quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Limites

António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa declararam anteontem, cada um à sua maneira, que uma parte importante do assimétrico ajustamento dos anos de crise constitui uma derrota irreversível dos trabalhadores do sector público. Suspeitamos, dado o bloqueio governamental à alteração da regressiva legislação laboral do tempo da troika, que as derrotas dos restantes trabalhadores do sector privado no tempo da troika são também consideradas irreversíveis. Nesta área, está tudo muito ligado, por muito que a sabedoria convencional procure dividir os trabalhadores. É por estas e por outras sintomáticas reacções que é necessário continuar a aumentar a pressão social e negocial, com vista à mudança da correlação de forças e das políticas.

Por coincidência, anteontem ficámos a saber que este governo já mobilizou cerca de 9 mil milhões de euros em apoio à banca (podendo ir até aos 20 mil milhões, segundo Ricardo Cabral, mas quem é que está a contar?). Há sempre dinheiro para aquilo que é prioritário. A mim nunca me apanharão a dizer que a banca não deve ser “estabilizada” com dinheiros públicos. A banca é demasiado importante para ser deixada aos humores dos mercados e à predação de banqueiros sem escrúpulos e com demasiada margem de manobra política.

O que deve merecer revolta é a actual duplicidade, já que sobre a banca não existe o mesmo discurso vulgar do não há dinheiro “para tudo”. E o verdadeiro problema na banca, já agora, é o princípio europeu, aceite por este governo, do pagamos, mas não mandamos. No fim, pagamos para ficar com um sistema bancário com maior controlo estrangeiro, da banca espanhola a fundos predadores, e com uma CGD obrigada ainda mais a comportar-se como se fosse um banco privado. Pagamos para ficar com um sistema mais dependente e vulnerável.

E, claro, as futuras crises de um sistema por reformar em profundidade, com maior controlo público e mais desconexão financeira nacional, serão outros tantos pretextos para as elites do poder virem dizer ao país: lamentamos, mas não há dinheiro, nem direitos garantidos para quem vive do seu trabalho. Neste arranjo monetário e financeiro, as variáveis de ajustamento são brutalmente claras. E são também claros os limites estruturais desta solução governativa.

7 comentários:

Anónimo disse...

« E são também claros os limites estruturais desta solução governativa.»

Muito bem ! Mas então que alternativa sugere ?

JRodrigues

Geringonço disse...

Há dinheiro!

https://www.reuters.com/article/us-offshore-wealth/super-rich-hold-32-trillion-in-offshore-havens-idUSBRE86L03U20120722

Os podre de ricos escondem triliões nos offshore.


Por muito que os privilegiados do sistema nos digam o contrário, num mundo onde 8 indivíduos detêm tanta riqueza quanto a metade da população mundial a luta contra este estado de coisas é inevitável.

Alice disse...

É ir lá buscá-lo e sem pedir licença.

Eu pago impostos e pago-os do meu trabalho. Porque diabo hei-de pagar mais impostos para compensar que estes coitadinhos, aparentemente incapazes de trabalhar (lamento, mas não considero que roubar seja uma profissão), encham os bolsos fundos de areia dourada das bermudas & afins.

Anónimo disse...

Um excelente e muito lúcido post de João Rodrigues.

Com alguns avisos muito claros à navegação. Basta lê-lo com atenção

Jose disse...

Tudo muito incompreensível para quem se recusa a compreender uma EVIDÊNCIA:
- Endividaste-te para além de todos os limites razoáveis, voluntária e autonomamente para satisfazer todas as 'justas causas' que te passaram pela cabeça.
- Se te cortarem o crédito passas fome.
- Fazes o que te mandam para comer todos os dias, com uma limitada autonomia de escolha.

Anónimo disse...

Há aí um tipo que fala em incompreensões e em evidências, sublinhando até aos berros a palavra "evidências"

Aquele tipo que se endividou será o próprio histérico que assim berra?

Referir-se-á ele à actividade bancária alicerçada na predação de banqueiros sem escrúpulos e com demasiada margem de manobra política?

Quererá dizer que os banqueiros se lhes cortarem o crédito irão passar fome?

E aquele tom impositivo sobre a limitada autonomia de escolha o que significará? Uma ameaça dirigida a quem? Um capataz a bramir o chicote? Um consultor financeiro em processo de ajuste de contas?

Mas não era este tipo que andava por aí a dizer disparates e a lastimar-se sobre o "não se dar nada aos bancos? Feito papel de embrulho para os desmandos dos banqueiros? E as gargalhadas não o fizeram tomar conta da idiotice suprema de tal afirmação?


Sorry mas tais tipos têm uma credibilidade nula. Cortou-se o crédito da tolerância para aldrabões assim deste quilate.

(Nós sabemos. Estes comem tudo. E querem continuar a empanturrar-se feitos néscios predadores à volta do saque e das suas vítimas)

Anónimo disse...

O paradigma económico actual encontra- se esgotado.
O mundo ocidental continua a debater questões económico-financeiras que influenciam o mundo inteiro sob o espectro de catástrofe inevitável para salvar a banca. Este receio constante vai empurrando as sociedades feitas cordeirinhos a aceitar verdades inevitáveis como se fossem absolutas.
A verdade é que temos de olhar para o sistema monetário como causa de toda a crise actual e todas as outras que lhe foram prévias.
Vivemos num sistema fraudulento que mais não faz do que transferir a riqueza da base da pirâmide para o topo, e tudo à custa deste sistema. Qualquer pessoa consegue olhar para o espectro económico e perceber que algo está mal, sem conseguir identificar a causa primeira. Tomando minhas as palavras de alguém que não consigo identificar neste momento:
“Se as pessoas tivessem verdadeiramente noção da realidade, haveria uma revolução amanhã “
Gostarias que este blog fosse um pouco mais longe e ilucidasse as pessoas da implicação monetária no modelo económico actual e a verdade verdadeira como chegamos a este ponto.
Deixo-vos com uma ideia em jeito de questão:
Se o sistema actual acenta em dívida, devemos o quê a quem?
Quando conseguirmos identificar o “quem” teremos a nossa resposta.