sábado, 27 de novembro de 2010

É para sempre, disse o ministro.

Hoje, mais de 100 000 cidadãos irlandeses protestaram nas ruas de Dublin contra a "ajuda" da UE/FMI e quatro anos de austeridade. Por aqui não serão quatro anos. O Ministro das Finanças já o disse com muita clareza (ver aqui): a redução nos salários dos funcionários da Administração Pública É PARA SEMPRE! Mas "para sempre" é a eternidade, que o mesmo é dizer "fora do espaço e do tempo". Onde julga estar o ministro?

10 comentários:

Anónimo disse...

Para sempre nesta legislatura. É ingénuo dramatizar tanto as palavras do Ministro.

O corte não é bem vindo. Vai piorar o nível de vida. Mas parece que andamos numa espécie de cegueira quando apontamos o dedo às medidas que foram tomadas. Medidas essas que sabemos que têm de ser tomadas neste preciso momento que atravessamos. Independentemente dos erros que foram cometidos no passado.

Jorge Bateira disse...

Blogocionário

Está enganado. É mesmo para sempre porque a redução dos salários na função pública não serve apenas para reduzir no imediato a despesa. Tem também por finalidade encorajar o sector privado a reduzir os salários, o que é (do ponto de vista da teoria económica dominante) a única forma de restabelecer a competitividade dos produtos que concorrem no mercado global.
Como já aqui temos argumentado, esta redução não vai resolver o problema do défice (produz recessão). E não vai levar à quebra dos salários nominais no sector privado, simplesmente porque os trabalhadores não o vão permitir e também porque muitos empresários são suficientemente lúcidos para perceber que aquilo que é um custo para a empresa (o salário) também é um rendimento que faz parte da procura agregada.

Obrigado pela participação.

jose antonio martins disse...

Não tenho dúvida que os cortes salariais na função pública sejam,de facto,para sempre.Concordo,igualmente,com o factor recessivo destas medidas e com o facto de,tradicionalmente,os empresários portugueses tenderem a aproveitar a "onda" para justificarem futuros cortes salariais.Já discordo consigo quando afirma que os trabalhadores não aceitarão esses cortes.Parece-me,infelizmente,que aceitarão tudo e os partidos dominantes e os sindicatos cujos líderes pertencem,numa boa parte,às estruturas dirigentes daqueles partidos sabem-no.

João Carlos Graça disse...

Tem razão no fundamental, caro Jorge Bateira, embora eu discorde do seu optimismo, na medida em penso que "não muitos" empresários compreenderão que a cooperação é a longo prazo melhor que o oportunismo e o "free riding" (aliás, a longo prazo, como sabem...).
A propósito da Irlanda, entretanto - mais um caso típico em que o problema verdadeiro é a solvabilidade e a actual "terapia" se limita à liquidez -, talvez seja melhor meditarmos nas perspectivas realistas de cooperação dos PIGS, ou na ausência delas. Veja-se, por exemplo, o que o Morgan Kelly diz da Irlanda, comparando-a sobranceiramente com os gregos. Deixo-vos uma pitada:
"I have been told that the Government’s reasoning runs as follows: «Europe will bail us out, just like they bailed out the Greeks. And does anyone expect the Greeks to repay?» The fallacy of this reasoning is obvious. Despite a decade of Anglo-Fáil rule, with its mantra that there are no such things as duties, only entitlements, few Irish institutions have collapsed to the third-world levels of their Greek counterparts, least of all our tax system".
Está aqui: http://www.irishtimes.com/newspaper/opinion/2010/1108/1224282865400.html
Claro está que o Sinn Féin não concorda com esta arrogância, e só ironicamente se refere a Kelly:
http://marxistupdate.blogspot.com/2010/11/sinn-fein-response-to-fianna-fail-green.html
Mas por outro lado o SF, dizem as sondagens, só representa 11 por cento do voto irlandês. O resto, os tais "partidos dominantes", continua a pensar em si como nação muito acima dos "atrasados" gregos.
Neste estado de coisas, que perspectivas razoáveis haverá, sinceramente, para uma acção colectiva dos PIGS no seio da UE? Não será muitíssimo mais razoável irmos desde já pensando no que teremos, a bem ou a mal, de fazer depois de sairmos da UE?
Ah, sim, e já agora, quanto aos tais "fuckers" da fotografia do "marxist update", podem ficar desde já certos duma coisa: não saltarão!

João Carlos Graça disse...

Depois do primeiro "little pig" (a Grécia) ter ido de carrinho, o segundo "little pig" (a Irlanda) pensou: "a minha casa não; essa é muito mais forte do que a dos gregos!" Pensou ele...
Já sabem quem é o terceiro "little pig", não sabem? Confirmem aqui, sff, no resto da tabuleta:
http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cartoon/2010/nov/27/european-free-market-policy
Infelizmente, pessoal, por este caminho o pior ainda está mesmo para vir. E quanto mais se aceitar a terapia free-marketeer de Bruxelas (as diferenças partidárias, adentro dessa "mancha", são fundamentalmente irrelevantes), mais ele tenderá mesmo a vir...

Tiago Santos disse...

O que eu acho mais interessante no que se passa agora com os protestos na Irlanda é que, quando por lá começaram as medidas de austeridade toda a gente dizia: ah, eles cresceram tanto nos últimos tempos que as pessoas aceitam a austeridade na boa...

Pois é...a história muda depressa...

Ana disse...

O corte dos salários dos FP são para sempre (ficam uns milhares chateados mas paciência)mas quando sabemos que as parcerias público-privadas envolvem 50 mil milhões de euros e quando se fala em parar, negociar, todos dizem- é impossível, mas porquê? O grupo Mota-Engil, fica chateado, é? Pois, são poucos os que iriam ficar chateados mas....

Anónimo disse...

Onde julga o ministro estar?
Em Portuga!!!
Onde o "povão" remunga e parece já resignado, muito tb porque ainda não entendeu bem o que por aí vem...
Greve geral convocada para 2 meses depois de ser apresentado o
PEC III...é uma revolta de mesa de café...
Pois é, mas poucos falam da inconstitucionalidade dos cortes saláriais,só conheço um parecer, o do Garcia Pereira. Aliás trata-se de uma dupla incontitucionalidade, porque os trabalhadores que trabalham em emprensas maioritariamente estatais, esses trabalhadores são regidos pelo regime de trabalho privado, pelo código geral do trabalho, não auferindo qualquer "benesse" que os funcionários públicos têm..
Somos mesmo O PORTUGAL dos PEQUENINOS, e a reles elite sabe-o melhor que ninguém e a estranja também...
Glória

Anónimo disse...

A todos que metem a
cabeça na areia como a Avestruz

Eu respondo-lhes com isto:

Indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
...Porque não era nada comigo.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.

Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.

Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei.

Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

Bertolt Brecht

Glória

Anónimo disse...

Ainda que a redução seja "´para sempre" durante esta legislatura, creio que a medida é anti-democrática e representa uma alteração unilateral do mandato que os eleitores deram ao PS nas últimas eleições legislativas.
Não foi nesse programa de Governo que os portugueses votaram.
Esta acção política defrauda, deturpa e viola o mandato conferido e é ditada em moldes ditatoriais, sem nenhuma base de sustentação política.