Discípulo de Ayn Rand, uma das mais radicais filósofas libertárias de direita, Greenspan foi a voz mais influente na condução da economia norte-americana nas duas últimas décadas. Soube, como ninguém, aproveitar a posição imperial hegemónica dos EUA para pugnar por uma política monetária pragmática que susteve todas a crises eminentes do modelo neoliberal.
Esta política, aliada a um keynesianismo militar e à instituição de mecanismos de redistribuição regressiva do rendimento e da riqueza crescentemente apropriados pelos mais ricos, gerou desequilíbrios socioeconómicos que vão revelando todas as fragilidades do modelo anglo-saxónico de capitalismo. Agora Greenspan olha para trás, preocupado com o facto de as políticas praticadas terem alcançado aquilo a que se propunham desde que Volcker decidiu subir, em 1979, as taxas de juro para níveis historicamente sem precedentes para, com Reagan, partir a espinha ao movimento laboral norte-americano por via, entre outros, do desemprego elevado então engendrado.
Por isso é de um cinismo atroz confessar não saber por que é que os salários não acompanharam o crescimento da produtividade e ao mesmo tempo alertar que «se o salário do trabalhador médio norte-americano não aumentar rapidamente nos próximos tempos, o apoio político ao mercado livre perderá muito do seu fôlego». Pois é. A legitimidade do capitalismo é sempre precária e o seu próprio «sucesso» ameaça a sua estabilidade. Seja como for, estou certo que Ayn Rand não iria gostar de tais conclusões. Pois não era ela que afirmava que o egoísmo é a única virtude humana e o capitalismo glorioso por permitir a sua máxima expressão?
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3 comentários:
João Rodrigues: «Greenspan foi a voz mais influente na condução da economia norte-americana nas duas últimas décadas»
Algum dos autores deste Blog, todos reconhecidos especialistas em economia, sabe para quem de facto trabalhava Greenspan?
Barry Morris Goldwater (1909 – 1998) cumpriu cinco mandatos como senador dos Estados Unidos pelo partido republicano e foi candidato à presidência nas eleições de 1964:
"Não vos parece estranho que estes homens que por acaso pertencem ao CFR (Council on Foreign Relations), e que por coincidência pertencem ao Conselho de Administração da Reserva Federal dos Estados Unidos da América, controlem em absoluto o dinheiro e as taxas de juro deste grande país sem a cumplicidade do Congresso? Uma organização em mãos privadas, a Reserva Federal não tem nada a ver com os Estados Unidos. " - Barry Goldwater, With No Apologies, page 231.
"A maior parte dos americanos não compreende de todo a actividade dos agiotas internacionais. Os banqueiros preferem assim. Nós reconhecemos de uma forma bastante vaga que os Rothschildse e os Warburgs da Europa e as casas de J. P. Morgan, Kuhn, Loeb e Companhia, Schiff, Lehman e Rockefeller possuem e controlam uma imensa riqueza. A forma como adquiriram este enorme poder financeiro e o empregam é um mistério para a maior parte de nós. Os banqueiros internacionais ganham dinheiro concedendo crédito aos governos. Quanto maior a dívida do Estado político, maiores são os juros recebidos pelos credores. Os bancos nacionais da Europa são na realidade possuídos e controlados por interesses privados." - Barry Goldwater
Algum reparo dos escribas deste Blog às palavras do senador Goldwater? Ou não fazem a mínima ideia do que é que ele está a falar?
Não percebo porque deveria ser de interesse geral que os salários acompanhem o lucro das empresas. Pelo contrário, vejo isto como um muito bom sinal: se os lucros de exploração aumentam, temos aqui um bom incentivo para a abertura de novas empresas :) Isso é muito desejável.
A propósito, estive a folhear o livro, precisamente nas páginas em que Greenspan refere a sua convivência com Ayn Rand. Imagens também. Muito bom. Recomendo a leitura.
O problema resolvia-se facilmente se voltássemos ao padrão ouro. Deixavam de ser necessários bancos centrais. Mas não é a esquerda que pugna pela existência de um banco central ? Contradições. Como se escreve no "Atlas Shrugged" da Ayn Rand a dada altura: quando chegar a uma contradição, verifique as suas premissas. Verá que algumas estão erradas.
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