sábado, 7 de janeiro de 2023

Os super-ricos são um dos alvos deste jornal

É curioso como o estatuto de privilégio de que estes gestores gozam — e, sim, o termo «privilégio» é aqui usado no sentido de lei privada, excepcional, que o republicanismo combateu e o neoliberalismo reinstituiu em força — continua a surgir em todo o seu cerimonial, discursivo e jurídico, ungido pelo mercado e entronizado pelo Estado. A reprodução social do poder que lhe está associado, e que a ideologia do empreendedorismo reifica, poderia ser questionada pela narrativa da «geração mais qualificada e internacionalizada de sempre», mas esta serve sobretudo para subalternizar no salário os trabalhadores com menos qualificações formais, sem elevar os rendimentos da maioria dos mais qualificados. O estreitamento do acesso à formação em tempos de diplomas caros e de redução do poder de compra fará o resto (...) Que neste ano de 2023 que agora começa, e que ameaça ficar marcado pela conjugação da inflação, dos juros e da recessão, se possa exigir dos governantes um corte real com estas lógicas neoliberais. Sejam os estudantes em luta pelo planeta e pelo direito à manifestação nos locais onde estudam, sejam os trabalhadores em luta por salários com que possam viver… Ou quem sabe juntos?

Sandra Monteiro, O país pobre dos super-ricos, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Janeiro de 2023.


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