Teixeira dos Santos declarou, durante o recente encontro dos ministros das finanças da UE, que «as águas do Douro não são turbulentas» (Público de Sábado).
Não sei se o ministro disse isto para acalmar os seus colegas, à entrada para uma viagem de barco pelo Douro, ou se pretendia dar um alcance mais metafórico à sua declaração. Vamos assumir a segunda hipótese, até porque esta está mais de acordo com o tom complacente do conclave face aos potenciais efeitos de contágio de mais uma crise do regime financeiro liberal: não se passa nada de especial, é preciso mas é controlar a inflação e assegurar o equilíbrio orçamental que a melhor política é sempre a ausência de política. Pois bem. Esqueceu-se o ministro que a reduzida turbulência das águas do Douro é o resultado da construção de um complexo sistema de barragens que permitiram regularizar o caudal do rio.
Nos mercados financeiros, desde há mais de vinte anos, que pouco mais se faz do que destruir barragens. Mas isto das metáforas não é para todos. Dito assim até parece que os mercados financeiros são tão naturais como o rio Douro.
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4 comentários:
Claro. Engenharia civil, engenharia social. Tudo a mesma coisa. Claro como água.
E a construção política de mercados financeiros liberalizados é o quê? Mas o meu ponto era esse: as metáforas são mesmo perigosas.
«E a construção política de mercados financeiros liberalizados é o quê?»
Deixar que os agentes interajam e decidam por si. Diria que é precisamente o oposto de engenharia social.
João:
:)
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