sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Os sintomas e a doença


«O instituto alemão Das Progressive Zentrum publicou uma pesquisa baseada em entrevistas porta-a-porta em zonas da Alemanha e França, acerca das motivações das suas populações para votarem em partidos de extrema-direita nas eleições de 2017. A grande maioria dos inquiridos não manifestou inclinações xenófobas, racistas ou discriminatórias contra refugiados, mas sim preocupações extremas com a precariedade do trabalho, a insegurança de rendimento ou a degradação das infra-estruturas e dos serviços públicos. E criticaram asperamente os agentes políticos e a comunicação social por não incluírem estes temas nas suas agendas. (...) O combate à extrema-direita só pode fazer-se anulando as condições que a tornaram atraente: recuperando instrumentos de soberania perdidos, evitando os efeitos nefastos da globalização, restabelecendo a natureza universal dos serviços públicos, investindo nas infra-estruturas, devolvendo estabilidade às camadas intermédias da população, fomentando o pleno emprego e o fim da precariedade, eliminando a pobreza e combatendo as desigualdades. Toda a esquerda deverá ser desafiada para este programa de emergência. Só assim estará à altura das suas responsabilidades históricas na luta contra a ascensão da extrema-direita.»

Adelino Fortunato, A ascensão da extrema-direita

23 comentários:

Jaime Santos disse...

O problema, Nuno Serra, é que eu não vejo muito bem como é possível gerar as altas taxas de crescimento necessárias para tal programa de investimentos. A Esquerda gosta de pensar que basta dar à manivela e produzir mais dinheiro (ou então pedir emprestado) e que a lubrificação da Economia chega para gerar investimento e emprego (sem se pensar no que acontece quando a maré baixa).

Aliás, note-se que a estratégia de Trump não anda longe disso, pelo que a mal não é só da Esquerda (Bush Pai chamava a isto Voodoo Economics). Hoje, já não há nenhum Republicano que arranque as roupas pelo aumento da dívida...

O que os últimos anos têm mostrado é uma progressiva degradação do aumento da produtividade (um fenómeno bem estudado). Mais, pergunta-se a que ponto o planeta aguenta este crescimento perpétuo que consome mais e mais recursos...

Quando é que será que a Esquerda vai abandonar o mito do crescimento permanente e começar a lutar por uma sociedade decente em que o principal objetivo das pessoas não seja o fetiche da mercadoria?

Geringonço disse...

O combate à extrema-direita só pode fazer-se combatendo a extrema-direita neoliberal.
Sim, Neoliberalismo é extremismo!

Anónimo disse...

Duas dúvidas (sem ter lido todo o artigo que é de acesso pago):
1) Pessoas inquiridas em "entrevistas porta-a-porta" (cara a cara, portanto) "não manifestou inclinações xenófobas, racistas ou discriminatórias contra refugiados"? A sério? Pessoas inquiridas cara-a-cara?

2) Se manifestaram "preocupações extremas com a precariedade do trabalho, a insegurança de rendimento ou a degradação das infra-estruturas e dos serviços públicos" porque não votam (extrema-)esquerda e votam extrema-direita?

S.T. disse...

O problema, Jaime Santos, é que os seus paradigmas ambientais estão falseados pela doutrina das elites que prega a redução da população e do consumo para eventualmente atingir a sustentabilidade. Claro que isso é feito à custa do bem-estar de muita gente, mas isso não parece preocupar Jaime Santos.

Em matéria de ambiente Jaime Santos certamente alinha por Macron: Quer taxar o diesel dos pobrezinhos mas recusa-se a taxar o querosene para aviação. E o querosene de aviação em França ainda tem IVA reduzido! Há que subsidiar os ricos! LOL

Digamos que são prioridades ambientais assim um bocadinho faralhadas.

https://www.latribune.fr/opinions/tribunes/taxer-les-vols-domestiques-karima-delli-800352.html?utm_term=Autofeed&utm_medium=Social&utm_source=Twitter#Echobox=1544341350

Portanto já sabem, parem de fornicar e de se reproduzir! É que senão os recursos do planeta não serão suficientes para (alguns) andarem de jatinho. Concerteza entende o sarcasmo...

Quanto à produtividade muito gostaríamos de saber a douta opinião do Sr Jaime Santos. É que nas altas esferas da elite da economia mundial ainda se discute muito a questão.

Quanto à Voodoo Economics, está bem de saúde e recomenda-se. O défice e a dívida só são importantes quando o governo é de esquerda na Europa ou o presidente é do partido Democrata nos USA.

Para continuarmos numa toada positiva mais vale falar do Green New Deal proposto por Alexandria Ocasio-Cortez.

https://www.newstatesman.com/politics/economy/2018/11/alexandria-ocasio-cortez-s-green-new-deal-shows-radical-choice-facing

Entre os economistas cujos trabalhos estão na base deste Green New Deal vamos encontrar Ann Pettifor e Mariana Mazzucato, que são ou deveriam ser referências sobejamente conhecidas dos leitores.

Não maçarei os leitores com excertos do artigo até porque este comentário já vai longo.

S.T.

Geringonço disse...

Antes da Alexandria Ocasio-Cortez propor o Green New Deal, já os Verdes o tinham proposto...

Alexandria Ocasio-Cortez, Bernie Sanders não estão a mudar o Partido Democrata, o partido Democrata faz parte do problema tal como o Partido Republicano.

Se estes supostos "socialistas" quisessem verdadeiramente mudar alguma coisa saiam do Partido Democrata, juntavam-se aos Verdes ou criavam o seu próprio movimento e levavam com eles os votos da esquerda progressista.

Bernie Sanders teve oportunidade de fazer isso, Bernie Sanders encheu estádios quando concorreu contra Hillary Clinton, depois de ter endossado Clinton as pessoas deixaram de aparecer.

Hillary Clinton já sugeriu que quer concorrer nas próximas eleições, a vontade dos Clinton, Obama e outros neoliberais financiados por WallStreet e pela indústria de guerra prevalece sobre qualquer esperança de esquerda progressista dentro do Partido "Democrata"...

Alexandria Ocasio-Cortez arrisca-se a ficar conhecida por trocar a vida precária que servir às mesas condena por uma vida segura na política... E eu até a compreendo, a maioria da sua geração não têm qualquer alternativa à precariedade...

S.T. disse...

Por certo não pensará o Geringonço que ignoramos as limitações de B. Sanders e de Alexandria Ocasio-Cortez.

Mas, nesse particular, como noutros, lembro o dito: "O óptimo é inimigo do bom."

É tudo uma questão de resultados globais. Acha que se Alexandria Ocasio-Cortez seguisse os seus conselhos os resultados seriam melhores? Permita-me que duvide.

S.T.

Pedro disse...

Resta saber se a esquerda tem forças para impor um programa próprio.

A esquerda social democrata já não existe, os seus dirigentes actuais venderam-se ao neoliberalismo e trairam os seus princípios. Não há diferença entre essa "esquerda" e a direita.

A esquerda radical ficou "queimada" com o gulag, os julgamentos de Moscovo, Pol Pot e a revolução cultural.

Resta o quê ?

S.T. disse...

Vejamos...

O que se espera que vote alguém que na sua juventude criou alergia ao "comunismo" da DDR e não vê os seus interesses defendidos pela GroCo, (Grande Coligação CDU-SPD) "grosse" mas cada vez mais magra em votantes?

Video instrutivo completamente mainstream:

https://www.euronews.com/2017/07/26/germany-s-working-poor

À custo do que é que a Alemanha mantém a competitividade?

S.T.

S.T. disse...

Explicações em inglês no NYT:

https://www.nytimes.com/2018/12/07/opinion/merkel-germany-christian-democrats.html

Nada de novo para quem tem seguido os efeitos desastrosos do dumping salarial alemão.

S.T.

Geringonço disse...

S.T. tem todo o direito de duvidar e de estar errado tal como eu!

Veremos daqui a uns tempos, se Trump ganhar novamente, de certeza que o S.T. vai reconhecer que errou...

De qualquer maneira, vai ser cómico e trágico se ver Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e outros supostos "socialistas" a endossar Hillary Clinton ou outro neoliberal "porque Trump!" novamente.

Alias, a conversão do Partido "Democrata" em um partido que represente a vontade da população é muito semelhante à "conversão" da União Europeia de um projecto neoliberal antidemocrático para um projecto democrático e progressista, como tem corrido esta "conversão"? Sucessos progressistas atrás de sucessos progressistas não é verdade?

Neoliberalismo está descredibilizado, a vontade da população em mudar esta situação existe, já existia quando Obama foi eleito, falta um movimento que exija essa mudança. Boa sorte aos supostos "socialistas" em alcançarem a mudança através de um partido comprado por poderosíssimos interesses. Enquanto a mudança não chega, continuemos a apodrecer...

S.T. disse...

Um tweeteruser de pseudo halvarflake publicou a seguinte tweetstorm.
Para facilitar removeram-se os cabeçalhos e rodapés dos tweets e reuniram-se as frases para formar um texto mais legível.

O original pode ser visto aqui:

https://twitter.com/halvarflake/status/997411622636474369

halvarflake
‏ @halvarflake



I visited the area of Germany that I grew up in yesterday and today. Best described as Germany's rustbelt, it used to be the social-democrats heartland. It is surprising how many former SPD-voters I spoke to that are now clearly leaning toward AfD.

Visitei a área da Alemanha que cresci ontem e hoje. A melhor descrição é como a cintura da ferrugem da Alemanha. Costumava ser o coração da social-democracia. É surpreendente quantos ex-eleitores do SPD com quem falei estão agora claramente inclinados para a AfD.

I had a longer chat with a cabbie that fell into this category, and it was interesting to learn about his world-view.

Tive uma longa conversa com um taxista que se encaixou nessa categoria, e foi interessante conhecer sua visão de mundo.

The structural beams of his political view seemed to be: (1) Individual nations have national interests, and economically "safe" people (e.g. people not caught on the wrong side of Germany's widening inequality) do not have proper national feelings, because they can go elsewhere and find jobs. The people that cannot are the "true" bearers of the national interest, because they are stuck where they are.

As traves estruturais de sua visão política pareciam ser: (1) nações individuais têm interesses nacionais, e pessoas economicamente "seguras" (por exemplo, pessoas que não são apanhadas do lado errado da crescente desigualdade da Alemanha) não têm sentimentos nacionais adequados, porque podem ir para outra região e encontrar emprego. As pessoas que não podem deslocar-se são os "verdadeiros" portadores do interesse nacional, porque estão presos onde estão.

This worldview is very similar to the "globalist" accusations of the right in the US - the narrative is that some detached cosmopolitan-capitalist-without-fatherland is forcing laws and regulations down the throats of hard-working people that still know what "nation" means.

Esta visão de mundo é muito parecida com as acusações "globalistas" da direita nos EUA - a narrativa é que alguns capitalistas cosmopolitas sem pátria estão a forçar as leis e os regulamentos a serem enfiados pela garganta abaixo de pessoas que ainda sabem o que é que uma "nação" significa.

Interestingly, he seemed to not consider that e.g. Europe's interest may also be in Germany's national interest.

Curiosamente, ele pareceu não considerar que, por exemplo, o interesse da Europa também pode ser no interesse nacional da Alemanha.

There was bitterness about the decaying infrastructure, and the poor economic prospects, coupled with the (in his view) extreme willingness of the Merkel government to spend money on refugees.

Havia amargura sobre a infraestrutura decadente e as fracas perspectivas económicas, juntamente com a (na sua opinião) extrema disposição do governo de Merkel de gastar dinheiro com os refugiados.

(continua)

S.T. disse...

(continuação)

The second beam of his worldview was (2) Germany is perceived by all others as having infinite financial means, so Germany is always asked to bail everybody out. Pay for the TARGET2 imbalances, lend everybody money. Italy and Greece should have never been allowed into the Euro.

A segunda trave de suporte da sua mundivisão era (2) a Alemanha é vista por todos os outros como tendo infinitos meios financeiros, por isso a Alemanha sempre é solicitada a socorrer a todos. Paguar pelos desequilíbrios do TARGET2, emprestar dinheiro a todos. À Itália e à Grécia nunca deveriam ter sido permitido entrar no euro.

When I pointed out the trade imbalances and how Germany benefits, he thought about them in typical German fashion as a virtue - "should a successful company tell their employees to work less efficiently to lessen the export surplus(? NdT)".

Quando apontei os desequilíbrios comerciais e como a Alemanha beneficia deles, ele considerava-os de uma maneira tipicamente alemã como uma virtude - "deveria uma empresa de sucesso dizer aos seus funcionários que trabalhem com menos eficiência para diminuir o excedente de exportação(? NdT)".

This is an extremely common misunderstanding when speaking about export surpluses in Germany -- German voters hear "export less" instead of "your wage restraint policies of the past 20 years were a failure, and you should get paid more so you can consume more". It is interesting how no German party has the guts to publicly take the position of "a lot of the problems of the Eurozone AND of Germany could be solved if Germany stopped and reverted 20 years of real wage restraint". You would think that "solve the EU crisis, improve the economy, AND get paid more" would be a pretty compelling sell.

Este é um mal-entendido extremamente comum quando se fala em superávits de exportação na Alemanha - os eleitores alemães ouvem "exportar menos" em vez de "as suas políticas de contenção salarial dos últimos 20 anos falharem, e você deve receber mais para poder consumir mais" . É interessante como nenhum partido alemão tem a coragem de assumir publicamente a posição de "muitos dos problemas da zona do euro e da Alemanha poderiam ser resolvidos se a Alemanha parasse e revertesse 20 anos de contenção dos salários reais". poder-se-ia pensar que "resolver a crise da UE, melhorar a economia e receber mais" seria uma proposta bastante aliciante.

Anyhow.

De qualquer forma

(continua)

S.T. disse...

(continuação)

The third beam was (3) that the wave of immigration that the Merkel government unleashed will bankrupt the country; the social safety net cannot cope with the large influx of low-educated people, and the fact that nobody is German anymore will tear society apart.

A terceira trave (da sua mundivisão NdT) foi (3) que a onda de imigração que o governo de Merkel desencadeou vai levar à falência o país; a rede de segurança social não consegue lidar com o grande afluxo de pessoas com baixa escolaridade, e o fato de que ninguém mais é alemão destruirá a sociedade.

He was astonished to learn that a large fraction of the kids on the street I grew up on were already Kurdish and Turkish 30 years ago when I grew up there; he seemed to have forgotten how multi-ethnic the region had always been (?). His biggest gripe on the immigration question though was "not being asked", e.g. that the Merkel government had not even gotten a parliamentary vote on the topic.

Ele ficou surpreendido ao saber que uma grande fracção das crianças na rua em que eu cresci já era curda e turca há 30 anos atrás quando eu cresci lá; ele parecia ter esquecido como a região era multiétnica (?). Sua maior reclamação sobre a questão da imigração era "não ter sido perguntado", por ex. que o governo de Merkel nem sequer realizou uma votação parlamentar sobre o assunto.

He was visibly of the (also relatively German) conviction that "who I vote for does not matter", and that German politics is entirely detached from democratic principles. This, btw, is an extremely common sentiment whenever I speak to people in Germany, particularly pronounced with former SPD voters: A lot of them are deeply disillusioned that they repeatedly voted for a party that espoused a set of policies that it then never implemented or threw away once in power.

Ele era visivelmente da (também relativamente alemã) convicção de que "em quem eu voto não importa", e que a política alemã está inteiramente separada dos princípios democráticos. Isso, aliás, é um sentimento extremamente comum quando falo com pessoas na Alemanha, particularmente acentuada entre ex-eleitores do SPD: muitos deles estão profundamente desiludidos por terem repetidamente votado num partido que aderia a um conjunto de políticas que nunca implementou ou descartou uma vez no poder.

(continua)

S.T. disse...

(continuação)

Anyhow, summary: The social democrats are in the process of losing a good chunk of their traditional electorate to the far right. The worldview that has been constructed throughout the years in Germany (Germany as the frugal industrious paymaster for a lazy world) is deeply entrenched, and often quite irrational. The feeling of politics being detached and undemocratic is deep and strong.

De qualquer forma, em resumo: Os social-democratas estão em processo de perder boa parte de seu eleitorado tradicional para a extrema direita. A visão do mundo que foi construída ao longo dos anos na Alemanha (a Alemanha como pagadora diligente e frugal para um mundo preguiçoso) está profundamente arreigada e muitas vezes é bastante irracional. O sentimento de política sendo desligada e antidemocrática é profundo e forte.

The fascinating thing is that Germany has run consistent trade surpluses since 1993 or so, but my entire life from 1995 onward the German political discourse was dominated by a fear of "loss of competitiveness", and that the right way to run the economy is wage restraint to run ever-greater trade surpluses.

O fascinante é que a Alemanha tem superávits comerciais consistentes desde 1993, mas durante toda a minha vida a partir de 1995 o discurso político alemão foi dominado pelo medo da "perda de competitividade", e que a maneira correcta de administrar a economia é a restrição salarial para gerar superávits comerciais cada vez maiores.

If loss of competitiveness had truly been an issue back then, the trade balance would have looked different. The belief that economic ills are best cured by "no salary hikes" and "export more" is a quasi-religious axiom, as is an axiomatic moral belief that governments should not run deficits.

Se a perda de competitividade tivesse sido realmente um problema naquela época, a balança comercial teria sido diferente. A crença de que os males económicos são melhor resolvidos por "nenhum aumento salarial" e "exportar mais" é um axioma quase religioso, assim como que uma crença moral axiomática de que os governos não devem incorrer em déficits.

The belief that "my personal economic struggle is best explained by other people always taking advantage of good, industrious Germany" is also almost an axiom.

A crença de que "as minhas dificuldades económicas pessoais são melhor explicadas por outros povos sempre a tirar partido da boa e industriosa Alemanha" também é quase um axioma.

I sometimes think it would be fascinating to send some social anthropologists into German economics departments and into German society. There are fascinating belief structures at work, and the national discourse is largely decoupled from the international discourse.

Às vezes penso que seria fascinante enviar alguns antropólogos sociais para os departamentos de economia da Alemanha e para a sociedade alemã. Existem estruturas de crenças fascinantes no trabalho, e o discurso nacional é largamente desfasado do discurso internacional.



May 18

Just to be clear: He was articulate, intelligent, and I am thankful to have had the discussion with him - I think both him and me learnt a lot about each others worldview.

18 de maio

Só para deixar claro: ele (o taxista NdT) era articulado, inteligente e eu fico agradecido por ter tido esta discussão com ele - acho que ele e eu aprendemos muito sobre a visão de mundo uns dos outros.

Fim do texto do twiter

São bastante explícitos os mecanismos que, com base em informações erradas e a traição dos sociais-democratas às suas propostas e valores básicos levam à deslocação do eleitorado para o AfD. É assim que se fabricam fascistas.

S.T.

S.T. disse...

Respondendo ao Geringonço:

Alguns indícios no comportamento de Trump podem revelar que a sua posição nos imbróglios legais em que ele próprio e outros o envolveram é muito mais precária do que se imagina públicamente. Eu tenho tendência a avaliar os desenvolvimentos políticos e económicos sob um prisma dos efeitos, por vezes até subtis e contrários às opiniões generalizadas. O moralismo oco e a ortodoxia ideológica não fazem muito o meu género.

E quando digo que os seus "conselhos" podem não ser os melhores não é por má-vontade, mas apenas porque o contexto em que políticos como B.Sanders ou A.O.Cortez se movem é muito diferente do nosso e provávelmente soluções que nós europeus poderíamos considerar óptimas estão à partida liminarmente excluídas no contexto dos USA.

S.T.

Geringonço disse...

O S.T. até pode avaliar os desenvolvimentos políticos e económicos sob um prisma dos efeitos, por vezes até subtis e contrários às opiniões generalizadas, contudo, o Partido "Democrata" continua a ser um partido que serve os interesses de Wallstreet e da indústria de guerra, e não servem estes interesses porque os "Republicanos" os apontam uma arma à cabeça, fazem-no porque querem.

O crença que o Partido "Democrata" vai ser convertido num partido social democrata é o mesmo raciocínio de alguns à esquerda aqui na Europa quando falam da União Europeia. Passam os anos, renovam sempre as mesmas promessas e o pântano continua...

Mantenho a minha opinião, para haver mudança real, mudança que afecte a vida das pessoas positivamente e enterre de vez Neoliberalismo tem que haver um movimento fora dos partidos tradicionais que exija a mudança, tanto na Europa como nos EUA.

Jose disse...

Tudo se resume a propagandear que a globalização é o mal maior e que o Estado interventor a solução melhor.

Uma globalização em que competem produtividades é contrária à proposta de ócio adicional e mordomias acrescidas.

Um Estado parasitado por seitas burocratizadas e reproduzindo-se vegetativamente é um peso suplementar a travar o crescimento..

E para tudo serve a política monetária, como se em final a moeda não valesse o quanto do produzido pode adquirir.

S.T. disse...

Incomoda-me um erro de tradução que cometi aí mais em cima.

Assim, a frase:

I sometimes think it would be fascinating to send some social anthropologists into German economics departments and into German society. There are fascinating belief structures at work, and the national discourse is largely decoupled from the international discourse.

É melhor traduzida por:

Às vezes penso que seria fascinante enviar alguns antropólogos sociais para os departamentos de economia da Alemanha e para a sociedade alemã. Existem estruturas de crença fascinantes em acção, e o discurso nacional é largamente desfasado do discurso internacional.

As minhas desculpas por uma tradução demasiado literal e incorrecta.

S.T.

Anónimo disse...

É logico que começem a surgir sondagens deste tipo na União Europeia pois à fortes
indicios da deterioração económica e social.
É curioso que esses indicios altamente preocupantes aparecam já nas potências dominantes que são o eixo Paris -Berlim e o Benelux , que são os grandes beneficiários
dos tratados e do Status Quao reinante.
Há ndicadores muito fortes que mostram uma elevada probabilidade de se caminhar para uma nova recessão económica.
Ao continuar com a mesma política vinda de Bruxelas e de Strasburgo não se pode esperar outra coisa. Trata-se de uma política inspirada no Monetarismo de Chicago, que tem dado maus resultados em todos os locais onde tem sido aplicada.

S.T. disse...

A fraude, porque de fraude política se trata, consiste em fazer crer ao público alemão que está a sustentar os "preguiçosos" do Sul quando na realidade são "os preguiçosos do Sul" e os assalariados alemães que estão a ser espoliados pelo sector bancário-exportador alemão.

Pelo meio há um banco, o DB, cujas acções batem mínimos de cotação históricos e que agora, como forma de contornar as limitações regulamentares da EU, se pretende fundir com o Commerzbank.

Como de costume há um escândalo em pano de fundo: Parece que o DB ajudou o Danske Bank a "lavar" qualquer coisa como 234 mil milhões de dólares.

https://www.zerohedge.com/news/2018-12-06/deutsche-bank-cleared-nearly-all-234-billion-suspicious-funds-danske-bank

Só que tanto as motivações como os métodos são extremamente nebulosos. É que além das eventuais penalizações legais que flutuam sobre o DB há as dúvidas sobre o que tem de facto na pança. A carteira de derivados que já foi de 64X o PIB da Alemanha está agora em 27X o PIB de Itália e o valor notacional destes títulos é duvidoso porque não têm uma cotação liquida fácil de avaliar por um qualquer mercado. Na verdade o seu valor contabilístico é aquele que os serviços do próprio banco disserem que é, e não há nenhum mercado onde essa valorização possa ser testada. Portanto tudo transparente como borras de café.

Muitas interrogações se podem fazer àcerca da projectada fusão como por exemplo porquê criar um gigante em que um dos "nubentes" tem perdido sistemáticamente valor e encolhido como um balão furado.

Para quem tenha paciência neste artigo uma casa de investimentos Alhambra questiona-se sobre a "pressa":

https://www.zerohedge.com/news/2018-12-13/alhambra-questions-curious-rush-combine-german-banks

Cada vez mais o governo alemão se parece com um jogador viciado que recorre à extorsão para sustentar o vício de algumas elites alemãs pelo casino da alta finança.

https://www.zerohedge.com/news/2018-12-12/germany-accelerates-plans-deutsche-bank-commerzbank-megamerger

Mas talvez o artigo mais feroz contra o DB seja este:

https://www.zerohedge.com/news/2018-12-03/deutsche-bank-about-cause-next-global-crisis

Onde um certo

"Professor de Economia e Direito, William Black, sabe porquê e afirma:

    “O Deutsche Bank (DB) apresenta-se como o que é chamado de banco 'Campeão Nacional' e o maior banco na Alemanha, mas na verdade é a maior empresa criminosa da Alemanha. E isso é uma afirmação e tanto porque a VW já é uma fraude tão grande ..."

"Professor of Economics and Law, William Black, knows why and contends:

“Deutsche Bank (DB) poses as what is called a ‘National Champion’ bank and the largest bank by far in Germany, but it’s actually the largest criminal enterprise in Germany. This is quite a statement because VW is such a massive fraud..."

S.T.

S.T. disse...

Para os "distraídos" que fiquem surpreendidos com as cedências italianas em matéria de orçamento sugere-se que observem o evoluir da situação da banca transalpina.

Julgo adivinhar que tenha havido bastante "horse-trading" nos bastidores. O governo alemão deve ter trocado a benevolência em relação à ajuda de estado encapotada disfarçada de fusão do DB com o Commerzbank por algum alívio discreto para a banca italiana.

Está tudo muito caladinho, portanto é sinal de que foram feitos acordos. Se notarem, os italianos nem sequer protestam com o défice de 3,4% do orçamento francês. Acham normal? LOL

Entretanto assistimos a uma ridícula tentativa de diabolização dos gilets jaunes que agora são pintados como agentes subversivos de Moscovo. Parece que voltámos 50 anos atrás no tempo. LOL Alguém se distraiu e ligou o "BACK DO THE PAST" da máquina do tempo...

Deve ser para fazer justiça ao autor de geopolítica que afirmou que a unidade política da Europa tem necessidade da ameaça Russa porque senão, sem um inimigo externo, nunca se fará.

Enfim, tiques de cartel económico a armar ao pingarelho e a sonhar com ser império.

S.T.

Anónimo disse...

Segundo a imprensa internacional independente a situação no Deutsche Bank é grave.

S.T. disse...

Pode ser que eu esteja enganado e os acordos de bastidores não envolvam a banca italiana e o DB. Recorde-se que os bancos alemães a certa altura eram os mais interessados em tomar posições na banca italiana... a preços de uva mijona, claro!

Recordo também que quando se falava do DB o Sr Schauble tinha o gosto duvidoso de mudar o assunto para a situação financeira de Portugal. Os portugueses deveriam lembrar-se dessa e doutras patifarias.

Segundo alguns analistas enquanto a maior parte dos bancos mundiais reduziu o seu perfil de risco o DB depois do apogeu da crise retomou os seus negócios de alto risco.

Por seu lado os populistas italianos já rezaram o responso a Bruxelas: Se for necessário socorrer o sistema financeiro italiano mandam às urtigas todos os regulamentos e restrições comunitárias. E se necessário o euro.

A atitude italiana para com os bancos é completamente diversa da dos portugueses. Talvez porque os casos de fraude em Portugal fossem muito mais graves e evidentes. Em Itália percebem que se afunda o sistema financeiro a economia real também afunda. E embora possa haver casos de favorecimento e até fraudes, sabem que a origem de grande parte do crédito mal-parado é sistémica e tem origem no mau estado da economia e em última instância no euro.

Isso gera um consenso em torno da necessidade de preservar o sistema financeiro italiano custe o que custar. E de o manter fora do alcance da cobiça alemã.

S.T.