sexta-feira, 19 de maio de 2017

Manifesto a favor do uso da palavra "Esquema"

Na sessão parlamentar de anteontem, em que foi ouvido o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos Paulo Ralha, a deputada do CDS Cecília Meireles levantou-se indignada contra o uso da palavra "esquema", quando usada na actividade de "planeamento fiscal", praticado por advogados de conhecidos escritórios, como era o caso do militante do CDS Paulo Núncio.

Na base esteve esta declaração de Paulo Ralha (1h16):
"Há empresas, pessoas individuais, que têm rendimentos e não querem que esses rendimentos apareçam nas suas contas pessoais. E então utilizam os esquemas offshore, para fazer o dinheiro passar por uma série de filtros, ir parar ao destinatário final, sem praticamente pagar imposto nenhum. É disto que se trata. (...) Podemos ficar aqui o dia todo a falar sobre este tipo de esquemas, mas penso que há pessoas muito mais capacitadas do que eu, sendo que nós conhecemos meia dúzia de esquemas destes. Há empresas, de fiscalidade, especializadas nisto. Creio que o ex-SEAF participou activamente na construção de determinados tipos de esquemas deste tipo. E nem todos esquemas são ilegais..."
Face a isto, disse a deputada (1h18):
"Eu gostava de dizer que isto é o Parlamento de Portugal. E o senhor presidente do Sindicato dos Impostos não estava a lembrar: estava a difamar. Esquemas é uma palavra que, obviamente, leva-nos para ilegalidades. Uma coisa será consultoria jurídica, será engenharia fiscal. Outra coisa são pessoas que montam esquemas. E outra coisa muito diferente é dizer que a Zona Franca da Madeira e que toda a Madeira é um sítio de esquemas. Obviamente isso é difamatório, quer em relação à Madeira, quer em relação ao ex-Secretário de Estado. (...) Em relação a uma pessoa que não está presente, (...) vir para aqui dizer que ele é uma pessoa que faz esquemas? O senhor não acha que isso é difamatório? Se eu dissesse que o senhor passa a vida a fazer esquemas [e levanta o braço], o senhor não se sentia difamado? É que eu sentia! E quem se sente não é filho de boa gente!"
O engano final da deputada não passou despercebido à presidente da sessão que tentou emendar a expressão, mas gerou ainda mais confusão. Mas a verdade é que a confusão gerada por Cecília Meireles pareceu intimidar os restantes deputados que tiveram o cuidado de não usar mais a palavra "esquema".

Até Mariana Mortágua disse sorrindo:
"Parece que já não se pode usar a palavra... é que me dava imenso jeito..."

Já a minha confusão é que seja sempre o CDS a suscitar esta defesa encarniçada contra o uso - não dos esquemas- mas da palavra esquemas.

Pois este post é para reiterar o DEVER de usar livremente a palavra "esquema". Primeiro, porque se trata de uma palavra commumente usada na literatura fiscal e depois porque, mesmo que seja apenas para retratar operações que visem um fim socialmente fraudulento, os esquemas que se pretende designar cabem nos dois sentidos da palavra. Aqui fica a prova dessas duas realidades:

1) A legislação publicada - decreto-lei 29/2008 - que obriga os agentes económicos a comunicar ao Fisco os "esquemas fiscais", usa a palavra 13 vezes! E até parece que, nem de propósito, a lei tornou-se inaplicada...  É sempre assim: quando se fala de "esquemas", parece haver sempre um esquema que a dificulta a intenção inicial;

2) Nem a Lei Geral Tributária, no seu artigo 38º, ao consagrar a nulidade de negócios levados a cabo por "meios artificiosos ou fraudulentos", menciona a palavra "esquemas", pressupondo-se que os meios artificiosos não sejam esquemas

3) A OTOC, num documento sobre o planeamento fiscal, menciona na sua pág.52 a expressão "Esquemas fiscais abusivos", o que pressupõe que haja esquemas fiscais não abusivos.

4) Até há uma dissertação de mestrado do Instituto Poletécnico do Porto sobre - veja-se lá! - os "esquemas de planeamento fiscal". E deve haver muitas muitas mais...

5) Não foi o ex-director geral dos impostos quem divulgou que os ricos não pagam impostos, devido a esquemas  vários?

6) O próprio Paulo Núncio, mal estava empossado, a 5/8/2011, fez declarações no Parlamento em que defendeu que o Governo iria usar de forma mais frequente a cláusula anti abuso “para combater de forma mais eficaz o planeamento fiscal mais agressivo”. Ah! não falou em "esquemas", mas de "planeamento fiscal". É completamente diferente... Mas agora, afirma taxativamente que nunca esteve "envolvido nesse tipo de esquemas ou de estruturas" quando, no passado recente (em 2010), andou a avisar os seus clientes das vantagens da amnistia fiscal que era o RERT aprovado pelo governo Sócrates para quem pudesse eventualmente considerar que pudesse estar  abrangido pela eventual situação de querer legalizar dinheiros alegada e fraudulentamente saídos do país - presume-se que através de "esquemas" não ilegais, digo eu... Esse RERT foi tão bom que, mal chegou ao governo fez mais um RERT, aquele que, entre muita gente, lavou - sem outro esquema, que não aplicação da lei - os dinheiros fugidos de Ricardo Espírito Santo. O RERT foi, ele também, um enorme esquema amnistiante, criminal e até tributariamente.

7) Aliás, aqueles que mais podem beneficiar dos esquemas fiscais não têm pejo em usar essa realidade, mesmo que não usem a expressão. Os seus actos vulgarizariam o uso do termo. Não foi esse o caso dos grupos económicos que esteve na base da fuga para a Holanda, seguindo a Jerónimo Martins? Aliás, o grupo Jerónimo Martins, bem na véspera da entrada em funções de Paulo Núncio, tinha visto destapado e condenado um dos seus esquemas...

Por tudo isto, como é sempre uma grande confusão quando há esquemas legais e outros esquemas menos legais; quando os advogados têm uma enorme trabalhadeira em encontrar termos tão juridicamente neutros como "tax avoidance" (evasão fiscal), "tax aggressive", "aggressive tax avoidance" (evasão fiscal agressiva...) ou "tax neutral schemes" (esquemas fiscais neutros); porque todas estas ferramentas esquemáticas visam apenas reduzir os impostos a pagar e assim reduzir o contributo de quem mais tem para o bem de todos,

manifesto a minha enorme insatisfação pelo facto de os deputados de Portugal se auto-censurarem e censurarem a palavra esquema nos trabalhos parlamentares.
.
Viva o uso da palavra "esquema"!

18 comentários:

Anónimo disse...

Uma delícia este post

Que não invalida o seu rigor. Nem a coragem de chamar o nome aos bois

Mário Reis disse...

Olha olha o partido candongueiro melindrado com a pulhice. E os outros calam-se? O que é que não perceberam ou não querem perceber?
Um esquema colossal é o da arbitragem tributária, o qual é necessário a geringonça e a sociedade em geral debater. Paga impostos quem? Leiam e tirem as conclusões dos esquemas...

https://www.linkedin.com/pulse/tempestade-perfeita-na-justi%C3%A7a-tribut%C3%A1ria-luis-ant%C3%B3nio-bettencours

Jose disse...

Para mim, para além da engenharia há a legítima defesa fiscal.
Qualquer Estado que me queira sacar 50% do rendimento seria merecedor de todo e qualquer esquema. Para ladrões...

Porto Santo disse...

Viva a palavra Esquema...abaixo os Esquemas 😈

Geringonço disse...

Quem vive do seu trabalho, quem realmente produz a riqueza não tem acesso a esquemas e é agredido por trafulhas e parasitas como Passos Coelho, Miguel Relvas, Paulo Portas, Paulo Núncio...

Anónimo disse...

Para ladrões.

E apresenta-se herr Jose?

Onde está agora o choradinho com que crisma os que trabalham?

Ah, este choradinho faduncho dos pobres patrões que se acham no direito de estar acima das leis reivindicando o ilegítimo direito ao saque.

Isto é que é mamar à fartazana, utilizando um termo que não sai da boca do próprio.

Depois andam para aí a cantar loas aos bordéis tributários

Já percebemos o esquema. Deste e do amigo do PP, um tal de Núncio

Jose disse...

Más-línguas e raivosos por vocação, clamam por um empreguinho e odeiam quem os cria.
É a raça esquerdalha lusa, invejosa e vil.

Anónimo disse...

Mas os esquemas, para mal ou para bem, fazem parte do quotidiano das pessoas… coitada da senhora, definitivamente esta´ fora de contexto.
A extrema-direita que vingou em Portugal herdou do “Esquema” salazarento toda a forma esquemática do mal, daí o horror aos esquemas. Talvez os fornos crematórios do holocausto lhe servisse às mil-maravilhas…Quem sabe? de Adelino Silva

Anónimo disse...

Com o devido respeito...

Essa dos raivosos por vocação só mesmo quem anda por aqui a defender esquemas deste teor.

E depois de assumir a defesa dos "esquemas" da canalhada bem instalada ( logo ele que defende o roubo de salários e pensões) tenta desviar a bola para canto desta forma grotesca.

José Fontes disse...

Ó olharapo José:
«Más-línguas e raivosos por vocação»
Estás-te a ver ao espelho, não é?
Depois de teres destilado a bílis no Aventar, em vários comentários de má-língua e raivosos, foi agora a vez de o fazeres no LdB.
Já cumpriste a missão que o teu chefe te encarregou.
Vai dormir descansado para, amanhã, continuares com a nova tarefinha que te incumbirem.
Troll João Pires da Cruz (ou então vai congeminar mais uma ideia mirabolante para os teus artigos no Observador, já há muito tempo que não debitas faladura lá, meus olhinhos de estúpido e lábios de mentiroso).
.

Anónimo disse...

Alguém diga ao tal Jose que isto não tem nada a ver com invejas nem com vilezas de quem lhe denuncia os hábitos, as trafulhices e o saque

Isto é outra coisa. Tem a ver com cidadania.

E como a classe possidente não tem quaisquer escrúpulos quando se trata de se empanturrar.
No fundo um patrão que ganha com a exploração dos demais e a achar que tem mais direitos que os outros.

Uma imundície. E ainda dizem que não há luta de classes

Anónimo disse...

Já de percebe a cabeça perdida e os insultos do José para com o tal fulano do fisco que desmascarou as tramoias do Paulo Núncio.

O esquema da máfia fora posto a descoberto

Filipe Martins disse...

Esquemas! Esquemas! Esquemas!

PS:
@José, quem cria os empregos são os consumidores (isto é: todos nós).

Anónimo disse...

V I V A !!!!

Jose disse...

Filipe Martins, perdido um outro comentário, sempre digo:
Esse esquema dos consumidores criarem empregos dão a exacta medida do modelo económico esquerdalho: economia de subsistência.

Aónio Eliphis disse...

Excelente mensagem. Realmente andamos aqui a debater terminologia lexical e eufemismos. Um aborto também é um esquema materno para matar um bebé. Mas o facto de ser legal, não o torna eticamente aceitável.

Anónimo disse...

Sempre diz herr jose que os esquerdalhos e a economia de subsistência.

Mais os esquemas dos mafiosos. Para a economia da engorda de uns poucos. Com mais direitos que todos os outros.

Mas agora escondido tudo debaixo do tapete. Nao vão dar cabo de seu modelo económico. E do produto do saque dos esquemas

Anónimo disse...

Um aborto?

Esquema para matar um bebé?

Um bebê?

Este tipo precisa mesmo de consultar um dicionário. De procurar algo mais científico do que as brochuras do Tea Party da direira-extrema.

Com o seu eticamente aceitável, a lembrar az fezes que gosta de espalhar