fundamentais e para manter e difundir convicções que agora são obsoletas. Essas convicções suportaram todos os idealismos de mercado. Estes últimos são inofensivos e até podem ser intelectualmente estimulantes se não se desse o caso dos economistas que os defendem serem particularmente afectados pelo que Schumpeter designou por «vício ricardiano», ou seja, pela tendência para a prescrição de políticas e de soluções institucionais a partir de saltos mortais que se iniciam em pressupostos irrealistas sobre as dinâmicas socioeconómicas e acabam em propostas liberais com resultados quase sempre catastróficos.
Felizmente, a crise pode acelerar a tendência para que a economia, enquanto objecto de estudo e campo de inevitável e instrumental experimentação, deixe de ser monopólio dos que alinharam com uma «ciência esquálida», manipuladora e claramente enviesada do ponto de vista ideológico. A necessária perda de monopólio da «ciência esquálida» poderá vir, entre outros, do crescente interesse nas outras ciências sociais por temas económicos que a economia dominante tendeu a descurar: os fundamentos institucionais da economia que determinam quem se apropria do quê e porquê, a relação entre a diversidade das instituições e a diversidade dos hábitos e comportamentos humanos ou a necessária compatibilização de uma multiplicidade de fins no campo da provisão. Economia, economia política, filosofia social, sociologia ou antropologia económica. Chamem-lhe o quiserem.
De qualquer forma, há quem continue apostado em discutir a história das ideias económicas ou os actuais fundamentos das políticas públicas no campo da provisão. São os temas de dois cursos de formação abertos a todos. Porque os temas económicos são demasiado importantes para serem deixados aos economistas esquálidos e porque uma das formas de superar os défices de discussão no nosso país passa por democratizar a discussão. Não percam.
1 comentário:
Que pena não ser feito em Coimbra... Ainda por cima com tantos docentes de cá.
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