terça-feira, 16 de junho de 2015

Tremam


Wolfgang Munchau do Financial Times estima que as exigências austeritárias dos credores tenham um impacto depressivo cumulativo no PIB grego de cerca de 12,6% nos próximos quatro anos. Isto em cima de uma queda de cerca de 25%. Estaríamos para lá da Grande Depressão e rapidamente a chegar a algo parecido com a catástrofe russa, entre outras repúblicas da antiga URSS, do início da década de noventa, de resto inspirada pelo mesmo tipo de ideias perigosas.

Nos termos desta gente não se negoceia. Aliás, o tom de intransigência colonial da troika, de que fala o José Gusmão abaixo, é em parte o resultado da disponibilidade para certas cedências por parte do governo grego imbuído de um genuíno espirito negocial num contexto estrutural feito para imposições. Felizmente, parece que há aí quem olhe para Islândia em busca de inspiração rebelde.

Neste contexto, um governo patriótico só pode optar pelo incumprimento para com os credores, adoptando controlos de capitais, gerindo o processo de introdução de uma nova unidade monetária, desvalorizando-a, ganhando assim instrumentos de política, incluindo na frente orçamental interna, e transformando a corja política do centro nos “maiores perdedores financeiros da história” (Munchau): diz-se que estão em jogo para a França e para a Alemanha 160 mil milhões de euros, tendo ainda o europeísta Munchau esperança que o medo seja um bom conselheiro no centro. Não sei. Mas lembrando o que disse um amigo meu, só espero que “lhes tremam as pernas”...

10 comentários:

Jose disse...

Na contabilidade das perdas há que saber o que está perdido e o que se está em risco de acrescentar às perdas.
Quando a Grécia, entre outros mimos, quer manter o regime de pensões, quer garantir que há perdas para acrescentar e que a balda oportunista é para continuar.

Anónimo disse...

O FMI e as potências dominantes da UE estão a lançar a Grecia para fora do Euro. não medindo quais as consequencias que possam daí resultar.Se houver uma rotura esta será declarada de surpresa , muito provavelmente a uma sexta-feira. Os motivos da escolha desse dia são óbvios.O que poderá depois vir a segui é difícil prever.

Anónimo disse...

Sobre o que se está a passar é bom que se verifique o acréscimo galopante e repentino dos juros da dívida dos países do Sul da Europa . O FMI, o BCE e a Eurocracia de Bruxelas parece que perderam a noção do perigo e optaram pelo caminho da irresponsabilidade. Pra onde vai a situação económica e social dos referidos países ???

Anónimo disse...

"diz-se que estão em jogo para a França e para a Alemanha 160 mil milhões de euros"
É muito. Mas é preciso notar que, com ou sem acordo, há uma parte da dívida Grega que toda a gente sabe não vai ser paga. Qual é a diferença?

Anónimo disse...

Neste momento o problema da Grécia é que não parece haver nenhuma opção que evite perdas avultadas para os credores e simultaneamente regressão significativa do PIB na Grécia. Pior do que isso (se assim se pode dizer) é que não há sequer a convicção de que é possível ter uma estimativa credível para o limite dessas perdas e dessa regressão do PIB. Existe o receio, principalmente da UE, de que após estas perdas outras se sigam numa espiral que ninguém sabe onde vai parar e que limite terá.
Assim, do lado da Europa parece estar a vingar a tese de que o melhor é que cada parte assuma as suas perdas e as assuma as suas responsabilidades de forma separada (saída do Euro). Estranhamente (de acordo com este post), do lado da Grécia essa opção não parece ser ainda a preferida.

Anónimo disse...

"diz-se que estão em jogo para a França e para a Alemanha 160 mil milhões de euros"
Essa é uma faca de dois gumes. Por um lado é uma quantia enorme que podia pressionar a um acordo, por outro lado esses dois países terão certamente receio de que uma ajuda agora sem que nada de estrutural mude (do seu ponto de vista, claro) faça com que daqui a um ano o problema se agrave e estejam em jogo 300 mil milhões de euros. E depois?

Aleixo disse...

Esta história da CE.. BCE ... FMI ... e SIMILARES, enferma do mesmo problema do... passos coelho!

Arranjaram ´p'rá'i uns

!! c r e n t e s !!

... das boas intenções destes gabirus!

Anónimo disse...

Há quem prefira e insista " em mais cortes nas pensões, apesar de cinco anos de pilhagem" (...) (Alexis Tsipras)
"Os grandes bancos privados que participaram nos cortes, receberam uma compensação de € 30000000000, que foram adicionados à dívida pública grega" (Eric Toussaint,)
"Dizia o humorista José Vilhena que tudo o que sabia bem ou era pecado ou fazia mal ao fígado. Assim estamos com a UE: tudo o que seria necessário para o desenvolvimento económico e social do país e a sua autodeterminação a sua soberania (sim, é isto que está em causa!), não pode ser feito…porque vai contra as regras da UE.
Mas então para que raio serve a UE e o seu euro?! Para tramar a vida dos portugueses e desmantelar o país? Pelo menos é o que acontece.
É ver os “comentadores/propagandistas” justificarem o escândalo da alienação da TAP - mais um destes governos do “arco da ruína do país”. Sem argumentos perante a evidência das trapalhices, inverdades, incúrias, provocações, satisfazem-se a dizer face à evidência de tudo o que podia e devia ser e ter sido feito para salvar a TAP, “não pode porque as regras da UE não permitem."
Mas então, qual é o conceito de país que esta gente tem? E de interesse nacional? O que se percebe é que os interesses da “UE" – isto é da oligarquia dominante e defensores fundamentalistas dos tais “mercados” - estão acima do país e do povo.
Eis, pois, a UE da pobreza, do desemprego, da estagnação e retrocesso democrático…com as suas sacrossantas regras.
Ao povo grego, sacrificado ao limite, dizem: “as regras da UE são para cumprir, têm de fazer mais “reformas”
Sabemos bem o que esta linguagem hipócrita quer dizer. Os funcionários da troika que nos visitam, não escondem ao que vêm e o que querem, o que tem sido convictamente feito por este governo da extrema-direita do PSD e CDS.
Desde janeiro saíram da Grécia 30 mil milhões de euros. Eis uma das “vantagens” apregoadas pelos “europeístas” que nos diziam que com o euro e a livre transferência de capitais os países não mais teriam problemas de financiamento! Viu-se. Mas são os mesmos que continuam a perorar defendendo na TV e jornais o inacreditável e inaceitável. Para isso são pagos.
Sabe-se que o cenário de saída da Grécia do euro já está estudado, talvez mesmo decidido. Segundo Jacques Sapir no seu blog (Greece : default ahead ? 12-06-2015) a saída da Grécia seria mais prejudicial à UE que à Grécia.
A pressão sobre o euro, a subida dos juros para países como Portugal, Espanha, Itália - o que já se verifica - poderia conduzir a um efeito em cadeia. Para a Grécia uma desvalorização de 30% conduziria a uma inflação de 6 a 8% no primeiro ano. A Grécia teria possibilidades de fazer entrar parte dos capitais saídos do país através de medidas legais e fiscais.
De qualquer forma estas conversações seriam o cenário para a decisão já tomada, de forma a “salvar a face” de qualquer das partes.
Enfim, os países europeus mais frágeis têm de curar-se desta chamada União Monetária e UE: faz mal á saúde social e fisica das pessoas e se não é um pecado é um atentado à soberania e à democracia tão duramente conquistada na Europa contra o fascismo".
Daniel Vaz de Carvalho

De

Anónimo disse...

"... a saída da Grécia seria mais prejudicial à UE que à Grécia.
Para a Grécia uma desvalorização de 30% conduziria a uma inflação de 6 a 8% no primeiro ano. A Grécia teria possibilidades de fazer entrar parte dos capitais saídos do país através de medidas legais e fiscais."

Tudo muito simples e fácil. Dívidas limpas, um ano de inflação e pronto.
Por que espera então o Syriza para não pagar aos credores e sair do euro?
Por umas migalhas que lhe permitam pagar precisamente aos credores e depois voltar a pedinchar?
Por que espera então o Syriza para não pagar aos credores e sair do euro??

A frase que citei parece convencer todos ... excepto os Gregos (incluindo o Syriza). Porque será?

Anónimo disse...

O "porque será" é uma pergunta retórica que deve ser acantonada ao sítio correspondente.

Mas o que me obriga a intervir é a necessidade de corrigir o que é tido como dito e que não corresponde à verdade ( o porque será seria agora bem mais apropriado, mas adiante)
Ninguém disse que "Tudo muito simples e fácil."...só mesmo alguém muito "distraído" pode dizer tal disparate
"Ainda menos se ouviu dizer que "Dívidas limpas, um ano de inflação e pronto.". Aqui não estamos no reino do disparate, mas sim no reino da demagogia barata e pesporrenta.

O Syriuza, infelizmente é apenas um partido social-democrata.A UE parece que proibiu a social-democracia. O que mostra bem as "contradições insanáveis no âmago do processo de integração europeu. Essas contradições e o seu carácter insanável, são hoje mais ou menos cristalinas para quem não veja o Mundo com palas nos olhos." (João).

A solução: " um governo patriótico só pode optar pelo incumprimento para com os credores, adoptando controlos de capitais, gerindo o processo de introdução de uma nova unidade monetária, desvalorizando-a, ganhando assim instrumentos de política, incluindo na frente orçamental interna, e transformando a corja política do centro nos “maiores perdedores financeiros da história”.

É favor ( por uma questão ao menos de honestidade intelectual ) não andar a deturpar o que é dito e a afirmar o que não é dito

De