Foi ontem anunciada uma mostra de arte do Hermitage em Lisboa. Precursora do futuro pólo deste museu em Portugal, esta exposição irá custar 1,5 milhões de Euros. Pareceu-me, por isso, pertinente publicar um pequeno texto (com alguns cortes) que escrevi para o Le Monde Diplomatique - edição portuguesa (nº4, II série), aquando do anúncio do protocolo com o Hermitage. Aqui vai.
Museus portugueses: um património rico mas subfinanciado
Hoje é reconhecido não só o papel da Cultura como criadora de riqueza - através do turismo e da promoção de industrias criativas -, mas também como promotora da educação e da inclusão social e territorial. [...]
Mas a criação de sucursais do prestigiado Guggenheim, a anunciada «deslocalização» do Louvre e do Centro Georges Pompidou ou a saga do Hermitage em busca de meios de sobrevivência, seja através do «aluguer» de obras da colecção, seja da criação de pólos ou de sucursais idênticas ás do primeiro, não pode deixar de agitar os meios culturais e de permitir uma série de interrogações.[...]
Teoricamente, trata-se de uma troca justa: os museus vendem a sua «marca», simplesmente, e/ou cedem obras em situação de reserva ou de «segunda linha», obtendo assim receitas que na maioria das vezes são essenciais à sua sobrevivência. Bom exemplo desta estratégia é o já referido Museu Hermitage de St. Petersburgo. Um dos maiores e melhores museus do mundo, vítima do sub-financiamento da era pós-soviética, procura outras fontes de receita que não o Estado, contornando também o facto de se encontrar numa região ainda razoavelmente marginal aos circuitos turísticos de massas.
Surpreendentemente, em Março de 2006, anunciou-se a criação em Portugal de um pólo do Hermitage, previsto para 2010, com o pomposo nome de «Centro Hermitage da Península Ibérica», antecedido da realização de exposições temporárias com obras da colecção daquele museu. Ainda sem localização definida ou orçamento anunciado, este centro foi apresentado como uma vitória da diplomacia portuguesa, que viria segundo as palavras da actual ministra da Cultura «(...) colmatar o facto de a colecção museológica portuguesa ser excessivamente nacional e 'pobre' do ponto de vista internacional» (DN, 21/02/05). [...]
Portugal contribuirá para resolver os problemas de sobrevivência do Hermitage, ao mesmo tempo que cede temporariamente património e paga elevados custos para surgir associado a outra grande «marca» de museus internacionais, desta vez em Washington no Smithsonian. Neste contexto, e com os anunciados cortes orçamentais para os museus portugueses (mais de 23% no orçamento global do Instituto Português de Museus) cabe perguntar: onde nos leva a irresponsabilidade da política governamental para a área dos museus? [...]
Sucede que, em nome do combate ao défice orçamental, os museus portugueses vivem hoje os mais difíceis dias das últimas décadas. À endémica falta de vigilantes que não raras vezes tem levado alguns ao encerramento parcial ou mesmo total, acresce a degradação acelerada dos edifícios, das museografias e das colecções (quem e com que meios restaura actualmente o património do Estado?).[...] Justamente quando se verificam esforços reais para incluir Lisboa nos circuitos das itinerâncias internacionais, como sucedeu com a apresentação da colecção Rau no MNAA, em 2006, anuncia-se que o corte orçamental obrigará a realizar não mais do que uma exposição por museu. Como afirmou recentemente Alexandre Pomar «Por cá, alguém se terá equivocado, e a aventura é chocante para museus mais pobres do que os da Rússia» (Expresso/ Actual, 20/17/07").
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3 comentários:
bom, mais do mesmo...
Cara irmã lúcia
"mais do mesmo" é um argumento demasiado esfarrapado.
Importa-se de sêr um pouco mais explicita?
Ou, também na cultura, "isto vai tudo dar ao mesmo", ou seja, "muitas bocas pouca parra"?.
Cumprimentos
Cara formiga bargante
quando é que você acaba de vez a escrever disparates? Se não entendeu aquilo que a "irmã lúcia" quiz dizer, então é porque não consegue mais... e contra isso, nada se pode fazer!
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