domingo, 9 de setembro de 2007

Eutanásia do Rentista

Martim Avilez do Diário Económico acha que «juros baixos tornam o desafio mais simples (...) juros altos empurram o Governo para decisões difíceis e puxam pela criatividade dos empresários - que precisam das exportações para sobreviver».

Discordo totalmente. Juros altos, no actual contexto, apenas promovem os traços mais parasitários do capitalismo (para quê investir se posso ter uma taxa de remuneração alta esperando que o meu dinheiro frutifique com a simples passagem do tempo?). Uma política de juros altos dificulta o investimento capaz de modernizar a nossa estrutura produtiva, reduz a procura agregada, o rendimento e pode, em última análise, reduzir a poupança.

É uma orientação que vai contra aquilo que deve ser feito: estimular a economia, ter uma atitude mais tolerante em relação à inflação e assim enviar o sinal certo aos detentores de capital: vão trabalhar malandros!

Eutanásia do rentista chamou-lhe acertadamente Keynes. É evidente que para evitar o florescimento da especulação é preciso reenquadrar a actividade dos mercados financeiros. Keynes também propôs isso. Taxas e mecanismos de controlo e regulação. Já agora, é vergonhoso que não exista nenhuma edição recente da Teoria Geral em Portugal.

10 comentários:

NGC disse...

Caro João:

E se o "detentor do capital" não for um qualquer herdeiro e ao invés disso forem alguns milhares de reformados que pouparam ao longo de toda a vida para acrescentar algo à sua reforma? E se for um pai que poupa algum dinheiro para mandar o filho para a universidade? E se for um trabalhador por conta própria que poupa algum dinheiro quando tem mais trabalho para quando no futuro tiver menos trabalho? São estas pessoas assim uns parasitas tão grandes? É o João que lhes vai dizer - vão trabalhar malandros???

João Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Rodrigues disse...

Caro ngc,

Quais são os grupos sociais privilegiados pelas orientações da política e quais são os sectores que melhor são capazes de criar riqueza? Uma política que privilegia os credores oferecendo-lhes taxas de juro reais elevadas é uma política que acentua a estagnação económica e aumenta o desemprego e que em última instância põe em causa os mecanismos públicos que podem permitir mandar filhos para a universidade, pagar reformas e assegurar que ninguém fica sem rendimentos por estar desempregado.

Rouxinol disse...

"Já agora, é vergonhoso que não exista nenhuma edição recente da Teoria Geral em Portugal."

Eu comprei há pouco tempo uma 6ª tiragem de uma edição de 1982 da atlas. Não havia nenhuma mais recente, nem menos abrazileirada (que é algo que me irrita).

Cumprimentos

NC disse...

«Uma política de juros altos dificulta o investimento capaz de modernizar a nossa estrutura produtiva, reduz a procura agregada, o rendimento e pode, em última análise, reduzir a poupança.»
Concordo consigo se a fixação da taxa de juro for arbitrária e não a encontrada pelo equilíbrio de um mercado (verdadeiramente) concorrencial.
Mas não me parece que taxasd e juro elevadas sejam causadoras de queda da poupança. Se as taxas de juro sobem, a remuneração dos depósitos aumentam. Diria que taxas de juro mais altas induzem poupança uma vez que o prémio de protelação de consumo no tempo aumenta. Por outro lado, o aumento das taxas é um desincentivo ao investimento em títulos ("anti-especulativa", dirá você certamente) uma vez que o custo de oportunidade de investir em produtos com risco associado aumenta.

Lester Burnham disse...

duas notas,

i) Se é tão vergonhosa a falta de uma tradução porque não faze-la, ou desta vez espera-se pelo "mercado"?

ii) Quanto ao facto de ver o empresário como um gajo que ou investe ou mete o dinheiro a render juros esquece desde logo que o juro é o preço que quem investe paga para pedir dinheiro emprestado. Não considero o empresário um Deus à la Schumpeter, mas também não é o demónio que este blogue estranhamente precozina.

A. Cabral disse...

Que proporcao do rendimento dos pensionistas vem dos fundos de poupanca e pensoes? A grande fonte de rendimento dos pensionistas continua a ser a pensao do Estado. Assim sendo o investimento e crescimento economico sao as melhores receitas para o aumento dos impostos e das pensoes.

Contra o que dizem as equacoes do equilibrio geral, os detendores dos activos financeiros nao sao as familias. Sao uma identidade ausente nos modelos: os capitalistas e os intermediarios financeiros.

E mais, como a DECO tem vindo a avisar, o juro alto do BCE e das hipotecas esta' ainda por se traduzir em juros altos para os depositos a prazo e seguros do pequeno consumidor.

NC disse...

«Contra o que dizem as equacoes do equilibrio geral, os detendores dos activos financeiros nao sao as familias. Sao uma identidade ausente nos modelos: os capitalistas e os intermediarios financeiros.»

Os capitalistas são hermafroditas e eremitas? Acha que o dinheiro dos INTERMEDIÁRIOS financeiros lhes pertence? A Economia pode parecer não reflectir a realidade. Mas é uma ilusão. Na realidade ela vai mais fundo que o senso comum.

A. Cabral disse...

vai tao tao fundo, que atravessa o fisico, e' metafisica...

NC disse...

Pois. Às vezes exagera

;-)