Por que razão o recém-eleito dirigente da extrema-direita económica - ao clamar que "não se aguenta mais" - não tem a coragem de dizer o que quer fazer com o SNS, a saúde universal, a escola pública universal, a Segurança Social pública e universal, com o funcionalismo público? Ou como pensa acabar com duas décadas de estagnação económica? Qual é pois, e ao fim de tantos anos de militância liberal, o seu diagnóstico?
A resposta mais óbvia é: não sabe.
Duvida? Questionado pela RTP sobre o que ia fazer, o recém-eleito Rui Rocha, disse:
"Vou fazer um diagnóstico daquilo que é o país e vou dizer que a IL é a única alternativa hoje para ter uma país completamente diferente"...
Palavras para quê?
Rui Rocha apresenta-se já hoje como alternativa antes mesmo de saber a quê. Propõe um sabonete que lava mais branco, mas sem perceber qual a natureza das nódoas. São de óleo, azeite, leite, vinagre, vinho, gordura? Não sabe. Apenas sabe que são nódoas e que está contra as nódoas. Assim é fácil. Mas imaturo e demagógico.
Mas isto nem sequer é original. Recordam-se da campanha eleitoral de 2002, abertas quando António Guterres se demitiu a 16/12/2001 na sequência das eleições autárquicas, e Durão Barroso apareceu à frente do PSD defendendo uma redução da despesa pública? Que ia realizar uma auditoria às contas públicas para que fosse possível cortar nas "gorduras do Estado". Que ia transformar o país. Mas mal foi eleito, a dita auditoria não foi realizada porque... era impossível realizá-la (como já se sabia!) e a estratégia económica liberal foi reduzir o défice público (cortando no investimento público e nos apoios sociais), aprovar um Código do Trabalho (elaborado em out-sourcing por um escritório de advogados e defendido pelo ministro próximo do CDS Bagão Félix) que veio provocar uma desvalorização salarial que está na causa da situação social dos trabalhadores que a IL tanto contesta. E pouco depois, foi convidado para presidente da Comissão Europeia.
Passos Coelho teve, na campanha eleitoral de 2011, um discurso muito semelhante ao da IL. Disse que não ia cortar em nada. Que não era preciso. Mas quando foi eleito e se combinou com o CDS para governar, realizou o plano mais liberal e mais duro até então realizado. Cortou vencimentos, pensões, desbastou o investimento público, desinvestiu nos serviços públicos, na escola e na saúde públicas, agravou impostos sobre os trabalhadores. E foram aprovadas novas mexidas na lei laboral que aprofundaram a desvalorização salarial, e abriram o mercado da habitação de tal forma que os jovens portugueses já não encontram habitação para os baixos salários que recebem. Tudo críticas que a IL tanto faz, que Rui Rocha fez no seu discurso na Convenção Nacional da IL, embora nada dizendo sobre o passado liberal destas medidas que não sabe ou, sabendo, escamoteia.
A extrema-direita é - sempre foi - um camaleão político que vai adoptando as cores dos estratos sociais mais descontentes e desesperados, como forma de os aliciar, mas sem ter um programa consistente de mudança política que não seja "partir tudo", para de novo o entregar à "elite" nacional que a financia.
A dúvida, portanto, é perceber: quem são os financiadores da IL?
4 comentários:
Acho que a reunião magna da IL pariu um rato, ou seja a montanha de "ideias que dizem ter" pariu, mesmo, um rato.
O discurso do ganhador do encontro, veio por a nu a completa falta de ideias, mesmo que gerais, sobre o que o partido pensa ou idealiza para o pais. O único dado objetivo é a meta dos 15% para as próximas eleições legislativas.Sim, por que sobre as europeias..... nada.
Podemos dizer, sem dúvida, que entre banalidades, generalidades e coisa nenhuma a IL tem ambição mas, .....???? nada para propor sobre os reais problemas do País.Provavelmente ainda estão a fazer o "diagnóstico": SNS, Seg.Social,crescimento económico,fiscalidade, salários... . E, isto tudo, com ar sério...??"a sério"??
porque acha que o sr Cotrim se pôs a andar?
Caro anónimo,
Não tenho qualquer informação sobre essa decisão. Mas assim, de repente, como palpite, diria que quer ser candidato a presidente da República e tem de se distanciar do partido.
Por outro lado, a Presidência da República é daqueles postos que está talhado para ser socialmente ocupado por alguém bem na sociedade, o que iria com o perfil por si próprio caracterizado - um beto - mas que precisa de reunir o voto do povo, para depois de eleito dar cabo da vida aos pobres. Veja-se a forma inaltecida como o partido fez eco de uma sondagem (?!) que o pôs como a figura mais estimada dos portugueses... mesmo que seja - ou se faça por parecer - um ignorante superficial, um fanático, tão próprio destes tempos perigosos.
Um dos financiadores será a Sonae. Basta ver de onde vem este personagem que agora é líder do partido, alguém que esteve dentro dessa empresa durante anos a engonhar e a fazer "estudos" e coisas do género com único propósito de um dia ir para onde está hoje (embora me pareça que os planos iniciais fossem os mesmos mas com o quase extinto CDS PP). Uma espécie de novo Lobo Xavier, só para citar um dos mais conhecidos dessa empresa que alegadamente vão para o Parlamento não defender os Portugueses mas a dita organização. Basta finalmente ver a que se tem dedicado nos primeiros tempos nas lides parlamentares esse personagem Rui Rocha que agora é novo líder, na maioria comissões parlamentares de trabalho e afins. É estar atento ao que vai fazendo a partir de agora, para alguém que acompanhe o dia a dia do Parlamento não será muito difícil descobrir-lhes a careca em pouco tempo.
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