quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Entre o sórdido e o sonso: «salários emocionais» para «colaboradores»


Foi recentemente publicado, na página do Human Resources Portugal, um artigo cujo título é, sem precisar de mais nada, todo um programa: «A importância do salário emocional na compensação dos colaboradores». Atentem bem na sequência das ideias-chave, entre o sórdido e o sonso: «salários emocionais», «compensação» e «colaboradores».

Citando a Cobee, apresentada como «a primeira plataforma digital europeia de gestão de benefícios para colaboradores», dá-se nota de que «complementar o salário habitual com uma compensação não monetária faz toda a diferença nos níveis de satisfação das equipas, e traz também inúmeras vantagens para as empresas», definindo-se o «salário emocional» como «uma recompensa extra, além do salário tradicional, que promove a qualidade de vida e o bem-estar dos colaboradores».

No concreto, está-se a falar, por exemplo, de maior flexibilidade de horários e melhor conciliação com a vida familiar, acesso a programas de formação, adaptação de espaços para melhorar o bem-estar dos trabalhadores, criação de locais para exercício físico, etc. Ou seja, de coisas que já existem, mas sem qualquer relação com a questão salarial. De práticas que fazem já parte do dia-a-dia de empresas decentes (e inteligentes), mas que aqui apenas são mobilizadas, num linguajar de hipocrisia delicodoce, como «compensação» pelo não aumento dos salários. Chegam a chamar a isto «employee experience», assegurando que assim se conseguem maiores níveis de satisfação «sem ter de ampliar o orçamento das empresas».

3 comentários:

Anónimo disse...

Não se fique por aí. Atente, por exemplo, ao:
- subsídio de Natal
- subsídio de Férias
- subsídio de alimentação
- subsídio de isenção horária
...

O que não falta é imaginação a estes neoliberais para arranjar formas de fugir ao simples ... salário (que devia, simplesmente, englobar tudo isto num único valor).

Francisco disse...

É pá gostei tanto deste "post", que estava capaz de pedir a ajuda dos srs. economistas para que me esclarecessem se isto tem alguma coisa que ver com a assim chamada queda tendencial da taxa de lucro, ou se esse é um velho e anquilosado conceito, que só pode merecer da parte dos muito cosmopolitas patrões, perdão...empreendedores, um mero sorriso condescendente? Fico grato e expectante por ouvir quem mais sabe sobre tão sugestivo tema.
Obrigado.

Claudia disse...

Porque não trabalhadores emocionais para os patrões? Os patrões fingem que pagam, e os empregados fingem que trabalham...Triste. Com esta cultura de trabalho não vamos a lado nenhum