segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Nervos de aço


Quando os bloquistas fazem uma campanha sobre o Novo Banco, com a questão “pagar para vender?”, em defesa de um pólo público reforçado e em linha com a justa crítica à escandalosa resolução do Banif, acham que estão nervosos? Quando Catarina Martins apela a Costa para que defenda a Constituição face à chantagem de Bruxelas, esperando eu que tenha um Plano B para propor, acham que está nervosa? Eu acho que não, claro. Esta a fazer política, como deve ser.

Neste contexto, interrogo-me: o que leva alguns destacados comentadores de esquerda, em especial Daniel Oliveira, um dos mais argutos, a afiançar repetidamente que os comunistas andam “nervosos” e que podem por causa desse estado colocar em causa o acordo? Lendo o comunicado do Comité Central, e observando a sua prática, não vejo nada disso. No que ao acordo diz respeito, vejo bom senso, tanto na sua defesa, como na identificação das ameaças que sobre ele impendem: ameaças externas e das forças internas subservientes a Bruxelas-Frankfurt, elementos que Daniel Oliveira conhece tão bem ou melhor do que eu. Não, não são as “rivalidades” entre BE e PCP, não são o BE e o PCP que fazem perigar o início da superação da austeridade. Muito pelo contrário.

A tese do selectivo nervosismo foi prolongada no Expresso de sábado passado: a rivalidade com o bloco levaria os comunistas a apostar na mobilização sindical, onde teriam vantagens comparativas, causando problemas ao governo. Os absolutamente necessários freios e contrapesos sociais e nacionais, para fazer frente a Bruxelas e às hesitações e contradições do governo, são transformados numa mesquinha luta partidária, como se os sindicalistas e os trabalhadores fossem marionetas, tese que de resto pode encontrar campo fértil numa imprensa tão anti-sindical quanto anti-comunista. A apatia social é a melhor garantia de derrota e o protesto é sinónimo de energia vital construtiva.

Nesse mesmo Expresso podemos ler, entre outras, as declarações do historiador José Neves: sublinha de forma pertinente como, para lá da espuma das relações entre BE e PCP, hoje bloquistas e comunistas têm diagnósticos mais convergentes em matéria europeia, até porque os primeiros, sublinho eu, passaram a insistir mais na dimensão soberanista cara aos segundos, sobretudo depois do esmagamento da esperança na Grécia. Entretanto, todas as componentes que contam na solução de governo têm revelado, em geral, e independentemente das naturais divergências, disciplinados nervos de aço. Um exemplo a seguir.

10 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma vez um excelente comentário.Também em forma de aviso, de alerta e de desmistificação.

Anónimo disse...

Penso que a greve da passada sexta feira talvez seja uma das razões que leva a que vários comentadores falem desse mesmo nervosismo. Estar a convocar greves numa altura em que se está a discutir a reposição dos salários e das 35 h parece ser algo um pouco exótico no momento político atual.

Dias disse...

Oportuno artigo! Nervos de aço precisam-se, identificar o alvo também.
A direita vai tentar explorar rivalidades PCP/BE, e mesmo minar dentro do próprio PS, com um único objectivo: tentar fazer cair o governo.
Para mim, nem que a melhoria trazida por este governo apoiado pela esquerda se traduza de forma redutora e simbólica no “ganho de um cêntimo”, jamais poderemos entregar o ouro aos bandidos.
A título de exemplo, e como um anónimo aqui comentou, foi evidente a falta de oportunidade da greve da FP da semana passada, opinião que corroboro (mal estariam os trabalhadores, entre uma UGT colaboracionista e uma frente sindical infantil…)

Anónimo disse...

Já agora gostava de saber se as pessoas que aqui falam do exotismo ou da falta de oportunidade da grave da FP, trabalham 35 ou 40 horas?
É que andar a trabalhar de borla 5 horas por semana não é muito agradável.
Ou seja, o senhor Dias e o Sr. Anónimo das 03:22, gostava de ser postos a trabalhar de borla?

Já chega, né?

A.Silva

Anónimo disse...

Sinceramente espero que estejam nervosos, já que o resultado não é certo, em ambos os casos. Nervosismo significa neste caso que se tem consciência das dificuldades e que há possibilidades de a coisa correr mal. Certezas é sinal de estupidez ou, no mínimo, de inconsciência. E para isso já bastou o Cavaco que nunca se engana.

Anónimo disse...

“alguns governos, poucos de certo, bateram o pe´ responsavelmente e ousaram enfrentar política e economicamente e, sairam, em geral, muito melhor do que entraram na crise sistemica desta Europa Comunitaria. Enquanto outros, como os direitistas governos portugueses, se acomodaram e assumiram o caminho da decadência e servidao prolongadas”. O exemplo da Grecia foi exemplar mas no sentido de mostrar ao mundo que há condiçoes para lutar.
Este povo esta´ hoje melhor que nosoutros… mais capaz para enfrentar o colosso, mais sabedor da vontade do inimigo. Mostrou não ter medo…E isso doeu, feriu gravemente o capital financeiro. Nestes tempos que correm quem ousa enfrentar a Besta já tem mais condiçoes de exito.
O governo PS vai nesse caminho ao se apoiar a´ esquerda! Tal enfrentamento e´ perigoso! Claro.
Cabe a´ esquerda esclarecer seus apoiantes e povo em geral dos obstaculos, das barragens que a seita direitista conservadora e retrograda levanta contra seu proprio povo. De Adelibo Silva

Jose disse...

Não me parece que seja uma questão de nervos.

É uma pulsão, uma inevitabilidade, um ter-que-ser 'fazer política como deve ser'.

Por outras palavras: arengar, dar o improvável por possível, o impossível por desejável e sempre sempre estar em luta, porque só A Luta salva.

Anónimo disse...

Porque só a luta salva? Perdão, só a a Luta salva?
O que é isto? Um convite desavergonhado à submissão acéfala , obediente e obrigada a quem mais tem e a quem manda?
Uns resquícios do célebre "quem manda,quem manda, quem manda? ouvido nos tempos do velho depravado, mandante de crimes de morte e de assassinos por encomenda?

Por outras palavras, quem anuncia esta frase que oscila entre a ameaça e a pieguice:"Se me sacassem 53% do meu rendimento, para além da outra coleção de impostos, garanto-lhe que faria o necessário para que tal não voltasse a acontecer". é o mesmo que agora fala em pulsão, em arenga, em improvável em possível, em impossivel, em desejável,em luta, com este tom desdenhoso e inqualificável?

Aqui, involuntariamente demonstrado que só tomando nas nossas mãos o nosso futuro colectivo é que chegamos a algum lado.Porque este convite à cobardia e à obediência aqui em cima formulado esconde no fundo uma coisa: o medo patente que ousemos lutar por um Mundo Melhor

Jose disse...

DE, a parvoíce está cada vez mais evidente!

Anónimo disse...

Ah!
As pulsões escondidas atrás dos pesadelos particulares e peculiares. O esconjuro da luta, perdão, da Luta, como tema de exorcismo de outros medos e outros receios. Os convites a submissões e a cobardias são convites velhos de séculos. E quem os profere está profundamente empenhado em manter a mesma condição abjecta em que singra e em que prospera.
Cada vez mais evidente, sem necessidade de qualquer ponto de exclamação.