Faleceu esta semana um dos nomes maiores de um dos principais, e raros, departamentos de economia dominado por perspetivas críticas, na Universidade de Massachusetts Ahmrest (EUA). Desenvolvendo as convergências entre as tradições marxistas e keynesianas, Crotty cruzou a macroeconomia com a economia política e a política económica. São raros os cientistas sociais que escrevem o seu principal livro no final de uma carreira longa, de dezenas de anos, mas creio que foi isso que aconteceu com Crotty.
De facto, a sua escrupulosa escalpelização do pensamento de Keynes, da análise económica às prescrições de política, avança com uma interpretação que enfatiza a crítica ao capitalismo e a sua radical superação do liberalismo económico para salvar e aprofundar as liberdades políticas. Crotty como que transporta essa reflexão para o presente, ao mostrar a sua pertinência e isto sem cair no anacronismo. Keynes falou de “socialização do investimento” e de “eutanásia do rentista” na Teoria Geral e, pontualmente, declarou-se um “socialista liberal”.
Crotty não deixou nenhuma pedra por virar para argumentar que tais fórmulas implicaram ao longo de anos uma defesa de certas formas de coordenação política da economia, de planeamento. E que estas estão ao serviço do pleno emprego, da redução das desigualdades ou da desmercadorização e desfinanceirização de bens e serviços, num quadro de desglobalização pragmática. Têm por isso implicações portentosas. Independentemente de questões interpretativas, este é um livro fundamental para um debate económico informado, para uma história do pensamento económico enquanto conversa ao longo do tempo entre vivos e mortos.
Aos ombros de gigantes esteve um economista político exemplar. Sigamos o seu exemplo.
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