domingo, 24 de abril de 2016

Nada como viver entre milhões de pobres

O que andará na cabeça das pessoas que sublinham, advogam, repetem, repetem que há uns milhões de malandros, mais de metade da população, que vivem à custa do Estado, que recebem pensões - subentende-se que não deviam receber porque são um encargo para todos, sobretudo para os mais jovens -, que recebem vencimentos como funcionários públicos - que não deviam receber porque são pesos mortos para a sociedade - que recebem subsídios de desemprego - subentende-se que só lhes faz mal porque deixam de ter incentivos para trabalhar, - que recebem apoios sociais - subentende-se que não deviam receber porque a pobreza é um estado de espírito até serem tocados pelo espírito divino do empreendedorismo?

Esquecem que os pensionistas descontaram para a pensão e se não descontaram é porque estão a receber algo que evita que ficam abaixo de um limiar de sobrevivência. Esquecem que os desempregados não ficaram desempregados por vontade própria e que o desemprego é a o principal factor de desagregação social, de perda da integração social e de queda na pobreza. Esquecem que os funcionários públicos são aquelas pessoas que cumprem as diversas funções para que a sociedade não caia na selva. Esquecem que os apoios sociais são isso mesmo apoios. E omitem que o empreendedorismo é fácil com capital herdado que - defendem - nunca deve ser tributado na herança porque a igualdade de oportunidades começa na cabeça e não no capital...

E depois na sua ânsia de vender a sua tese de que há tantos malandros a viver à custa de todos, fazem mal as contas. Somam pensões e esquecem que pode haver pensionistas que ganham duas pensões ou mais, porque - repita-se - descontaram para elas ao longo da sua vida, na lógica de um seguro!

Fazem isto tudo, mas sobretudo nunca se lembram de pensar por que raio existem tantas pessoas pobres, tantos desempregados, tantos apoiados pelo RSI...

Ah, lembram-se sim. E culpam quem? Claro, o Estado. Se o Estado não os apoiasse, a sociedade seria muito mais equilibrada, haveria menos pobres e desempregados e éramos todos muito mais felizes...

A sério? (tradução da expressão desdenhosa Really?)

16 comentários:

Jose disse...

Caro João,
É desonesto discutir assuntos de uma tal gravidade potenciando os extremos como base da discussão.
Ora nem todos são malandros, nem todos são vítimas.
Mas o certo é que a esquerda - que como sabe é dirigida por pastores que dependem na sua função de terem um rebanho para pastorear - não só pressupõe como promove o estatuto da vítima, modo mais que óbvio de promover a formação do rebanho de dependentes de que a sua existência depende.
Sempre que ouço o mantra esquerdalho da vitimização, sempre me vem à memória uma reportagem em que o Cardeal Cerejeira falava às JOCistas em termos muito semelhantes!

Anónimo disse...

Caro João Ramos De Almeida, quantos posts desses bloggers do insurgente são falácias baratas ou partem de principios ideológicos quase radicais ou radicais mesmo?
Há que ir apontando o ridículo ao mesmo tempo que não se deve dar-lhes muita importância, salvo em raros casos.
Ainda anteontem tentei fazer um comentário, entretanto o autor do post já fez vários outros posts e o meu comentário ainda não apareceu, pelo que desconfio que não tenha sido aceite.
Já agora, confesso, já me dei ao trabalho de ler imensos posts desse blog para ver o que se aproveitava e porque é curioso aquilo que se lá lê, não por bons motivos...e em vários posts de alguns autores há uma espécie de tese que é a seguinte: Portugal instituiu o socialismo em Portugal algures no tempo, e entretanto vinha-se endividando no exterior e aumentando imenso a carga fiscal a quem trabalha para pagar tanto bem-estar a pessoas que não queriam trabalhar. E mais ou menos por causa disso, Portugal entrou em crise económica e pediu ajuda externa... Portanto há que destruir o Estado, criador da crise económica atual.

Anónimo disse...

As grandes falácias destes fanáticos da direita são:

- Eles querem acabar com o Estado
- Eles são muito trabalhadores e produtivos e os outros andam a viver acima das possibilidades


A realidade é que eles não querem acabar com o Estado, eles querem o Estado Novo versão 2.0, e não, eles não são gente que gosta de trabalhar, vejam o caso do Passos Coelho.


Estes fanáticos neoliberais ainda não preceberam o quão descredibilizados estão...

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
O problema dos combates é que se arriscam a não debater seriamente os assuntos. É difícil acalmar os exaltados e primários. Como é que se debate com extremistas que apenas querem tudo queimar? Quem é que se lembraria de contar as pessoas que recebem pensões, vencimentos, subsídios? Faz sentido em qualquer debate? Será que essa gente defende o fim do Estado e da Segurana Social, tudo ao mesmo tempo? Vê onde quero chegar?

Não se trata de vítimas ou malandros. Trata-se de discutir sistemas. E fechada essa questão, aí podemos debater se há formas mais inclusivas e menos viciantes. Mas isso é todo um outro tabuleiro de debate. Discutir o nível apenas quer dizer que se afirma uma coisa: é necessário cortar. E isso não resolve nada.

Anónimo disse...

Como? Desonesto é crismar os funcionários públicos como esse paradigma da desonestidade o faz. Ja la iremos

Jose disse...

Caro João
Discordo quando parece dizer que as contagens são indiciadoras de radicalismos.
As não contagens é que normalmente o são.
É típico do radicalismo proporem para toda acção e a iodo o tempo o fundamento do «dever ser», ignorando o «poder ser» que sempre requer que se contem recursos ou avaliem meios.
Toda a estória das pensões e reformas é um chorrilho de desatinos em que a equidade está ausente e o equilíbrio no tempo é ignorado pela dominância do imediato.

Anónimo disse...

Com classificar quem anda a escever isto em blogs de extrema-direita:
"Não se esqueçam dos refugiados que o Costa anda a tentar trazer para cá, ainda que contrariados!.
A construção de mesquitas vai animar a construção e a sua integração vai contribuir imenso para promover o emprego e enriquecer a escola pública"

Como alguém diria:"É desonesto discutir assuntos de uma tal gravidade potenciando os extremos como base da discussão.
Ora nem todos são malandros, nem todos são vítimas."

A pieguice insuportável de andar para aqui a chamar de desonestos aos demais, utilizando argumentos que nunca lhe couberam numa escrita honesta

Anónimo disse...

"O caso é que a função pública é um antro de ineficiência, de direitos onde não há chefias que cobrem deveres, de sindicatos montados para suporte da acção política de comunas.
Quantos menos, melhor, para o salário de TODOS e não tão só para o dessa matilha de beneficiados dos políticos!"

Isto é dito pelo mesmo tipo que,feito piegas, se vitimiza por ser "desonesto discutir assuntos de uma tal gravidade potenciando os extremos como base da discussão.
Ora nem todos são malandros, nem todos são vítimas."

Desonesto a toda a prova a fazer-se passar por virgem púdica com a bênção do cardeal Cerejeira

Anónimo disse...

"Toda a estória das pensões e reformas é um chorrilho de desatinos"

Ah este ódio sebento e de classe,contra as reformas enquanto se chora os desvalidos que têm que colocar o seu dinheiro em offshores. Para "proteger o risco de investimento".

Anónimo disse...

"Mas o certo é que a esquerda - que como sabe é dirigida por pastores que dependem na sua função de terem um rebanho para pastorear"

Eis mais uma prova da desonestidade e da pesporrência intelectual de quem se lamuria aí em cima pela desonestidade dos outros.

O pastoreio e o rebanho.Linguagem teológica não inocente que coloca em rebanho quem ouse não seguir a "equidade" e o "equilíbrio no tempo " papagueadas pela direita e extrema-direita, como forma de alimentar o seu saque.
A questão é que este tipo de linguagem confere a quem não segue a cartilha da extrema-direita um estatuto de menorização, como se as pessoas não pudessem pensar pela sua própria cabeça.
Mas é mais grave do que isto.Porque pode sugerir, seguindo um velho e explicito princípio nazi, que a situação estaria resolvida se eliminados os tais pastores que andam a tresmalhar o rebanho.

Salazar tentou seguir o preceito. Na sua linguagem de seminarista apelava à "conversão dos filhos pródigos para o rebanho do Bom Pastor", e perseguia, prendia e torturava quem considerava ser pastor que contrariasse os seus desígnios de ditador. Seguia duma forma muito mais modesta os ensinamentos de Hitler.

Uma linguagem que define atitudes,princípios teológicos e ideológicos.

fernanda disse...

O discurso sobre a pobreza é normalmente um discurso ideológico que tende a escamotear a origem deste fenómeno social e a culpar as próprias vítimas; assim se apaziguam consciências e se mantém o statu quo.
Thomas Malthus, no século XIX, com a sua famosa proclamação de que a produção cresce em progressão aritmética e a população em progressão geométrica, preconizava que o Estado nada fizesse para ajudar os pobres porque desse modo acabariam por morrer e o problema resolvia-se naturalmente. Claro que, como se veio a provar, a proclamação de Malthus revelou-se errada, mas lamentavelmente a ideia que o senso comum mais boçal tem do fenómeno nem por isso se alterou.

Jose disse...

Pergunto-me o que seria dos esquerdalhos sem a invocação de nazis, fascistas e outros associados como elemento estruturante da sua indigência ideológica!!!

Anónimo disse...

Esquerdalhos?

Eis um bom tema para averiguar a pesporrência metodológica de alguns e a sua estruturante indigência ideológica ( com muitos pontos de exclamação ,como é hábito do género)

Entretanto sobra o silêncio cobarde sobre a referida desonestidade em discutir assuntos de uma tal gravidade que potenciam os extremos como base da discussão.
já que nem todos são malandros, nem todos são vítimas.

Viva o 25 de Abril.Uma excelente prenda de aniversário, pesem as choraminguices da altura e de agora

Anónimo disse...

cagalhão zé
há que chamar os bois pelos nomes
tu és um cagalhão fascista
a adjectivação, no teu caso, peca sempre por defeito
tanto na parte do cagalhão como na parte do fascista
esta "invocação" não é feita por estruturação mas sim por amor à verdade

Anónimo disse...

Experimente contratar alguém que esteja a receber o subsidio de desemprego e logo compreenderá aquilo que não quer compreender.

cumps

Rui SIlva

Anónimo disse...

Experimente-se contratar alguém a receber o subsídio de desemprego e logo compreenderá o que não quer compreender?

Mas que processos de intenção são estes? Que maneira cobarde de não dizer ao que se vem, "argumentar" com uma falácia e tentar tapar o sol com a peneira?

O alvo agora é o subsídio de desemprego? Ouve-se e vê-se já o salivar perante tão ridente perspectiva?

Subentende-se que não deviam receber porque são um encargo para todos, sobretudo para os mais jovens; subentende-se que só lhes faz mal porque deixam de ter incentivos para trabalhar; subentende-se que não deviam receber porque a pobreza é um estado de espírito. Contra-argumentar a isto merece esta espécie de comentário do Sr Silva a raiar o pesporrento e o ofensivo.

Subentende-se que o Capital quer mais. Quer continuar a esmifrar quem trabalha, a um preço de uva mijona para que depois os que lucram com toda esta bandalheira possam desviar o dinheiro para os offshores ( na Alemanha,também pois claro)com o intuito de "proteger os riscos de investimento".
Mas para que são precisos este tipo de "empregadores" se eles vivem à custa de quem trabalha?

Eis o panorama.Ainda há quem diga que não há luta de classes.