sábado, 8 de dezembro de 2018

Um dia em Paris


Aqui fica uma mancheia de fotos retiradas da emissão em directa que o canal televisivo Russia Today fez da manifestação que o movimento Coletes Amarelos realizou hoje e, pela quarta vez, em Paris.

Foi no dia em que o Governo mobilizou os efectivos de segurança para um domingo policiado. Havia mais de oito mil polícias em Paris, o dobro do efectivo do sábado anterior, muitos deles - como o disse à France 24 o representante sindical - arrebanhados sem repouso, de todos os lados do corpo de segurança (como é visível nas fotos), muitos vindos de outras cidades, onde por acaso também se realizaram manifestações.

Uma imagem que se quis mostrar de força, foi mais a do pânico oficial em lidar com um movimento que quebrou o ímpeto de medidas que o governo estava a tomar e que, porque se entronca nas consequências socialmente gravosas de uma política neoliberal adoptadas há décadas, já contaminou outros países alvo dessas políticas. A ironia: um colete usado legalmente sobretudo por automobilistas (mostrando o início afunilado do movimento), está a tornar-se um uniforme de combate, globalizado.


Apenas para ficar assinalado. Muitos vídeos podem ser encontrados aqui - para compensar a publicidade que o anterior post fez ao Youtube...


Não, não são manifestantes, mas polícias à civil
Aqui um manifestante gritava: "Estão a apontar à cabeça! Veja que está a apontar à cabeça!"

16 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei que João Ramos não gosta de ouvi-las, mas na SIC notícias a maioria dos visados da rua aponta a fiscalidade, como motivo de protesto.

https://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2018-12-08-Os-conteudos-mais-populares-no-YouTube-em-2018

João Ramos de Almeida disse...

Caro anónimo,
Claro que a fiscalidade é um aspecto importante na redução do rendimento disponível. Uns queixam-se dos impostos, outros queixam-se de mais coisas: ganham, trabalham para lá do que devem, trabalham horas extra sem que lhas paguem. Não conseguem sobreviver com o que têm. É isto um problema de impostos ou de rendimento bruto baixo?

Eu queixo-me é de os jornalistas transformarem sistematicamente uma situação em que os protestantes se queixam de não ter rendimento suficiente para viver, numa luta política por menos impostos. Parece mais uma tentativa de transformar uma luta que está a pôr em causa os efeitos na população de um corpo ideologico de políticas (em que o Estado e a despesa pública são os maus da fita), numa outra que se cola a essa mesma linha: menos impostos para que possamos ter menos despesa pública...



António Pedro Pereira disse...

Anónimo das 00:59,
O JR de Almeida não gosta de ouvir falar em fiscalidade porque o partido dele, na esmagadora maioria das 32 câmaras do país em que governa, faz o que a esmagadora maioria das restantes 276 não faz (no país há 308 Câmaras).
Aplica as mais altas taxas de IMI (o distrito de Setúbal, onde a esmagadora maioria das Câmaras têm sido governadas pelo PCP desde o 25 de Abril, é o melhor o exemplo. Desde 2003, quando foi criado o IMI, tem tido todos os anos a taxa média mais alta do país. A taxa média nacional é 0,34 e, no último ano comparável, 2017, este distrito teve 0,38: numa casa de 100 mil euros de VPT paga-se mais 40 euros/ano. Ainda em 2017, houve 152 Câmaras com o IMI mínimo, 0,30, e ainda 24 com taxas até 0,34: total, 176 Câmaras entre a taxa mínima e a taxa média nacional); não aplica o IMI Familiar (este ano há 231 Câmaras que o aplicam: 20 euros/1 filho; 40 euros/2 filhos; 70 euros/3 filhos); não prescinde de nenhuma percentagem dos 5% que lhes cabe do IRS; aplica as mais altas taxas de Derrama de IRC.
Fazer diferente dos outros, os neoliberais, para se ser coerente com o que se apregoa, é muito mais difícil.
Mas não há problema: a culpa de as Câmaras do PCP fazerem o que fazem é do governo, que não transfere verbas suficientes para estas Câmaras. Só faz isso para as restantes do país: aplica uma lei autárquica de geometria variável.
Falar mal dos outros, culpar o neoliberalismo de todos os males do mundo, isso é fácil.
O neoliberalismo é muito mau, é a faceta mais negra do capitalismo, mas as soluções encontradas até agora para substituir o capitalismo resultaram todas em grandes fiascos. Foi o fim da Guerra Fria e do bi-polarismo que deu rédea solta ao capitalismo (na versão neoliberal).
Este é o nosso grande problema.
O que resta aos Joões Ramos de Almeida? Paroles, paroles, paroles.

Nota 1: A informação fiscal acima não foi inventada por mim, pode ser consultada em Portal das Finanças / Cidadãos / Consultar / Taxas do município

Nota 2 (a não publicar se eu não tiver razão): Espero que este comentário seja publicado, pois não ofende ninguém. É que já me cortaram alguns semelhantes, apenas por não concordarem com o que digo.

Jose disse...

«os efeitos na população de um corpo ideologico de políticas»

Sem dúvida que passaram anos a dizer-lhes que o Estado asseguraria a felicidade geral e agora verificam que a parte dos custos é insuportável e os benefícios são incertos, excepto para os promitentes e associados.

Mas daí a que se entenda que mais Estado é a solução do problema é tão só mais do mesmo pela mão dos mesmos promitentes.


S.T. disse...

Há uma clara tentativa de "recuperar" o movimento dos gilets jaunes como um movimento anti-fiscalidade. Percebe-se bem a motivação e onde querem chegar os que distorcem assim os acontecimentos. O seu objectivo é denegrir e atacar a fiscalidade como mecanismo de redistribuição e de reequilíbrio social. Ora os gilets jaunes disseram claramente que querem ver restaurado o ISF (Imposto sobre fortunas), logo reivindicam um reequilíbrio da fiscalidade e não a sua redução geral.

Vivemos de facto tempos em que a falsificação e a manipulação informativa batem recordes históricos.

S.T.

Emigrante 2013 disse...

EU ESTAVA LA!!!, Sr Anonimo de 09/12/2018 às 00h e 59 minutos!

a SIC é suspeita!Pois é Propriedade de 1 "SUBDITO" (membro) do *Clube BILDERBERG*
Eu posso testemunhar que a informação supostamente veiculada, segundo a sua versão, pela SIC NOTICIAS , não corresponde à verdade!
E verdade que se fala na fiscalidade, mas mais na questão da distribuição injusta e na sobrecarga da mesma sobre as Classes mais Desfavorecidas e sobre o 'Capital Produtivo' e em favor do Capital Financeiro Especulativo e das Grandes Corporações do *CAC 40*!

As reivindições mais importantes são, no entanto, o aumento dos salarios, das reformas mais baixos e a reposição das ajudas sociais que têem sido cortadas! Algo que também é defendido pelos Empresarios do sector produtivo que participam no *Movimento* , pois aumento do Poder de compra do Povo aumenta a 'Procura'



Sintomatico é que uma das maiores reivindicações do movimento 'GILETS JAUNES' é precisamente o Reposição do *ISF* (imposto sobre as Grandes Fortunas), *Cadeau* (presente) dado de borla aos Super Ricos por Macron quase de seguida à tomada de posse como Presidente e que lhe valeu o Titulo de *PRESIDENTE dos RICOS*

Anónimo disse...

Caro João Ramos, os coletes amarelos estão em força em França e Bélgica, os dois países que em 2017 tiveram a mais alta carga fiscal na Europa, de acordo com o Eurostat. Será coincidência? A carga fiscal é um importante redutor de rendimentos e nunca se esqueça que fiscalidade não se resume a IRS.

S.T. disse...

Mas, do ponto de vista económico, há quem já faça prognósticos e deite contas a quanto custará restaurar um mínimo de paz social.

https://www.lejdd.fr/Politique/gilets-jaunes-combien-ca-va-couter-et-qui-va-payer-3816680#xtor=cs1-4

Se estas hipóteses se confirmarem, o tecto de 3% de défice orçamental vai ser atirado às urtigas, o que por sua vez vai reforçar os argumentos do governo italiano no seu braço de ferro com a Comissão. A seguir com atenção.

Para os intrujas que tentam fazer passar a tese anti-fiscalidade aqui fica mais uma refutação pela imagem:

https://resize-lejdd.lanmedia.fr/rcrop/940,470/img/var/europe1/storage/images/lejdd/politique/gilets-jaunes-combien-ca-va-couter-et-qui-va-payer-3816680/51318383-2-fre-FR/Gilets-jaunes-combien-ca-va-couter-et-qui-va-payer.jpg

S.T.

estevesayres disse...

Organizemos a nossa luta!
A situação portuguesa, em termos de classes e luta de classes, de base é muito semelhante à francesa e, a qualquer momento, poderá surgir em Portugal, mesmo com origem espontânea, um movimento político e social semelhante.
As greves dos estivadores, dos médicos, dos enfermeiros, dos professores, dos funcionários públicos, dos transportes rodoviários e dos ferroviários poderão desembocar num poderoso movimento político e social de massas, a qualquer momento.
Este movimento, em Portugal, tem sido travado pelos partidos traidores (PCP, Bloco, Verdes) e pelas lideranças sindicais traidoras CGTP-Intersindical e UGT, mas estas traições estão a ser desmascaradas e os traidores cada vez mais isolados.

vitor disse...

Em Paris. Na Bélgica e na Holanda. O que é preciso é internacionalizar a sublevação para o espaço europeu todo!

Anónimo disse...

Acho que quem vai mais uma vez capitalizar este descontentamento vai ser a extrema direita. Porque é que não é capitalizada pelo França Insubmissa? Nesta questão dos impostos pode estar uma pista.

Jose disse...

«denegrir e atacar a fiscalidade como mecanismo de redistribuição e de reequilíbrio social»

Esta é das mais imaginativas tiradas da semana:
Se dos 100 que retiram vão 80 para despesas no aparelho político, de cobrança, de redistribuição e de promoção da parasitagem, a probabilidade de serem um empecilho ao crescimento e ao reequilíbrio social é 1.

João Ramos de Almeida disse...

Caro Manuel Silva,
Não me impele nenhuma vontade de lhe cortar a voz. Apenas acho que a forma como argumenta não é a melhor para suscitar um debate a sério. Se quer discutir um assunto é uma coisa, se quer misturar batatas com cebolas, depois não se queixe que o pessoal não lhe ligue.

"Parole, parole" é o que é necessário fazer antes de se tomar qualquer decisão ou adoptar qualquer experiência que possa ser alterativa ao capitalismo que, como deve entender, não é das coisas mais fáceis de fazer. De qualquer forma, o combate ao capitalismo nos últimos dois séculos tem tido vitórias retumbantes. Se acha que o capitalismo hoje é das melhores coisas que aconteceram ao cima do mundo, muito se deve, não a quem o defendia a situação, mas a quem sempre quis melhorar a vida das pessoas, querendo uma sociedade mais justa ou mesmo alternativa. Mesmo a "guerra fria" que tanto despreza, foi marcada por uma reviravolta no mundo inteiro: movimento anti-colonialista, emancipação de muitos países, fim das ditaduras fascistas e social-democracia na Europa.

E se acha que tudo isto é "parole, parole", o governo Macron não deve concordar consigo. Porque, de repente, como surgindo do nada, as "parole, parole", se transformam em actos e estragam todos os planos que se faziam. E é assim, de experiência em experiência, envolvendo as pessoas nestas questões políticas, que se afinam as coisas. Umas vezes bem, noutras mal, umas vezes para a frente, outras para trás. É a vida.

S.T. disse...

"Se dos 100 que retiram vão 80 para despesas no aparelho político, de cobrança, de redistribuição e de promoção da parasitagem, a probabilidade de serem um empecilho ao crescimento e ao reequilíbrio social é 1."

Claro que nos bolsos do José os 80% eram muito melhor empregues. LOL

E não seria "promoção da parasitagem". LOL

E não teriam "a probabilidade de serem um empecilho ao crescimento". LOL

Ainda gostava de saber em que casino é que esta alminha do "José" iria estafar o guito.

S.T.

Anónimo disse...

O estado em França é um autêntico sorvedouro de rendimento, consumindo 48,5% do PIB. De facto faço uma pergunta séria ao camarada ST, do ponto de vista da Economia-Política.

A partir de que percentagem do PIB de receita fiscal é que começa o comunismo?

Que lhe parece também a si José? 70%, 80%? Será que com uma carga fiscal de 100%, acabarão as manifestações e os protestos, visto que, parafraseando João Ramos, o estado usa a despesa pública sempre de forma eficiente?

https://www.veraveritas.eu/2018/12/os-putativos-impostos-verdes.html?m=1


Jose disse...

Ser humorista sem ser ridículo não é fácil.