João Miguel Tavares aproveita o regresso de férias para partilhar com os leitores do Público a extraordinária descoberta que fez na sua viagem familiar pela Floresta Negra alemã: aí vive-se melhor do que em Portugal, vejam bem. Aproveita para se referir com nostalgia às promessas de convergência ilimitada dos anos oitenta e noventa, as do cavaquismo e quejandos.
Acontece que essa convergência limitada foi feita antes do euro, quando o país ainda tinha alguma margem de manobra, algum espaço para o desenvolvimento, como se diz na literatura.
O drama é que essa margem de manobra foi em última instância usada para nos trancar num grande sarilho, ou seja, num arranjo monetário desenhado a pensar nos interesses do capital financeiro (bancário-industrial) do centro, em particular alemão. Um arranjo, obviamente acompanhado pela liberalização financeira total, que nos retirou instrumentos de política preciosos para o desenvolvimento. Numa economia monetária de produção, o euro foi decisivo. No nosso caso, foi para o pior, naturalmente: estagnação, divergência e preferências adaptativas.
Tudo o resto é moralismo económico, ou seja, pura declaração de princípios liberais, com consequências invariavelmente imorais.
7 comentários:
É muito interessante, mas quantos anos o país teve de governação PS desde o 25 de Abril de 1974?
E já agora se não for pedir muito, quantas vezes o PS mandou o país para a bancarrota e chamou a troika? Se calhar foi o Passos Coelho que os chamou...
João Miguel Tavares, um caso de alpinismo social.
João Miguel Tavares deve estar convencido que é muito inteligente, e que é essa a razão do porquê ele ser presença assídua na televisão e de ser cronista do jornal de “referência” Público.
Tavares é um admirador confesso de Pedro Passos Coelho. Para um tipo que aprecia a ideologia da meritocracia acho estranho o Tavares ter como ídolo uma pessoa com uma carreira profissional dúbia como Passos.
O que seria do João Miguel Tavares sem o caso Sócrates?
Será que o Tavares teria a proeminência que tem na comunicação social e rendimentos, especulo eu, bem acima de um jornalista comum se o caso Sócrates nunca tivesse acontecido?
João Miguel Tavares foi um dos defensores da Troika e das políticas austeritárias do seu querido líder Passos Coelho.
Agora o Tavares escreve artigos com títulos como “Portugal, país que se vai extinguindo aos poucos”, para alguém que apoiou a agressão da Troika e governo PàF à maioria da população portuguesa, agressão que contribuiu tanto para dificultar a vida de tanta gente, incluindo de gente mais nova, gente que viu a capacidade de organizar a sua vida claramente diminuída acho que fica mal... mas o Tavares quer lá saber, os artigos que ele escreve não passam de exercícios de hipocrisia e demagogia, o que interessa ao Tavares é que continue a aparecer na televisão, escrever para jornais e numa versão cada vez mais virada para a extrema-direita.
https://tinasnemesis.blogspot.com/2021/08/joao-miguel-tavares-um-caso-de.html
Exacto, preferencias adaptativas que explicam a ausencia de uma visao de pais para la deste desastre europeu.
Tambem se lhe pode chamar "groupthink"?
Paulo, presumo que a primeira questão é de retórica, lembrando apenas que o político que mais tempo ocupou cargos políticos foi Cavaco Silva, o que é absolutamente irrelevante. Quanto à segunda questão, "quantas vezes o PS mandou o país para a bancarrota", o modo como formula a pergunta já induz e condiciona a resposta. As primeiras intervenções foram do FMI e não da troika. A primeira em 1977 e a segunda em 1983. O I governo constitucional tinha tomado posse em julho de 1976 e o pedido feito ao FMI foi em abril de 1977, 9 meses depois. Isto significa que a situação herdade do período pós revolucionário era complicada. Acresce que Portugal já tinha beneficiado de empréstimos de 14 países, com os EUA à cabeça, para evitar que Portugal se tornasse um país comunista. Os mercados das antigas colónias perderam-se. A injeção de dinheiro por via do setor bancário acabou por promover a fuga de capitais para o exterior. Em conclusão, dizer que 9 meses após a tomada de posse, num período político pós revolucionário e de grande incerteza, a intervenção do FMI se deveu à inépcia de Mário Soares, é não perceber o contexto. A segunda intervenção é em 1983, num governo de bloco central que tomou posse em junho de 1983, após 3 anos e meio de governos da AD e, mal tomou posse, imediatamente solicitou nova intervenção do FMI. Por isso, dizer que foi o IX governo constitucional, presidido por Mário Soares (embora com 12 ministros de PSD) que tem a responsabilidade do trabalho do governo anterior, é o mesmo que dizer que Passos Coelho tem a responsabilidade do trabalho do governo de Sócrates. Portanto, o Paulo tem que se decidir: se Passos Coelho não é responsável pela troika, então Mário Soares não é responsável pelo FMI. Um e outro herdaram situações de governos anteriores. Quanto ao post do João Rodrigues e sobre os constrangimentos da arquitetura do euro nas implicações económicas e financeiras no nosso país, o Paulo nada diz. Cumprimentos.
«...essa convergência limitada foi feita antes do euro, quando o país ainda tinha alguma margem de manobra, algum espaço para o desenvolvimento, como se diz na literatura.»
Discurso alternativo:
...foi feita quando os políticos não tinham que fazer leis sérias nem discursos realistas e, pela calada da madrugada, desvalorizavam salários e pensões e aumentavam juros, que sempre apresentavam como medida inevitável e que logo...maiiiis logo... seriam compensadas.
Agora, escravizados que estão ao corretês, cantam os amanhãs radiosos que em cada dia se ensombram.
O moralismo não é exclusivo do discurso da Direita, claro. Só que o moralismo da Esquerda não vem acompanhado do Poder, o que o torna impotente.
Se Marx falava no fetiche da Mercadoria, a Esquerda tem hoje o fetiche da soberania monetária. A História de Portugal está cheia de exemplos de como essa soberania não serviu para nada após os ciclos de endividamento, seguidos da reestruturação da dívida, acompanhados, naturalmente, por austeridade, porque nenhum credor aceita não ser pago na totalidade sem condições.
Mas basta olhar para a crise de dívida do final do século XIX, que o País levou 100 anos a debelar e que nos condenou à penúria e ao autoritarismo durante 48 anos...
E quanto à MMT, um dos seus criadores, Peter Bofinger, não se esqueceu de salientar que ela faz sentido em Economias com a dimensão necessária, ou seja, o BCE poderia recorrer a ela porque a Economia Europeia está respaldada pelo Poder Económico da Alemanha. Um Banco de Portugal controlado pelo Terreiro do Paço não passaria de um poder pífio no momento em que as reservas de moeda forte começassem a escassear.
Aliás, é célebre a resposta que Soares dá a Silva Lopes quando este lhe telefona a altas horas a avisar que o País só tinha reservas monetárias para mais dois dias... País que estava nessa situação por causa dos disparates da 'Economia de Abril'...
Nós sabemos perfeitamente o que irá acontecer se Portugal abandonar o Euro. Ocorrerá um default automático da dívida (pública e privada) que deixará insolventes muitas das nossas empresas, e não apenas a banca, o que obrigará o Estado a nacionalizá-las.
Para a Esquerda estatista, isso seriam boas notícias, até perceber a dimensão social da crise que assim se geraria... Ou talvez a abraçasse, afinal os leninistas de todas as cores consideram as crises como oportunidades... Seria o deboche leninista da moeda de que falava Keynes...
Mas a ausência do instrumento da desvalorização competitiva tem pelo menos uma vantagem, obriga a Economia a modernizar-se, em vez de continuar perpetuamente ancorada no 'beggar thy neighbour' da dita desvalorização. O triste estado da Economia Italiana tem algo que ver com essa dependência... Para quê ser-se concorrencial pela tecnologia, pelos processos e pela formação da força de trabalho, se isso se obtém a golpes de caneta?
Lamento, João Rodrigues, mas ninguém se desenvolve a sério assim...
Finalmente, vai explicar-me a tal estória de que numa Economia com a balança comercial equilibrada, o défice do Estado é o lucro do privado. É que isso tem um nome, transferência de recursos do dito Estado para o sector privado, por via da emissão de dívida. E quando o ciclo de crescimento parar (a Rainha Vermelha cansa-se e depois um crescimento contínuo é incompatível com o combate à crise climática), segue-se o default, a que se segue a alienação do património público...
Resumindo, o resultado final é sempre o mesmo, a bancarrota e a perda real de soberania. Quer uma análise mais amoral do que esta?
Também foi má política fiscal que levou ao colapso da URSS, lembra-se? Os credores e financiadores externos não costumam ser meigos...
Em relação a um discurso marcado pela classe social de João Miguel Tavares, alguns comentadores tentam sacudir a água do capote de Pedro Passos Coelho - o pior e o mais irresponsável dos governos que tivemos no país, como também o mais cínico e hipócrita (alguém ainda se recorda do pin de Portugal na lapela de cada ministro? É caso para dizer, como a memória é curta).
Quanto a Jose, o comentário é contraditório. Afinal de contas, não era este que defendia a escravização dos trabalhadores, em vez de direitos e salários mais justos?
Entre 2011 e 2015, aqueles que tiveram no governo prometeram-vos retirar Portugal da bancarrota. Recordo que a meio do mandato já não havia pessoas no CDS para ocupar os lugares vagos em gabinetes do Estado.
Enviar um comentário