segunda-feira, 15 de maio de 2017

Uma boa notícia a lembrar-nos do estado em que estamos

O INE anunciou hoje que o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,8% no 1º trimestre de 2017, face a igual período do ano passado. Esta taxa de crescimento ultrapassa todas as previsões que haviam sido apresentadas e é uma óptima notícia para a economia portuguesa. Embora não seja ainda possível saber em detalhe o que está na base deste desempenho, a nota do INE sugere que as exportações e o investimento estão a acelerar, enquanto o consumo privado mantém um contributo positivo, ainda que modesto.

O regresso ao crescimento económico verifica-se desde 2013 e acentua-se à medida que o clima económico interno desanuvia (depois de vários anos de crise económica e de violência social) e a procura externa acelera (relectindo a melhoria das condições de financiamento e a diminuição da pressão austeritária no conjunto da UE).

Antes que o bom desempenho presente nos faça esquecer as desgraças do passado e o difícil caminho que temos pela frente, vale a pena analisar os valores agora anunciados num perspectiva temporal mais longa. O gráfico abaixo mostra-nos o PIB efectivamente registado (a vermelho) e compara com o que teria sido uma evolução em linha com o período anterior à crise de 2008/2009 (recta a azul, que tem implícita uma taxa de crescimento médio anual de 0,9%). Caso a economia portuguesa tivesse crescido após 2008 a uma taxa anual idêntica ao do período anterior, hoje seria cerca 13% maior do que efectivamente é. E para que a economia Portuguesa regressasse durante os próximos cinco anos à trajectória anterior (linha verde), o PIB teria de crescer em média 3,4% ao ano até 2021.

Note-se que a taxa de crescimento observada entre 2001 e 2008 - 0,9% - foi uma das mais baixas da UE durante esse período. Ou seja, para que a economia portuguesa recuperasse uma trajectória de crescimento que já era muito modesta antes da crise precisaria de crescer nos próximos cinco anos a uma taxa média anual de 3,4%, claramente acima dos 2,8% registados no primeiro trimestre de 2017.

Sem dúvida que temos motivos para celebrar. Mas é importante que as melhorias que se vão sentindo não nos façam esquecer a onda de destruição que por aqui passou (cujos efeitos continuam bem visíveis para quem os quiser ver), nem as dificuldades que enfrentamos para recuperar do desastre.


5 comentários:

Anónimo disse...

«Ou seja, para que a economia portuguesa recuperasse uma trajectória de crescimento que já era muito modesta precisaria de crescer nos próximos cinco anos a uma taxa média anual de 3,4%, claramente acima dos 2,8% registados no primeiro trimestre de 2017.»

Esta comparação é absurda, pois compara um crescimento anual com um crescimento trimestral (em relação ao homólogo do ano anterior). Talvez mais correto, mas economicamente ainda mais implausível, seria comparar o crescimento anual com o crescimento anualizado deste trimestre em cadeia. Infelizmente, dificilmente repetiremos crescimentos destes, em cadeia ou homólogo, sustentadamente ao longo dos restantes trimestres deste ano e da legislatura.

Jose disse...

Ricardo, fale-nos da destruição que por aqui passou e a falta que nos faz o que foi destruído.
Será que voltaremos a ser uma boa economia se não retomar-mos a construção de novas auto-estradas?
E se começarmos a construir habitações de R/C em vez de lojas, viremos a ser alguém no mundo?
A minha confiança dificilmente recuperará se não me disserem quais as destruições que temos que reconstruir e eu não verificar que tal acontece.

Há coisas reconstruídas entretanto, mas não é a mesma coisa: hotéis e restaurantes sim, mas sobretudo para turistas. Será que aquela malfeitoria das e-facturas que nos privou de um café em cada esquina não deverá ser corrigida? O IVA já ajudou, mas será suficiente para sermos felizes?

Destruiu-se mais lixo económico que qualquer outra coisa. E ainda bem!

Anónimo disse...

Não será por acaso que a palavra «acelerar» e´ citada.
Que a economia esta´ em desenvolvimento lento e´ um facto indesmentível, que cresce ao ritmo de caracol também e´ verdade, mas que esta´ em franco aceleramento não acredito. Mais vale pouco que nada… sempre são 2,8% não e´ verdade?!
A minha insatisfação advém do «acelerar» da propaganda que se faz a´ volta de um reduzido crescimento que ate´ faz parecer que vamos ficar todos ricos, já!
Em conversa de café perguntei a um camarada, ele parecia eufórico com a notícia, se sentiu alguma diferença para melhor no bolso ou nas contas da casa no período citado…coitado, ficou atónito.
Por vezes fazem lembrar o desgoverno de Cavaco Silva em que na descentralização da renda nacional o pilim chegava a todos menos ao trabalhador! de Adelino Silva

Anónimo disse...

Mais uma vez um lúcido, sereno, reflectido e oportuno post de Ricardo Paes Mamede.

"Sem dúvida que temos motivos para celebrar. Mas é importante que as melhorias que se vão sentindo não nos façam esquecer a onda de destruição que por aqui passou (cujos efeitos continuam bem visíveis para quem os quiser ver), nem as dificuldades que enfrentamos para recuperar do desastre".

Chave de ouro.





Anónimo disse...

É precisamente a chamada de atenção para a onda de destruição que por aqui passou que traz ao balanço o fulano das 19 e 39.

Sabe-se que este foi um empenhado entusiasta da troika e do troikismo. Para lá da troika e mais além. Para lá da troika e mais além e sobretudo do regresso a um modelo social de há 50 anos. Ou quem sabe do século XIX.

Tentar fazer passar a ideia que a onda de destruição fica acantonada a auto-estradas ou à construção de R/C, ao café mais a e-factura é simplesmente ser desonesto.

É tentar fazer humor com uma situação que não teve a mínima piada. É tentar escamotear o legado deixado por uma autêntica máfia que apoiou, venerou, aplaudiu e outras coisas mais.É tentar acantoná-lo ao acessório, ao anedótico, dando-lhe a qualificação de "lixo" e apoiando o lixo que o tornou possível.

A enjoativa familiaridade com que trata o autor do post é apenas uma marca menor que atesta estarmos perante um exercício de ocultação de luzes. Um exercício para esconder a dimensão humana,social, económica da tal onda de destruição citada por RPM.