sábado, 11 de outubro de 2008

Quem é que sempre defendeu um sector empresarial do Estado «forte e actuante»?

Nunca pensei ler isto num editorial do DN, mas a crise baralha as coordenadas habituais: «[D]eve ser um factor adicional de acalmia e segurança verificar que o Estado português dispõe de um braço financeiro, forte e actuante. Os aforradores portugueses estão a reconhecer esta realidade. E os que durante meses foram defensores da privatização da CGD andam muito calados, para que não lembremos quem são e o que andaram a propor». A tropa neoliberal de António Borges e companhia. A memória é uma arma.

Já agora lembremos também os muitos que, à esquerda, andaram todos estes anos a dizer que a propriedade pública já não contava para nada e que a «regulação» asseguraria por si só a defesa do bem comum. Também esses abriram caminho a uma ruinosa política de privatização de sectores estratégicos. Miopia. Uma parte da esquerda desistiu de lutar no campo da propriedade e da economia. Refugiou-se no campo «social». Como se pudesse existir uma separação clara. Reificaram-se categorias. O «social» para a esquerda. O «económico» para a direita. Um desastre intelectual e político. No meio deste recuo salvou-se a CGD. O sector financeiro ficou por isso mais protegido. A fraqueza relativa da concorrência também pareceu ajudar. Assim se reduziram os incentivos para o aventureirismo cíclico.

Entretanto, o governo foi obrigado a adiar a última fase de privatização da GALP. Não há condições no «mercado». As fases anteriores serviram para enriquecer Américo Amorim e para pouco mais. Irresponsável gestão da coisa pública. Chamaram-lhe «socialismo moderno». Eu chamo-lhe, inspirado em James Galbraith, Estado predatório. A alternativa é hoje clara: controlo público democrático das grandes alavancas da economia. Ainda acham que é antiquado?

3 comentários:

Dias disse...

Dizia o outro que na “política há gente com muito fraca memória”. Pois é! Esperemos que, ao menos, o mesmo não se passe com o cidadão comum…
Lembrar que o “Compromisso Portugal” foi um evento que escolheu o seu timing, surgindo precisamente na onda que este governo criou: alienar, privatizar, esvaziar, tudo acompanhado com um coro de ataque generalizado ao que designaram de corporações. O darwinismo social fez escola, tudo estava encaminhado para que “os mais capazes” metessem os outros no bolso…

A CGD, na opinião do experto António Borges, também devia ser privatizada. Ainda bem que não o foi, assim o deve reconhecer o BPN.
Esperemos vivamente que assim se mantenha, se bem que com uma gestão decente, não aquele limbo dourado que tem servido para “recompensar” alguma classe política que tem governado!

Anónimo disse...

não foi o borges funcionário de um banco que está na corda bamba ou para lá caminha??

Anónimo disse...

O que eu acho interessante nestas coisas de ideologia é que pela ideologia que Borges teoricamente seguia ele já não devia ter qualquer peso para sequer ter coragem para falar.

Já alguém viu o filme "A vida dos outros"?

Recomendo, embora seja sobre o fim da RDA, muitas coisas aplicam-se a este periodo em que os ultra-liberais viram o seu mundo ruir...