«Um mercado de trabalho carente de pessoal mas cada vez mais exigente em qualificações. Neste contexto não é aceitável que no segmento 18 a 24 anos, 18,2% nem estude nem trabalhe e, ainda menos, que mais 16,4% esteja a receber subsídio de doença. Somando estas duas realidades conclui-se que 34,6% dos jovens não estão a trabalhar nem a estudar ou estão "de baixa"...».
É assim, sem tirar nem pôr, que o Fórum para a Competitividade, na sua página no facebook, traça o perfil dos jovens portugueses: cerca de 1/3 (34,6%) não trabalha nem estuda ou encontra-se «de baixa» (as aspas, que insinuam tratar-se de baixas fraudulentas, são a cereja em cima do bolo). Malandragem portanto, na conversa do costume (faltando apenas relembrar que foi uma pena «que a troika tenha ido embora»).
Mas façamos as contas, tomando como referência o ano de 2017 (dado não haver informação sobre população residente em 2018). De acordo com o INE, residiam em Portugal no ano passado cerca de 1 milhão de jovens com idades entre os 15 e os 24. Entre estes, cerca de 102 mil (9%) não se encontra a trabalhar nem a estudar ou em formação (na OCDE, em 2016, eram cerca de 6% na faixa de 15 a 19 e 16,2% na faixa entre 20 e 24 anos). Ou seja, nenhuma anomalia neste âmbito quando nos comparamos à escala internacional (face à qual, de resto, temos vindo a melhorar, situando-nos desde 2015 abaixo da média).
A parte mais complicada, pela bizarria que comporta, é a que traduz a ideia de que há jovens a receber Subsídio por Doença em vez de estar a trabalhar, o que não é - segundo o Fórum - aceitável. E na ausência de referência a uma qualquer taxa de baixas fraudulentas, que obrigaria a matizar os resultados (e as conclusões a que chega), o que o Fórum faz é uma coisa tão simples quanto absurda: ao somar o número de jovens com Subsídio por Doença ao número de jovens que não estuda nem trabalha (ponham moralismo nisto), presume - na prática - que todas as baixas são fraudulentas. Ou seja, se não é falsa doença é preguiça, se não for preguiça é falsa doença. De onde se conclui que se dependesse da má fé, do preconceito enquistado e do populismo moralista, o Fórum seria muito competitivo. Mas como assim não é, somos forçados a constatar que se trata de uma agremiação pouco atreita ao rigor das contas e à seriedade na análise.
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9 comentários:
"somos forçados a constatar que se trata de uma agremiação pouco atreita ao rigor das contas e à seriedade na análise."
Faltam alguns qualificativos mais, mas percebe-se a sobriedade de Nuno Serra.
Um post certeiro e atento à "realidade" que nos querem impingir
Mas esse fórum não é de empresários? É darem emprego às pessoas que logo diminui a quantidade de pessoal que não trabalha.
Devia chamar-se fórum para a competitividade salarial. Ao menos ficava mais claro ao que vem. Ah, mas não pode ser pois o fórum pretende fazer análise técnica e isenta (ironia).
"Fórum para a Competitividade"?
Não será "Fórum de inúteis que gostam de mandar os outros trabalhar"?
Presidente: Pedro Ferraz da Costa
Vice Presidentes:Vogais: António Nogueira Leite, Jaime Esteves, Nuno Fernandes Thomaz, Rui Borges Alexandre Patrício Gouveia, António Saraiva, António Serrano, Carlos Rodrigues, Eduardo Oliveira e Sousa, Isabel Furtado, João Castello Branco, João Miranda, João Moreira Rato, Luís Pais Antunes, Luís Todo Bom, Maria Celeste Hagatong, Maria do Carmo Vieira da Fonseca, Vasco de Mello
Mesa da Assembleia Geral
Presidente: Luís Mira Amaral
Vice-Presidente: Daniel Bessa
Secretário: Francisco Sanchez
...
A fina flor do entulho
Pode haver doentes neet?
Não trabalha nem estuda e há falta de mão-de-obra,
eis a relação que não impressiona a esquerdalhada e remete de imediato para as estatísticas que nada têm a ver com a nossa situação económica ou laboral.
O precário estado de saúde da juventude também não os impressiona, talvez tal se deva a qualquer influência da troika.
Tudo considerado, trata-se seguramente do habitual rol de coitadinhos.
Apressado jose sai em defesa deste fórum para a competitividade.
E depois é o ridículo:
-São os dados estatísticos que não lhe agradam?
Então dirá que "as estatísticas (que) nada têm a ver com a nossa situação económica ou laboral.
-É a denúncia do que o fórum diz sobre os jovens que não lhe agrada?
E então falará tosca e em forma de fuga do " precário estado de saúde da juventude"
( o "rol dos coitadinhos" é apenas o resquício que lhe ficou das invectivas daquele tipo de nome Passos Coelho, que abrilhantou as cenas de miséria, de fome e de roubo como serventuário da troika. E mais além do que a dita)
Como é que há falta de mão de obra com tanto desempregado activo? É preciso juntar o desemprego ao défice estrutural e redefini-los todos os anos até as contas baterem certas.
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