Um estudo da DGEEC, que entre outras conclusões mostra que as reprovações são ineficazes e contraproducentes no combate ao insucesso escolar, vem reforçar uma conclusão a que vários estudos recentes (como este da Aqeduto, por exemplo) têm chegado: o perfil socioeconómico dos alunos é muito relevante para compreender os resultados escolares e constitui, por isso, um elemento incontornável no quadro dos desafios que se colocam ao sistema educativo português.
Analisando os resultados no 2º ciclo do ensino básico (5º e 6º ano), a DGEEC conclui que as taxas de reprovação diferem substancialmente em função da existência de apoios de Ação Social Escolar, um indicador relevante do estatuto socioeconómico das famílias. Em termos gerais (média das taxas de reprovação por disciplina), no conjunto de alunos beneficiários de ASE a taxa média de reprovações ronda os 13%, mais do dobro da registada no universo de alunos que não carecem de apoio, a rondar os 5%. E se dúvidas subsistirem quanto ao reflexo do estatuto socioeconómico dos alunos nos resultados escolares, a diferença entre os que se encontram no primeiro e no segundo escalão de ASE é elucidativa: a taxa média de reprovação no primeiro escalão (alunos mais carenciados) atinge os 17%, quase o dobro do valor registado no segundo escalão, de 9%.
Por áreas disciplinares as discrepâncias mantém-se, sendo apenas mais ténues nas Artes (Educação Musical, Educação Visual, Educação Tecnológica e Educação Física). Nas Ciências (Matemática e Ciências Naturais), cerca de 3 em cada 10 alunos do primeiro escalão de ASE reprovam, valor que passa para 2 em cada 10 no universo de alunos com o segundo escalão e para 1 em cada 10 nos alunos que não carecem de apoio no âmbito da Ação Social Escolar. No caso da Matemática, a disciplina com taxas de reprovação mais elevadas, as diferenças estabelecem-se entre os 46% registados nos alunos do primeiro escalão de ASE, 30% no segundo escalão e 18% nos alunos sem necessidade de apoio social escolar.
O estudo da DGEEC não desagrega os dados por subsistemas de ensino. Mas sabendo - como sabemos - que as escolas privadas acolhem uma menor proporção de alunos beneficiários de ASE, também por aqui se compreendem as melhores posições que estes estabelecimentos de ensino tendem a obter nos rankings anuais de resultados de exames. O padrão é, de facto, muito claro: quanto menor é o estatuto socioeconómico dos alunos, maior é a propensão para elevadas taxas de reprovação e resultados escolares menos significativos.
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11 comentários:
Os factos objectivos são tramados.
E todos estes dados são importantes não só como denúncia como para servirem de base de trabalho para.
Entretanto:
2,6 milhões de portugueses em risco de pobreza ou exclusão social
"Em Portugal, há 2,6 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social. A conclusão é do INE, com base no inquérito às Condições de Vida e Rendimento relativo ao ano de 2016.
Os resultados do INE indicam que o rendimento para as pessoas em risco de pobreza foi de 3865 euros (2015), um valor que compara com um rendimento disponível por adulto de 8782 euros. A evolução dos rendimentos entre 2014 e 2015 foi favorável em todas as classes e mais expressiva para as pessoas rendimentos mais baixos.
Em 2016, 2595 milhares de residentes encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social. Isto é, 25,1% da população portuguesa. O valor traduz uma redução de 1,5% face ao ano anterior."
Sobre estes dados há quem tente dourar a pílula e até cite Cavaco, vomitando os lugares-comuns dos trogloditas neoliberais.
Em português. Em privado será em alemão?
Imagino o quanto de estudos são feitos para comprovar uma evidência de todos os tempos!
Imagino também que ninguém se atreveu a propor infringir o sacro princípio da igualdade e a tratar diferente o que é diferente.
Talvez lhes deem de comer, mas ensino diferenciado seria uma grave ofensa, provavelmente até a Constituição se arrepiava.
Por outro lado, as reprovações demonstram que o que é tratado como igual é diferente, e com tal evidência, que toda a alma sensível-ó-esquerdalha acorre a anatemizar semelhante instrumento, que pode chegar ao extremo de levar o calino a sentir-se calino e o grunho a saber-se grunho
E os pais, coitadinhos, podem ser confrontados com os resultados da sua incúria e perderem a possibilidade de se dizerem iguais ao vizinho.
O ódio boçal à Constituição da República portuguesa faz lembrar os impropérios contra o Tribunal Constitucional quando este vetou um corte de 10% nas pensões de aposentação, reforma e invalidez de valor ilíquido mensal superior a 600 euros
E um dos tipos que mais insultou o TC foi precisamente o coitadinho que anda aqui a falar dos coitadinhos
Queriam Coelho e Portas tratar de forma igual o que era diferente? Com toda a certeza.Mas queriam sobretudo persistir no saque a quem trabalha. Tratando de forma diferente quem tinha mais. Sobretudo permitindo uma via verde, isenta de impostos, para os trafulhas do grande poder económico. Banqueiros e grandes capitalistas na primeira linha.
Começamos a ver que afinal se comprova o já aqui dito. Os factos objectivos são poderosos. E deixam agitados e inquietos quem faz dos hinos à desigualdade o seu discurso ideológico.
A perpetuação das condições de pobreza tem uma relação directa com a perpetuação dum ensino "com elevadas taxas de reprovação e resultados escolares menos significativos"
A boçalidade de quem agita o vizinho e os pais do vizinho e outros dislates semelhantes só é ultrapassada pela invocação de "calinos e grunhos" por parte do mesmo sujeito.
Estamos assim no domínio concreto da casta social defendida por um dos membros dessa casta?
Provavelmente defenderá ao mesmo tempo os "bordéis tributários", ou as coutadas de caça daquele Melo do PP. Ou o saque de meia dúzia de donos de colégios privados para se manterem a viver das rendas pagas pelo erário público.
Cala-se agora o coitadinho quando se denuncia o que está por detrás dos rankings? Ou pela situação dum país que viveu tempos de chumbo governado pelo amigo alemão e pelo Passos Portas?
Interessante. Há uns anos fiz um trabalho(mestrado) na Universidade de Aveiro, que apontava para estes resultados, mas embora estes fossem evidentes(era um trabalho de campo), o professor não aceitou esta evidência: outros tempos e outras orientações, o politicamente correto das nossas faculdades e do Ministério não aceitavam a evidência.
Aqui está mais uma evidência que o sistema escolar público não funciona. Na teoria socialista, o sistema público de ensino é o que melhor serve os interesses da população. Estamos a ver! Serve efectivamente os interesses dos mais ricos.
Só a privatização deste serviço permitiria um nivelamento de resultados. Ao serem privadas, as escolas competiriam entre si pelos melhores resultados. Isso signicaria que os professores teriam que lutar por subir as notas dos alunos... De TODOS os alunos, ricos ou pobres!
O que temos hoje? Um sistema público (na sua maioria) onde os professores (funcionários públicos) não têm qualquer motivação para subir as notas. Sejam bons ou maus resultados, a vida destes professores continuará na mesma. Para quê fazer um esforço? É natural este pensamento, é humano. No entanto, os alunos ricos vão encontrando soluções fora da escola (aulas particulares, explicações, etc). Os pobres...esses desgraçados, bom, que se lixem, não é verdade? Assim vamos com o nosso sistema público de ensino. Que bom é viver em socialismo!
Então as reprovações são ineficazes e contraproducentes?! Desejam criar um sistema dual para pobres e ricos, com diferentes fasquias, em que todos passem? Acham que isso é a forma de resolver o problema?!!! Não seria o combate sério, tentar insistir nas crianças de menor rendimento, para que estas conseguissem ultrapassar a dita fasquia? E também a diminuição da desigualdade sócio-económica? Deixo aqui um texto de alguém que realmente pensa a Educação!
https://aventar.eu/2017/05/17/foi-bonita-a-festa-pa-2/#more-1278000
Mais uma vez a incrível ignorância de quem anda aqui a defender os interesses privados.
Aldraba, mente e manipula para promover o mercado....da educação?
Deve pensar que somos todos parvos?
Sabemos que o acesso à educação não deve ser condicionado pelo nível económico dos pais dos alunos. Cabe ao Estado assegurar tal desiderato.
Quer este tipo convencer-nos do nivelamento dos resultados resultante do assalto privado ao ensino?
O acesso às melhores escolas seria feito com que criterio? De acordo com os rendinentos dos pais? E quem não tivesse rendimentos? Estaria lixado? Ou o Estado pagaria para que tivesem acesso a escolas privasdas...enriquecendo os intermediários privados dum negócio sujo?
Isto é um processo aldrabão de vender gato por lebre? De negociar com a educação para beneficio do Capital? De promover rendas para parasitas do dinheiro?
"Ao serem privadas, as escolas competiriam entre si pelos melhores resultados. Isso signicaria que os professores teriam que lutar por subir as notas dos alunos..."
Isto não é a sério pois não?
Professores a lutar por subirem as notas dos alunos? Para competirem as escolas entre si?
E seriam pagos de acordo com essa luta por se subirem as notas?
Desta forma involuntária a manifestação de todo o horror ligado a tais esquemas privados.
"os professores (funcionários públicos) não têm qualquer motivação para subir as notas".
Se lhes fosse permitido olear o sistema já teriam motivação para subir as notas?
Isto é um convite descarado a esquemas mafiosos. E uma ignorância abissal do que é a escola e o ensino.
São estas alminhas que andam a fazer a propaganda dos mercados? Deste jeito? Com esta demagogia letal para quem a usa?
E com patetices tão grandes que têm o desplante de acabar com "isto": "Que bom é viver em socialismo!"?
Isto não pode mesmo ser real. Há ou devia haver mínimos. Um voltar à escola, o ler um pouco mais. O consultar livros ou documentos da net fidedignos.
Agora postar o escrito nas paredes de blogs manhosos de tal forma extremistas que classificam a nossa situação como de "socialista"?
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