sexta-feira, 30 de março de 2012

A cassete de um banco que não é de Portugal

Carlos Costa, o actual Governador do Banco de Portugal, foi uma espécie de secretário dos negócios estrangeiros do BCP, o que não podia deixar de envolver off-shores, claro. Anteontem foi ao tribunal, onde estão a ser julgados os seus ex-colegas, declarar que o objectivo foi sempre "assegurar o interesse do banco". Não duvido. Assegurar o interesse do banco ontem, assegurar o interesse dos bancos hoje.

Ontem, Carlos Costa, um dos mais entusiastas apoiantes da austeridade sem fim, veio actualizar as previsões para a economia portuguesa, exercício penoso, mas a que já estamos habituados. Já vamos nos -3,4% de quebra do PIB e nos 170 mil postos de trabalho destruídos em 2012. Em 2013 logo se revê. A tal salvação pela procura externa está cada vez mais posta em causa, até porque a Europa está cheia de Carlos Costas. A cassete é a mesma de sempre porque esta gente não aprende: mais austeridade.

O BdP só tem outra obsessão, para além de defender os bancos: erodir os direitos laborais, fazer alastrar a precariedade e a insegurança, nome de código “disciplina de mercado” e “segmentação”. Enfim, não vale a pena repetir a crítica à lógica do BdP em relação a estas matérias, até porque o essencial sobre emprego e desemprego continua a não ser explicado: a economia vai sendo atingida por “choques”, coisas que acontecem num universo onde não há capitalismos, neoliberalismo e suas crises, nem respostas contraproducentes de austeridade.

O resto é a utopia das reformas de um Banco que, na realidade, não é, de múltiplas formas, incluindo a monetária, de Portugal. Isto não impede, pelo contrário, o BdP de ser o pilar ideológico interno do governo, sendo uma das instituições que mais quadros forneceu por esses gabinetes fora.

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