quinta-feira, 18 de junho de 2015

Desinformação militante ou preguiça jornalística?


O Público ontem esmerou-se. Não só deu à estampa um editorial confrangedor, em que se papagueia de forma acéfala o discurso oficial em torno dos números do desemprego (como o João Ramos de Almeida aqui oportunamente assinalou), como decide colocar nas «gordas» da primeira página (sobre a tensão negocial entre a Grécia e as «instituições»), um título que parece ter saído directamente da capa do Correio da Manhã ou de um escrito do Camilo Lourenço.

Segundo o jornal Público, na sua edição de ontem, uma Grécia irresponsável teria exasperado esse monumento à sensatez e ao sentido de equilíbrio que é a Europa dos nossos dias, restando assim a improvável hipótese de que um «milagre» salve a situação. Para percebermos a seguir, ao ler a notícia propriamente dita, que a expressão «milagre» fora utilizada pelo primeiro-ministro finlandês, Juha Sipila («a situação é difícil e o calendário apertado. Pode-se dizer que é preciso um milagre para ter o assunto resolvido na próxima semana»), sem que essa referência seja feita no destaque de primeira página.

Nada de novo portanto, se pensarmos na prevalência das campanhas mediáticas de desinformação militante (ou, admitindo hipóteses mais benignas, na persistência da preguiça jornalística e dos «hábitos de pensamento»). Para o Diário Económico, por exemplo, as coisas são igualmente simples: uma Grécia irresponsável continua a penalizar as pobres praças financeiras da Europa, essas mártires dos desmandos da política e da democracia (pelo que o plano das «instituições» para «resolver» a questão grega não é, obviamente, para aqui chamado).

9 comentários:

Anónimo disse...

Que comédia.

TL disse...

A edição de hoje do público tem artigo cujo título é qualquer coisa como "mosca grega no prato da sopa europeu"... o facto de ser opinião não justifica a publicação deste nível de linguagem
Mas o Público habituou-nos desde o tempo do JMF a campanhas deste género. Assim mais vale ir ao Observador que é de graça...
e depois há o Guardian ou outro do género para ter óptimo jornalismo e de esquerda.

Anónimo disse...

Infelizmente acho que a questão é bem mais funda do que simples "preguiça jornalista"

Todos os posts de denúncia ao nosso panorama mediático são bem vindos. Sobretudo quando expõem em toda a sua bestialidade a nossa imprensa dita de "referência". É por aqui que segue o caudal desinformativo e manipilador dos esgtos que dominam a nossa sociedade

Por exemplo alguém já leu alguma informação sobre isto?
"In a preliminary move to declaring default, the Greek Debt Committee concluded that all debts to the troika are odious and illegal.

When the default is declared officially it will be the beginning of the end to the single currency union that is the Eurozone.
A few more sleep, folks!

Daqui:
http://geopolitics.co/2015/06/18/greek-debt-committee-just-declared-all-debts-illegitimate-and-odious/
(via "Jorge")

De

Anónimo disse...

"O Syriza, o novo governo grego que pretendeu resgatar a Grécia da austeridade, chegou a um fracasso. O governo confiou na boa vontade dos seus "parceiros" da UE, só para descobrir que estes "parceiros" não tinham boa vontade. O governo grego não entendeu que a única preocupação era o resultado líquido, ou lucro, daqueles que possuem a dívida grega.

O povo grego está a olhar para outro lado tal como o seu governo. A maioria dos gregos quer permanecer na UE apesar de isto significar que suas pensões, seus salários, seus serviços sociais e suas oportunidades de emprego serão reduzidas. Aparentemente, para os gregos compensa serem enterrados para fazerem parte da Europa.

A alegada "crise grega" não faz qualquer sentido. É óbvio que a Grécia, com a sua economia arruinada, não pode reembolsar as dívidas que o Goldman Sachs escondeu e a seguir capitalizou com a informação privilegiada que dispunha, ajudando a provocar a crise. Se a solvência dos possuidores da dívida grega, aparentemente hedge funds de Nova York e bancos alemães e holandeses, dependesse de serem reembolsados, o Banco Central Europeu podia simplesmente seguir o exemplo do Federal Reserve e imprimir o dinheiro para assegurar a dívida grega. O BCE já está a imprimir 60 mil milhões de euros por mês para salvar o sistema financeiro europeu, então por que não incluir a Grécia?

Um conservador pode dizer que tal rota de acção provocaria inflação, mas não provocou. O Fed esteve a criar moeda durante sete anos e, segundo o governo, não há inflação. Nós temos mesmo taxas de juro negativas comprovando a ausência de inflação. Por que criar dinheiro para a Grécia cria inflação mas não para o Goldman Sachs, Citibank e JP Morgan Chase?

Obviamente, o mundo ocidental não quer ajudar a Grécia. O Ocidente quer saquear a Grécia. O acordo é de que a Grécia obtenha novos empréstimos com os quais reembolsar empréstimos existentes em troca da venda de companhias municipais de água a investidores privados (as tarifas de água subirão para o povo grego), da venda da lotaria estatal a investidores privados (as receitas do governo cairão, tornando portanto o reembolso da dívida mais difícil) e de outras "privatizações" tais como vender as protegidas ilhas grega a promotores imobiliários.

Isto é um bom negócio para toda a gente, excepto a Grécia."
Paul Craig Roberts

http://resistir.info/grecia/roberts_16jun15.html

(De)

Anónimo disse...

Parece a velha cantilena: "Mando eu é democracia. Mandas tu é ditadura".

A Grécia faz chantagem mas as "Instituições" não fazem chantagem nenhuma.

Tenta-se impor um plano suicidário. A culpa é da Grécia que recusa o suicídio.

Há qualquer coisa de surreal e louco nas "Instituições".

Ainda não perceberam que pedindo o incumprível só aumentam o tamanho da bota que (fatal como o destino) terão de descalçar.



Edgar disse...

Esta é Europa da ditadura financeira do pensamento único. Só se aceitam governos de direita submissos, neoliberais e austeritários que garantam a "estabilidade" do sistema.

Paulo Marques disse...

Esperemos que esteja para breve o fim do euro, e talvez até de toda a farsa da união europeia.
Quanto mais depressa acabar mais depressa se pode contruir uma coisa decente.

meirelesportuense disse...

Esta situação de chantagem vai acabar mal...A Grécia vai sair da Comunidade Europeia e aninhar-se nos braços da Rússia.

meirelesportuense disse...

Porque o que a Europa pretende é algo impossível, a Grécia não quer dinheiro, quer apenas fazer uma política que permita alargar os sacrifícios Gregos aos mais ricos e a Europa pretende apenas manter os cortes nas relações Laborais e nas Pensões. Isso não permitirá a Economia Grega crescer, irá colocar cada vez mais em crise o País Helénico. Mas a Europa -Alemanha, França, Escandinávia- só quer saber de baixar os salários nos Países periféricos para neles poder investir melhor e mais lucrativamente. Já têm muitos à escolha mas preferem ter ainda mais.