segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Esta economia política até quando?

“Não temos parceiro preferencial”. Foi assim que o PS se posicionou na questão da habitação, antes de viabilizar propostas fiscais da direita, favoráveis aos interesses dos senhorios, de resto estranhamente convergentes com as suas, já criticadas neste blogue por Ana Santos. Na questão do sistema bancário, em que nós pagamos, mas o capital estrangeiro e os eurocratas mandam cada vez mais, o PSD tinha sido também o parceiro preferencial.

As novas e perversas formas que o decisivo nexo finança-habitação vai assumindo na economia política nacional continuam a ser a base material do bloco central. Infelizmente, isto não se fica por aqui: basta pensar nas áreas absolutamente cruciais das relações laborais, onde a herança da troika foi no fundo aceite, ou da saúde.

Nesta última, e a acreditar no Expresso, a Ministra da Saúde, que tinha ideias para uma Lei de Bases mais ancorada à esquerda, limitadora do predador capitalismo da doença, terá sido obrigada a manter portas entreabertas aos grupos económicos para agradar ao PSD. Segundo o Expresso, “multiplicaram-se as pressões: privados, notáveis do sector da Saúde (do PSD e do próprio PS) fizeram saber do seu descontentamento [notáveis do bloco central quer dizer gente que ganha dinheiro com a transformação política da saúde em negócio] (...) Até Marcelo foi chamado a intervir”.

 Esta economia política até quando?

4 comentários:

Anónimo disse...

Ora aqui está, mais uma vez, a costela liberal-social do PS servida à mesa do bloco central bem regada com rentismos vários. A hipocrisia e a mentira sobre as preferências do PS só enganam os incautos e fazem as delícias dos predadores e seus cães de fila.

Na questão do sistema bancário e do nexo finança-habitação basta lembrar o que foi a máquina rotativa do DDT, (re-instalado pelo "mon amie") créditos à construção e à aquisição de casa com créditos ao consumo mascarados pelo meio. A montante vinham as negociatas das alterações da classificação de uso de solos rústicos em urbanos com valorizações de 20.000 %.
A estas regabóficas movimentações ultra-liberais assistia o bloco central impávido, sereno e financiado, enquanto o Estado se demitia das suas obrigações constitucionais. Quem se "passou" com as manobras do Rato em matéria de habitação foi a presidente da comissão parlamentar, Helena Roseta, que se demitiu do cargo. E conhece-os de gingeira.

Quanto ao Marcelo, este não precisa de ser chamado porque chama-se a si mesmo e até mete o nariz onde não é chamado. Mas nesta questão da saúde até se compreende: fez saber que uma Lei de bases da saúde em que o bloco central não esteja de acordo terá o seu veto, numa demonstração de coerência ideológica com o que fez no passado - enquanto deputado, juntamente com a sua direita, votou contra a criação do SNS.

António Arnaut e João Semedo bem trabalharam e bem tentaram para que o SNS voltasse a ser um projecto distintivo público e progressista fora das negociatas rentistas, mas os interesses neo-liberais dentro do PS tiveram mais força.

Só há uma maneira de reduzir os estragos produzidos pela simpatia que o PS tem por uma economia política que externaliza tudo o que é bens públicos e comuns - manter a rédea curta, ou seja, ser minoritário.


Paulo Mendes

Rui Rodrigues disse...

Dei conta há uns dias que a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada é capitaneada por Óscar Gaspar, ex-secretário de estado do PS e assessor económico de António José Seguro.

Que belo socialismo!

Jaime Santos disse...

O PS é um Partido Centrista, João Rodrigues e Marcelo Rebelo de Sousa é um homem do Centro-Direita.

Podia ser pior? Pois podia, podiam ter-lhe saído Cavaco Silva, Passos Coelho, Paulo Portas e António José Seguro.

E sabe que mais? Até ver, uma grande maioria dos Portugueses até vota nestes Partidos. O PS e PSD, em particular, são coligações de votantes e a Esquerda nunca terá maioria se não for capaz de atrair o centro político.

Resta claro aos Partidos de Esquerda, o BE e PCP-PEV, tentarem cativar algumas destas pessoas, mas não me parece, a avaliar pelas sondagens, que estejam a ter grande sucesso.

Podem claro voltar à velha tática de atirar com o PS para os braços da Direita, à espera que este se pasokise, como tem acontecido a todos os Partidos Social-Democratas por essa Europa fora. Quanto pior, melhor...

Sucede que a Esquerda não tem, com a exceção do Syriza e do Podemos (e mesmo este último parece ter atingido já o seu zénite) ganho um voto que seja com este processo. Se alguém tem ganho é a Extrema-Direita e também os Verdes (veja-se na Alemanha).

Convença-se de uma coisa. Quem é do Centro-Esquerda e tem uma visão aberta da sociedade não quer saber de nacionalizações nem de sociedades fechadas, nem de nacionalismos, por muito progressistas que estes se anunciem (com os resultados finais que se conhecem).

E aqueles que têm essa visão, vão normalmente é votar na Extrema-Direita cuja mensagem é mais crua e o programa económico é mais convencional (e não tem maus exemplos passados e presentes de estouro completo, veja-se o que se passa na Venezuela).

A incompetência económica da Esquerda (leia-se, acima de tudo, o colapso absoluto da URSS) afugentou provavelmente para todo o sempre aqueles que no Passado poderiam dar-lhe maiorias. É que não é defeito, é feitio.

Não deixa de ser curioso que mesmo com os Tories a fazer uma completa figura de ursos na negociações do Brexit, as pessoas continuem a não confiar em Corbyn, cujo programa está muito longe de ser outra coisa que não moderadamente Social-Democrata. Não é o programa que as assusta, são isso sim as personagens que o defendem...

Jose disse...

Quando o capital acorre às iniciativas privadas a esquerda logo o ambiciona transformado em receita pública mas, sentindo-se revolucionariamente incapaz, já se satisfaria vê-lo vertido em dívida pública.
Antes remunerá-lo com juros do que vê-lo a produzir lucros, essa ofensa maior ao espírito esquerdalho.

Mas o essencial é mesmo a criação de emprego público!
E para isso importa pouco que seja mais caro, que haja activos tornados inúteis - como o que se fez no ensino. É no 'espírito funcionário' que haverá de construir-se o socialismo ou, do mal o menos, as maiorias que darão de mamar aos socialistas.