quinta-feira, 7 de junho de 2018

Efabulação económica

Mário Centeno e Miguel Castro Coelho escreveram um artigo no Voxeu, o sítio de divulgação da economia convencional europeia, a louvar o seu trabalho na “viragem” da economia portuguesa. Algumas notas rápidas:

1. Atribuir a recuperação económica aos inegáveis avanços de décadas na educação em Portugal é só uma manifestação de fé. Como o próprio Centeno e Coelho afirmam, esses avanços vêm de trás e precedem a longa estagnação da economia portuguesa a partir de 2001. Se os avanços na educação são condição para uma economia diversificada e desenvolvida, eles não são suficientes, como o caso português bem mostra. Não basta investir do lado da oferta. A procura de qualificações e as políticas públicas que as promovam (por exemplo, através de uma política industrial e cambial) são o outro lado da moeda que tem faltado em Portugal. Nesta recente recuperação da economia, alimentada pelo turismo e imobiliário, com desinvestimento nos serviços públicos (onde a necessidade de qualificações se concentra), dificilmente se pode atribuir uma relação causal entre progresso educativo e crescimento económico.

2. O aumento da capacidade exportadora da economia portuguesa é celebrado, mas a palavra turismo não aparece uma única vez. Não é difícil perceber a razão por detrás. Dar relevância a este sector mina o argumento de que estamos num processo de reestruturação económica, em convergência com os países mais ricos, graças às “reformas estruturais” entretanto empreendidas.

3. Nem uma palavra crítica é dedicada à reforma laboral do anterior governo. Pelo contrário, as sucessivas reformas laborais e a "flexibilidade" gerada são, mais uma vez, celebradas: temos fluxos de trabalhadores entre emprego e desemprego parecidos com os dos EUA. Urra!? A experiência de oscilar entre os dois estados deve ser formidável para os trabalhadores... Nada que surpreenda vindo de quem sempre defendeu o recuo dos direitos do trabalho. Talvez fique mais claro a relutância deste governo em reverter uma reforma antes criticada pelo Partido Socialista.

4. Os dados do investimento usados no artigo são bem estranhos. O aumento de 9% em 2017 é sublinhado, mas não nos dizem qual é a base. Pelo contrário, oferecem-nos um gráfico com o rácio entre investimento (privado) e valor bruto acrescentado. Como o segundo também caiu, parece que estamos em linha com a restante UE. Portugal é um dos países europeus com mais baixo investimento na Europa e o país com mais baixo investimento público em percentagem do PIB.

5. Este artigo parece (mais) uma provocação aos partidos que suportam o governo.

15 comentários:

Anónimo disse...

De acordo. Mas a exclamação (irónica) de entusiamo devia ser «Hurra», com "h", senão é tempo verbal do verbo urrar. Para isso, mais valia antepor-lhe um "z" ao início. Ficava mais em conformidade.

Anónimo disse...

Muito bem!

Anónimo disse...

"Nesta recente recuperação da economia, alimentada pelo turismo e imobiliário ..."
Caro Nuno Teles, está completamente enganado. A recuperação da economia deveu-se essencialmente ao fim da austeridade, da reversão de cortes salariais e ao consequente aumento do consumo e procura interna.

Jose disse...

Realmente só falta dizer que a política do governo anterior é que fazia sentido!

Finalmente – e só por razões tácticas – a esquerda assume que o progresso geringonço é fantasia oportunística e conjuntural.
Quanto a soluções, só uma para exemplo: «as políticas públicas que … (por exemplo, através de uma política industrial e cambial) ...». Acontece que é a única que não está disponível, por três razões:
- em vez de capital temos dívida e poucochinho crédito.
- temos democracia em vez da ditadura que mobilizaria e acumularia capital
- para termos ditadura de esquerda e moeda, não teríamos mercado.
Entretanto, entretenham-se a distribuir, consumir e invetivar o capital.

Anónimo disse...

Era a este Centeno, tomado como idiota útil de Bruxelas, que alguém um dia chamou do mais radical dos radicais.

Em cinco parágrafos desmonta-se o artigo de Centeno e Coelho. Incisivos.

Bom trabalho o de Nuno Teles

Anónimo disse...

Herr José sempre a tresler

Falar na pulitika do governo anterior?

Só para os mafiosos e os rentistas.

Anónimo disse...

Mas não ê tão romântico esse pendor para a ditadura do herr José

A herança dos tempos das costas quentes do estado novo ...

Paulo Marques disse...

Oh Jose, há que admirar a paciência em insistir na cassete propagandista. A política, mais décima menos décima, é a mesma, é o ponto do autor, e não funciona porque sim nem com uns, nem com outros.

S.T. disse...

É o chamado "artigo a dar graxa ao cágado". LOL É normal.
Deviam era estar a trabalhar no plano B e no plano C

https://www.bloomberg.com/view/articles/2018-06-01/italy-needs-a-euro-exit-plan-and-so-does-the-rest-of-europe

Entretanto o banco JPMorgan considera que a melhor opção de Itália seria dizer "Ciao, euroinómanos!":

https://www.zerohedge.com/news/2018-06-02/jpmorgans-stunning-conclusion-italian-exit-may-be-romes-best-option

S.T.

Jose disse...

A esquerdalhada a apoiar o America First! é o último número da palhaçada com que nos vêm entretendo.

À força de não terem nada para dar sempre procuram promover inimigos que demonizam para se fazerem acreditar em contraponto. Só quem não os conhece...




Anónimo disse...

"só falta dizer que a política do governo anterior é que fazia sentido!"?

E com o ponto de exclamação da ordem a tentar fazer-se passar por coisa séria?

Aquela política das ditas reformas estruturais do Passos e companhia e agora citadas indirectamente por Rui Rio, numa espécie de tiro no pé quase que cómico?

O que fazia sentido era "isto"?

As "reformas estruturais que mais não significaram do que ataques aos direitos dos trabalhadores, com o congelamento do salário mínimo nacional durante quase quatro anos, com o congelamento das reformas e pensões e com o congelamento e redução das remunerações na administração pública, com cortes nas indemnizações por despedimentos, nos montantes e condições de concessão do subsídio de desemprego, no pagamento das horas extraordinárias e trabalho suplementar, com a redução do emprego na administração pública, com a suspensão parcial dos subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores da administração pública, reformados e pensionistas, com a criação da sobretaxa extraordinária de IRS em 2011 e a sobretaxa de IRS a partir de 2013, a revisão e limitação dos benefícios fiscais em sede de IRS, as alterações dos escalões e aumento das taxas do IRS, o aumento da taxa normal de IVA para 23%, a sujeição do consumo de electricidade e gás natural à taxa normal de IVA e as reestruturações das taxas de IVA.

Reformas estruturais que mais não significaram do que cortes nas prestações sociais não contributivas (abono de família, complemento solidário para idosos e rendimento social de inserção), aumento das taxas moderadoras, cortes nas despesas com Saúde e cortes nas despesas com Educação.

Reformas estruturais e políticas de austeridade que ao mesmo tempo que significaram uma redução dos rendimentos do trabalho de cerca de 3,4 mil milhões de euros entre 2011 e 2015, corresponderam a um aumento do excedente bruto de exploração (lucros, juros e rendas) de cerca de 4 mil milhões de euros.

Objectivamente da aplicação do chamado programa de assistência económica e financeira (programa da troika) o que resultou foi o agravamento da distribuição do rendimento nacional em detrimento dos rendimentos do trabalho e a favor dos rendimentos do capital."

Anónimo disse...

Se realmente alguém diz que o que fazia sentido ( com o ponto de exclamação típico das carpideiras profissionais) era esta trampa acima descrita...

bebe, está doente, senil, confuso...ou quer mais a dita: ditadura ou a denta dura do Passos

Anónimo disse...

Entre a ditadura e a denta dura, José hesita

Mas prefere tentar o caminho da palhaçada

Só quem não o conhece

Jose disse...

A des_conversa, estádio último da inanidade argumentativa.

Anónimo disse...

Des-conversa?

Tal como quando se fala em palhaçada e em esquerdalhada? Só quem os não conhece?

Ou quando se pressentem as lágrimas húmidas de saudades passadas (e futuras) pela ditadura que mobilizaria e acumularia capital?

Mais uma vez este a assumir a táctica da virgem ofendida...depois do elogio à canalha


Infelizmente estas habilidades argumentativas assim escondidas não passam. Nem em travesti de inanidades