Os maiores fogos de sempre na Sibéria; incêndios descontrolados na Grécia, Itália e Turquia; enormes cheias na China, Alemanha e Bélgica; temperaturas próximas dos 50ºC no Canadá… A noção de que a crise climática se agrava de ano para ano é cada vez mais irrefutável. O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), só veio confirmar esta realidade e dar-lhe contornos mais precisos, baseados no melhor conhecimento científico disponível. Os impactos da crise estão a aumentar, ultrapassando inclusive as piores projecções (...) Esta crise não foi criada por todos de igual modo. Os 10% mais ricos do planeta são responsáveis por cerca de 50% das emissões anuais. Já os 50% mais pobres emitem menos de 10% das mesmas. A crise climática é hoje indissociável da crise da desigualdade económica, causada pelo triunfo do neoliberalismo nas últimas décadas. Nenhuma delas pode ser resolvida em separado. À luz do que a ciência climática indica, é urgente uma transformação profunda da economia e da sociedade (e não apenas uma mera «recuperação», para que tudo volte a ser como era antes da pandemia). Para isso, a economia terá de estar necessariamente sujeita à ecologia, cujas conclusões nos indicam que actividades humanas poderão ser mantidas e a que escala. E essa mesma economia terá de trabalhar para o bem-estar e a prosperidade de toda a população – e não apenas da pequena minoria que nos conduziu à beira do caos climático.
Excertos do editorial, da autoria de Luís Fazendeiro, no Le Monde diplomatique - edição portuguesa de Setembro. Boas leituras.
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