quarta-feira, 10 de maio de 2017
La culpa es de Mélenchon
Estive recentemente em Espanha durante uns dias, alimentado ao pequeno-almoço por uma dieta pouco recomendável de churros, chocolate quente, café e El Pais. Pude constatar que a linha euro-liberal do Público e da maioria dos seus colunistas, de Vicente Jorge Silva a Rui Tavares, passando por Teresa de Sousa, tem equivalente mais monocórdico em castelhano.
Estou a pensar em particular na campanha A culpa é do Mélenchon, já muito bem denunciada e desmontada por José Gusmão. Servindo o comentário internacional sempre propósitos políticos nacionais, esta campanha destinou-se cá a apoucar a justa posição de comunistas e crescentemente de bloquistas no que à economia política da integração europeia diz respeito, enquanto que lá a campanha destinou-se a atingir o Unidos Podemos, só em parte pela mesma razão. A lógica é a mesma e, no entanto, o contexto é diferente: a parte do unidos faz diferença.
Entretanto, julgo ser relevante o artigo de Manolo Monereo, uma das referências da esquerda espanhola e actual deputado, sobre o objectivo estratégico que a esquerda tem de ter na presente conjuntura histórica: “religar a democracia, a soberania popular e a questão social, como parte de um projecto libertador dos trabalhadores no quadro do Estado-Nação”.
A estratégia é suportada por um diagnóstico: estamos a viver um “momento Polanyiano”, ou seja, um contramovimento de protecção das sociedades nacionais face à globalização neoliberal, que pode assumir várias formas políticas; um contramovimento no qual a esquerda tem de se inscrever e que tem de dirigir, caso contrário a extrema-direita fá-lo-á. A UE é o outro nome dessa globalização no continente, que matou a social-democracia, criando uma “esquerda cultural sem alternativa”; “um projecto elitista que despreza o seu próprio povo, esta esquerda acabou funcionando como a ala cosmopolita da globalização neoliberal”.
Defendendo há uns anos este tipo de diagnóstico e de objectivo, creio que a ordem neoliberal europeia é bem mais resiliente do ponto de vista institucional do que a ordem liberal sobre a qual Karl Polanyi escreveu em 1944. A UE, em geral, e o Euro, em particular, não colapsarão espontaneamente, exigindo a sua desmontagem, parcial e total, respectivamente, uma luta mais denodada, provavelmente com mais baixos do que altos a prazo.
Esta luta passa também por ganhar um combate contra os que querem reduzir a esquerda objectivamente a um apêndice de Merkron.
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26 comentários:
Os outros são apêndices de Merkron e só nós, coitadinhos, é que somos sempre atacados pelas posições que temos, incluindo as insustentáveis e que mereceriam, entre pessoas decentes, ser despachadas com uma gargalhada. Isto tem um nome, chama-se hipocrisia, e não é nada bonito. Também indica o tique pouco democrático de quem quer exercer o direito à crítica sem ter que ser julgado por igual bitola. Ou será porventura a pesporrência de quem se acha dono da moral sendo que os outros são todos ou idiotas ou vendidos...
Jaime Santos devia primeiro ler e tentar perceber o que se escreve.
Talvez visse que mais uma vez João Rodrigues acerta no alvo com uma precisão e lucidez notáveis.
Talvez seja mesmo isso que perturba Jaime Santos. Ao ponto de publicar uma espécie de comentário tão infeliz na forma como no conteúdo.
Nem sequer nota que o que escreve lhe assenta a ele próprio que nem uma luva. Um tique pouco democrático que quer exercer o direito à crítica sem ter que ser julgado por ela.Isto tem vários nomes e provavelmente também hipocrisia. Mas porventura será a pesporrência de quem se acha dono da verdade e da ética, uma espécie de cosmopolita da globalização neoliberal.
Com um pesado mas indisfarçável sentimento de.
Com a globalização, a esquerda tem de entender que a competitividade não é uma questão fútil e a direita tem de compreender que políticas de redistribuição são uma necessidade e não uma escolha."
.....
(...)"A uma escala mundial, quem mais beneficiou com a globalização foram os habitantes dos países menos desenvolvidos.
Dentro dos países mais ricos, as desigualdades aumentaram, com a classe média/média-baixa a estagnar e as classes mais altas a ver o seu rendimento crescer bastante."(...)
(...)"Mas será que podemos atribuir esta evolução à globalização? É possível que a informatização, automatização e robotização da economia dêem o seu importante contributo, mas muito provavelmente a globalização também".
(...) Não são os asiáticos, que mais beneficiaram com a globalização, que votam em Inglaterra, nos Estados Unidos ou em França.
Nada mais natural do que quem perde com a globalização ir votar em quem lhes promete proteccionismo.
Este é um terreno fértil para candidatos como Donald Trump ou Bernie Sanders, Marine Le Pen ou Jean-Luc Mélenchon, ou para movimentos como o do Brexit." (...)
....
(...) "Discutir uma política redistributiva que garanta que não há perdedores ou que, pelo menos, seja satisfatória para os perdedores da globalização não é fácil.
É necessário encontrar as melhores formas de os apoiar.
Pode passar por transferências monetárias directas, por apoios à reconversão profissional, investimento na educação de adultos, investimento na educação dos filhos (as pessoas poderão aceitar alguns custos, desde que vejam uma esperança para os seus descendentes), etc.
Simultaneamente, tem de se discutir a melhor forma de financiar essas políticas."
.....
"Com a globalização e a revolução tecnológica, a desigualdade é uma inevitabilidade. Com ela, gostemos ou não, ressurgem movimentos populistas que gostaríamos que se mantivessem no caixote de lixo da história.
Está na altura de percebermos que a nova globalização exige tanto uma nova direita como uma nova esquerda.
A esquerda tem de entender que a competitividade não é uma questão fútil e a direita tem de compreender que políticas de redistribuição não são uma escolha, mas sim uma necessidade."(...)
De L.A. Conraria
Após o resultado das eleições em França verificamos que vai haver uma actuação no sentido de reabilitar o Eixo Paris - Berlim e seus satélites. ( França + Alemanha +
Benelux ), isto após a grave crise que a França está a passar , vítima da política seguida na UE que não poupou sequer um dos seus beneficiários.
Em desvantagem ficarão os países da Europa do Sul, que continuarão debaixo de uma situação de crescimento zero e que os vai afectar gravemente.
Poderá mesmo haver a tentação de criar duas moedas, o "Euro forte " e o "Euro Fraco".
Não e´ verdade que a culpa caia agora sobre a esquerda, na figura
de Jean-Luc Mélenchon, nem há que ajudar a alimentar a máquina mentirosa do capital financeiro.
A meu ver estamos e´ envolvidos numa luta de classes, sem cartel, em que o capital financeiro tomou, por momentos, a dianteira.
Contra essa máquina infernal ao serviço do “sistema” uma organização Marxista-Libertaria, com potencial político-social inovador, terá de unir esforços credíveis e práticos. Eu vou nessa!
Sei por experiencia própria que e´ difícil mudar preconceitos, paixões e amores-próprios partidários e de grupo, e´ verdade… Mas o todo (Povo) não será mais importante que o partido, grupo ou o individual?
Espero bem que não reneguem seus grupos, seus partidos, suas ideologias. Não e´ disso que se trata!
Trata-se sim de avançar com novo tipo de estrutura, não deixar vago o espaço sociopolítico próprio da esquerda!
Trata-se sim, de não deixar sem rumo orientador quem trabalha por conta de outrem!
Trata-se sim de defender os mais desprotegidos dos predadores capitalistas!
Neste contexto político-social, uma depuração geral das instituições populares onde se notam fragilidades poderá ser necessaria! de Adelino Silva
Às 22:29 temos o sacristão esquerdalho, sempre de serviço em louvores sem indicação de causa e defesas sem argumentos.
Afobado herr jose afoba-se e faz como era usual há 50 anos. Pensa que ainda está nos tempos em que a bufaria mandava.
O "esquerdalho" é a prova que a crispação tomou conta do tipo
A vacuidade apatetada do que diz em seguida "sacristão serviço em louvores sem indicação, causa e defesas sem argumentos" a confirmação de que está perturbado.
Pobre herr jose.
Com a fixação destes cronistas no Rui Tavares, começo a dar razão aos que dizem que a divisão já não é entre Esquerda/Direita, mas sim entre Cosmopolitas/Nacionalistas.
Não deveria ser assim e isto não é bom!
O José parece que confirma que a Le Pen quando necessário vem em apoio do Macron.
Vice-versa?
Acabei de ler o artigo dum tal Conraria no post imediatamente anterior a este, de João Ramos de Almeida:
https://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2017/05/salvar-cara.html
Provavelmente a repetição do texto deve-se a engano,motivado por alguma fossanguice nos propósitos, já que não se acredita que haja alguém que acredite que a repetição do mesmo paleio seja minimamente interessante para quem frequenta este blog.
De qualquer forma aproveito para confirmar que o autor do texto é de facto o Luís Aguiar que escreve no "pasquim" do Observador.
E também aproveito para dar o meu acordo com a caracterização que um anónimo faz sobre o Luís Aguiar.
Cita-se quase ipsis verbis:
"Um tipo que tem a ousadia de juntar no mesmo molhe Donald Trump ou Bernie Sanders, Marine Le Pen ou Jean-Luc Mélenchon,... é aquilo que é. Um fdp. Com todas as letras, sem desprimor para a pobre da mãe do sujeito"
Quanto à resposta ao Luís Aguiar nada melhor do que ler o que escreveu Prabhat Patnaik, o que se pode fazer nos comentários ao texto de JRA linkado acima.
Quem estiver interessado que o leia (vale a pena). Quem já o leu é poupado a mais um longo texto. E todos nós somos agraciados por evitarmos repetições diárias ( ou bi-diárias) perfeitamente escusadas
Foi mesmo por engano que coloquei algumas frases do texto (longo) do Luís A. Conraria no comentário que fiz ao post do João Ramos A.
Peço por isso desculpa aos leitores dos ladrões de bicicletas pela repetição do comentário no presente post.
......
Quanto ao texto do Prabhat Patnaik, mesmo sabendo que o autor terá um conhecimento da realidade da India infinitamente maior que a minha, tomo a liberdade de deixar aqui duas observações:
- Na India há eleições para eleger os políticos, pelo que, se a globalização for de facto tão má para a generalidade da população, é provável que politicos contra a globalização venham a ganhar as eleições e a governar a India;
- É um facto que economia da China cresceu muitissimo depois da abertura à globalização.
...............
Por Ultimo, relativamente à frase que os "anónimos" utilizaram para "caracterizar" o Luís A. Conraria:
"Um tipo que tem a ousadia de juntar no mesmo molhe Donald Trump ou Bernie Sanders, Marine Le Pen ou Jean-Luc Mélenchon,... é aquilo que é. Um fdp. Com todas as letras, sem desprimor para a pobre da mãe do sujeito"
- Os democráticos leitores dos ladrões de bicicletas saberão "caracterizar" o autor e o concordante de tal frase.
Parece que a conversa do escriba do Observador foi apanhada nas malhas da demagogia barata. Um odre vazio com alguns admiradores a que tem direito com toda a justiça.
Quanto à sua caracterização de fdp, pese o pesar de um ou outro, ela é inevitável. Se um pateta enfatuado como o Aguiar tem também a veleidade de comparar pessoas honestas e honradas( mesmo que delas se discorde) como Sanders ou Melechon, com canalhas como Trump ou le Pen ...tem que aguentar comas consequências.
E todos nós com as lagrimas vertidas em honra da honra perdida do Aguiar do Observador
O comentário sobre deixar ao resultado das eleições o tomar o pulso das populações sobre o seu sentir acerca da globalização deve ser a confirmação que a maré contra esta globalização está a crescer?
No mundo ocidental é o que se vê. Ou seja , confirma-se de forma particularmente aguda (embora se admita que involuntária) o que disse Prabhat Patnaik. E que a preocupação dos neoliberais já não é a situação nos seus próprios países mas sim o que se passa na Índia ou na China.
Ou seja, estamos no domínio da mais pura treta.
O maniqueísmo e o refugio apressado em argumentos deste tipo estampam-se com a realidade. Depois é difícil voltar atrás quando se usam tais expedientes.
"A globalização provocou um sofrimento agudo para os trabalhadores de todo o mundo. Este sofrimento não se limita apenas ao período da crise pós bolha imobiliária, nem apenas aos trabalhadores dos países capitalistas avançados. A descoberta de Joseph Stiglitz de que o salário médio real de um trabalhador masculino americano em 2011 era algo mais baixo do que em 1968 sugere claramente que este sofrimento tem tido uma longa duração. Da mesma forma, a presunção de que o sofrimento aflige apenas os trabalhadores de países capitalistas avançados cujas oportunidades de emprego contraíram-se porque o capital metropolitano tem relocalizado a actividade económica em países do terceiro mundo com baixos salários, e que os trabalhadores destes últimos consequentemente tem sido os beneficiários da globalização, é completamente falsa: esta relocalização, longe de reduzir as enormes reservas de trabalho do terceiro mundo, foi pelo contrário acompanhada por um aumento da dimensão relativa de tais reservas e, portanto, por um esmagamento das taxas de salários reais. Isto tem sido assim, dentre outras razões, devido ao assalto maciço ao sector da micro produção nestes países, e ao despojamento de micro produtores, que a globalização implicou.
Tal sofrimento está a despertar um forte ressentimento entre os trabalhadores de todo o mundo, o qual é mais claramente visível, como agora, nos países capitalistas avançados. E em face desta oposição estão a emergir pelo menos três diferentes posições ideológicas nestes países. Uma destas é uma posição de Esquerda, a qual comentarei depois. As outras duas são posições dentro do próprio campo burguês, cuja principal característica é que elas não visualizam qualquer coisa para além do capitalismo".
"Destas duas, uma que emergiu com força gritante é aquela da ultra-direita. Se bem que as posições de Donald Trump dos EUA, de Marine Le Pen de França e de Nigel Farage na Grã-Bretanha, e de seus equivalentes em outros países europeus, não sejam idênticas, no entanto pode ser detectado um certo elemento comum entre elas. Eles encaram a globalização como implicando uma pioria das condições dos trabalhadores, devido à imigração de trabalhadores estrangeiros e à emigração de capital produtivo, nomeadamente para destinos com baixos salários. Portanto, esta posição vê o problema básico como decorrente da competição de trabalhadores de outros países – e a panaceia para isso é restringir tal competição através do impedimento da imigração, da protecção contra bens estrangeiros e da penalização do capital que tenta emigrar para o exterior a fim de se relocalizar em países de baixos salários..."
Assim se inicia um excelente ( e muito actual) texto de PRABHAT PATNAIK e cuja leitura na íntegra pode ser efectuada aqui
http://www.terraetempo.gal/artigo.php?artigo=4591&seccion=7
"O argumento de que o proteccionismo da espécie que Trump está a promover não pode logicamente elevar o emprego e a produção está obviamente errado.
Mas ele pode promover o emprego só se os outros países não retaliarem contra o proteccionismo dos EUA.
Uma vez que o proteccionismo "exporta desemprego" para outros países, ele pode certamente "funcionar" se os outros países estiverem desejosos de importar desemprego. Mas se não estiverem, o que naturalmente é o cenário PROVÀVEL, então o proteccionismo cessa de funcionar e o proteccionismo competitivo pode mesmo AGRAVAR a condição de todos tomados em conjunto".
Prabhat Patnaik
Isso mesmo.
Ainda bem que se concorda com Patnaik.
Mas o autor vai mais longe na denúncia de Trump e do capital financeiro:
"há pouco reconhecimento do papel do capital financeiro, do facto de que a procura global na economia mundial, à qual podem ter acesso todos os países em conjunto, não pode ser aumentada por causa de hegemonia do capital financeiro. O capital financeiro globalizado, confrontando Estados-nação, os quais quer queiram quer não têm de aceder às suas exigências, insiste por toda a parte em manter a dimensão do défice orçamental dentro de limites. Igualmente, o outro possível meio de financiar maiores gastos do governo para ampliar a procura agregada, nomeadamente através de impostos sobre capitalistas, é também impedido por ele. (Maiores gastos do governo financiado por impostos sobre os trabalhadores, os quais consomem o grosso dos seus rendimentos, não ajudam a aumentar a procura agregada).
É significativo que Trump, que tem proposto agressivamente uma política proteccionista de "empobreça meu vizinho", chegando ao ponto de penalizar investimento directo estrangeiro por firmas americanas para atender o mercado interno dos EUA, não tenha uma palavra a dizer sobre restrições ao capital financeiro globalizado. (Isto tem levado alguns autores a afirmarem mesmo que as suas políticas são anti-capital manufactureiro, mas favoráveis à finança; isto entretanto é um exagero uma vez que ele também está ansioso por reduzir impostos corporativos em geral ).
"Em relação a esta oposição, há a posição neoliberal habitual, totalmente aprovada pela finança globalizada, a qual atribui o sofrimento dos trabalhadores não à globalização mas a toda espécie de outros factores e que afirma mesmo que proteccionismos de qualquer espécie simplesmente não podem melhorar a condição dos trabalhadores. Em suma, nada deveria ser feito para alterar o presente cenário de globalização. Se algo precisa ser feito, então tem de ser em outras áreas e não em relação ao actual regime de globalização. Christine Lagard, a actual directora-administradora do FMI, articulou esta oposição explicitamente em oposição à administração Trump e desde então muitos comentaristas financeiros têm reflectido seus pontos de vista. De facto, o FMI acaba de lançar um documento argumentando em favor desta posição"
Esta posição está em tamanha bancarrota intelectual que a adesão a ela pela assim chamada "burguesia liberal" só está a servir para reforçar o apelo da ultra-direita, a qual pelo menos tem o mérito de tomar conhecimento do sofrimento do povo."
"Sua bancarrota pode ser ilustrada pelo exame de um artigo de Martin Wolf, um influente jornalista que escreve regularmente em The Financial Times, de Londres. Seu argumento é que o proteccionismo ao elevar a produção e o emprego em sectores competitivos importadores só afastará recursos dos sectores exportadores. Isto abaixaria mesmo as exportações quando reduz importações, deixando intacto o défice comercial e portanto, por implicação, o nível da procura agregada e do emprego.
A falácia deste argumento está no facto de que um aumento na produção por substituição de importações será a expensas da produção de exportação só numa economia onde haja pleno emprego de recursos (de modo que um sector da produção possa ascender só a expensas de outro), não numa economia que tenha simultaneamente desemprego e capacidade não utilizada. Segue-se portanto que o autor está a argumentar que o proteccionismo não pode aumentar o emprego, só através da assunção de que não existe nenhum desemprego de modo algum. É a crueldade destes comentadores "liberais", exibida através de tais ideias absurdas e logicamente falaciosas, que faz os trabalhadores voltarem-se para os partidos da ultra-direita a expensas dos partidos "liberais burgueses", comprometidos com a ortodoxia do capital financeiro, que tais comentadores favorecem.
Exactamente o mesmo raciocínio falacioso está subjacente a outra proposição de Wolf. Começando pelo truísmo de que o défice em conta corrente de um país deve ser igual ao excesso dos bens e serviços que ele absorve em relação ao que produz, ele argumenta que o actual défice corrente dos EUA nunca poderá ser ultrapassado a menos que a sua absorção de bens e serviços do resto do mundo seja reduzida. Isto é absurdo porque um excesso de absorção sobre o produto pode decorrer não só por a absorção ser demasiado alta como também porque o produto é demasiado baixo e, na verdade, esta última hipótese deve ser o caso numa economia afligida pela crise. O proteccionismo neste caso reduzirá o défice corrente e aumentará a produção interna e o desemprego. (Isto não acontecerá se já houver pleno emprego na economia, o qual é o que Wolf deve estar implicitamente a assumir mesmo em meio a uma crise )".
"A terceira posição, que é a posição da Esquerda, toma pleno conhecimento do papel do capital financeiro na globalização contemporânea. Ela gostaria de uma globalização despida da hegemonia da finança, na qual governos democraticamente eleitos são capazes de controlar a finança ao invés de serem por ela controlados. Há sérias diferenças dentro da Esquerda sobre o grau em que um país deveria desligar-se da globalização se a hegemonia da finança não for vencida. No contexto europeu este dilema toma a forma de se um país deveria permanecer na União Europeia se as suas tentativas de se livrar das cadeias da finança não derem fruto. O Syriza na Grécia decidiu permanecer na UE apesar não conseguir livrar-se da "austeridade" imposta pela finança sobre o povo grego. Nas últimas eleições francesas Melenchon, o candidato da esquerda apoiado pelo Partido Comunista exigiu uma renegociação do acordo da UE e controle político sobre o Banco Central Europeu, enquanto deixava aberta a questão de abandonar a UE (presumivelmente até o resultado das negociações de todas estas questões)".
"Como o trumpismo e a ultra-direita em geral fracassam, uma vez que não enfrentam a questão básica da hegemonia da finança, e como a esquerda adquire maior clareza sobre a necessidade do desligamento da globalização no caso de a hegemonia da finança continuar a persistir, a bancarrota da posição "liberal burguesa" levará cada vez mais trabalhadores a apoiar a esquerda. Isto já está a acontecer com a ascensão de figuras como Corbyn, Sanders e Melenchon; isto aumentará de ímpeto se a esquerda abandonar sua ambivalência residual sobre a globalização".
PRABHAT PATNAIK
"O argumento de que o proteccionismo da espécie que Trump está a promover não pode logicamente elevar o emprego e a produção está obviamente errado.
Mas ele pode promover o emprego só se os outros países não retaliarem contra o proteccionismo dos EUA.
Uma vez que o proteccionismo "exporta desemprego" para outros países, ele pode certamente "funcionar" se os outros países estiverem desejosos de importar desemprego. Mas se não estiverem, o que naturalmente é o cenário PROVÀVEL, então o proteccionismo cessa de funcionar e o proteccionismo competitivo pode mesmo AGRAVAR a condição de todos tomados em conjunto".
Prabhat Patnaik
O texto de Patnaik é sem dúvida excelente.
Merece uma leitura atenta. Põe a nú quer o trumpismo e movimentos afins, quer o capital financeiro globalizado, bem como a evidente bancarrota intelectual, que a adesão a este processo de globalização pela assim chamada "burguesia liberal" evidencia. No fundo esta está comprometida até ao tutano com a ortodoxia do capital financeiro. E o economista indiano avisa que tal só está a servir para reforçar o apelo da ultra-direita.
Claro que é sempre útil ler de novo o que o autor indiano diz sobre o proteccionismo de trump ( registe-se que este não tenha uma palavra a dizer sobre restrições ao capital financeiro).
Mas embora o texto seja de grande valia, é um pouco excessivo ler de novo os mesmos pedaços. Quem não está sujeito a alheias fossanguices nos propósitos, sente um certo incómodo e dirá:
Mas isto já não lemos mais acima?
Provavelmente já sabemos o que o provavelmente distraído comentador virá dizer a seguir:
"Foi mesmo por engano que coloquei algumas frases do texto
Peço por isso desculpa aos leitores dos ladrões de bicicletas pela repetição do comentário no presente post."
......
(Não queremos acreditar que tal repetição seja influência já do alemão. Ou dos alemães)
"O argumento de que o proteccionismo da espécie que Trump está a promover não pode logicamente elevar o emprego e a produção está obviamente errado.
Mas ele pode promover o emprego só se os outros países não retaliarem contra o proteccionismo dos EUA.
Uma vez que o proteccionismo "exporta desemprego" para outros países, ele pode certamente "funcionar" se os outros países estiverem desejosos de importar desemprego. Mas se não estiverem, o que naturalmente é o cenário PROVÀVEL, então o proteccionismo cessa de funcionar e o proteccionismo competitivo pode mesmo AGRAVAR a condição de todos tomados em conjunto".
Prabhat Patnaik
Perfeitamente de acordo com a frase do economista indiano
Embora continue por esclarecer esta ruminação em forma de repetição um pouco catatónica e suspeita.
De facto, o Alemão pode estar implicado. Embora o outro alemão, o Wolfgang Schäuble é que sabe da poda, pois governa a Europa sem precisar nem de berros histéricos nem de repetições, poupando-nos assim a "Foi mesmo por engano que coloquei algumas frases do texto ..."
Deixa estas tontices para outros que.
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