sábado, 4 de dezembro de 2021

"É este equilíbrio que os portugueses não querem perder"

 

Fonte: INE, Remunerações brutas com base nos valores salariais comunicados à Segurança Social

A frase foi dita, hoje, pelo primeiro-ministro António Costa, na assembleia dos autarcas socialistas:

O PS provou com a sua governação que somos capazes de governar com o devido equilíbrio, de recusar a austeridade, mas não comprometer a nossa participação no euro. De termos a ambição de irmos mais longe, mas ao mesmo tempo termos sempre os pés bem firmes na terra, para nunca darmos um passo maior do que a perna. E foi assim que efectivamente, ao longo destes seis anos, ano após ano, nós fomos provando que era possível aquilo que os outros disseram ser impossível. E sim, é verdade, aumentámos já 40% o SMN, mas não foi isso que afectou a competitividade das nossas empresas e hoje temos já as exportações das nossas empresas a representaram 43% do nosso PIB. Sim, é verdade, reforçámos o  investimento nos nossos serviços públicos: hoje temos mais 28 mil profissionais da Saúde do que aqueles que existiam no SNS em 2015. Mas também foi connosco - gostem ou não gostem -. que tivemos o primeiro excedente orçamental da nossa democracia em 2019. E é este equilíbrio que só o PS é capaz de manter e é este equilíbrio que os portugueses não querem perder.

O que o primeiro-ministro não disse foi que tudo tem sido conseguido mantendo "em equilíbrio" a estagnação económica do país, observada desde há duas décadas (!), a qual se tem reflectido na quase estagnação dos salários, mantida pela inalterada legislação laboral criada desde 2003 e que - claro está! - a subida verificada no SMN pouco influencia. 

E que essa estagnação ocorre ao mesmo tempo que se verifica uma progressão de sectores económicos com remunerações médias abaixo da média nacional, em actividades de serviços muito ligadas ao turismo e afins, arrastando para o fundo a produtividade do país, e permitindo explicar como é que Portugal tem conseguido níveis elevados de emprego (tão elogiados pelo Governo), embora de empregos de baixas condições contratuais e de baixos salários (ver Barómetro nº24 do Observatório sobre Crises e Alternativas). 

Por isso, as "nossas" exportações têm subido, mas a nossa dependência externa também. 

E por isso é que é esse "equilíbrio" que faz com que Portugal viva - e reviva sempre - o seu destino de há já quatro (!) décadas: quando quer romper o seu atraso, acaba sempre com a corda apertada na garganta, esganado pelos défices externos e dívida externa. E nesse capítulo, o PS não se tem diferenciado da direita. Tudo se tem mantido nesse "equilíbrio" de não se querer "comprometer a nossa participação no euro". 

Fica uma adivinha: Como é que um corpo anda quando está em equilíbrio? Resposta: desequilibrando-se ao levantar uma das pernas e provocando o passo...


3 comentários:

Anónimo disse...

Estes governos são patéticos, o grosso da política nacional é decidida lá fora, vem agora António Costa do Portugal dos pequeninos louvar o seu maravilhoso trabalho, isto de um governo que nem maioria absoluta tem, aqui está um primeiro ministro sem qualquer noção, já agora vale a pena perguntar porque é que o governo caiu que já ninguém se lembra...os partidos de esquerda exigiam mais dignidade penso que era isso...

TINA's Nemesis disse...

“não comprometer a nossa participação no euro” – Carrasco Costa

Se isto não diz tudo sobre o trágico pântano em que Portugal está metido há décadas, diz bastante!

Portugal é dos que mais perdeu com a sua integração na Zona Euro mas o Carrasco Costa quer que Portugal se mantenha nela!
Quem é que anda a ganhar com Portugal no Euro aqui nesta triste periferia europeia? A maioria da população não é de certeza!

Mais ladainha do neoliberal que se faz passar por socialista:
“António Costa afirma que tenciona formar um novo Governo mais curto e ágil.” - Público
Enfim, mais ladainha neoliberal para agradar a comentadores da treta e directores de panfletos de “referência”.

Nunca o vão ouvir dizer:
“O problema da habitação em Portugal é muito grave e tem que ser resolvido o mais depressa possível.”;
“A precariedade é inaceitável, as empresas e o Estado têm que providenciar condições trabalho e rendimentos para que o trabalhador possa exercer as suas funções em segurança e ter uma vida digna.”.

O europeísta Costa julga-se muito esperto, julga que consegue manipular um país com ladainhas que contam um país cor-de-rosa muito satisfeito com a governação do Partido “Socialista”, julga que somos todos parvos!
Que a pasokização do Partido "Socialista" se reinicie!

Anónimo disse...

O objectivo da presidência da comissão europeia falhou, foi preterido, agora e mais uma vez está comprometido com um Portugal progressista e próspero é assim a espuma dos dias da vida deste tipo de políticos. Os portugueses têm de ser mais exigentes.