sábado, 12 de maio de 2018

Capas e contracapas (IV)

É curiosa a forma como o «i» decidiu recentemente «titular» a notícia da redução do número de alunos por turma no próximo ano letivo, uma medida aprovada pela maioria de esquerda no parlamento e cuja segunda fase de concretização foi anunciada há cerca de uma semana pelo Governo.

Para o «i» - e ao contrário dos títulos que surgiram no Público, Jornal de Notícias, Expresso ou Correio da Manhã, por exemplo - o facto relevante não foi a generalização da redução do número de alunos por turma em todos os inícios de ciclo do ensino básico (1º, 5º e 7º ano), mas sim a circunstância de o ensino secundário ficar «fora» do processo. Ou seja, em vez de noticiar o que aconteceu (como se espera que um jornal faça), prefere-se dar informações sobre o que não aconteceu.

A opção do jornal é duplamente estranha. Por um lado, porque está em causa a reversão com o impacto mais amplo face à decisão de Nuno Crato nesta matéria, de aumento do número de alunos por turma (sim, aumento, e não «alargamento», como sugere a notícia do «i», pois o número de alunos por turma «aumenta» ou «diminui», não «alarga» nem «encolhe», como a roupa). Por outro lado, porque a reposição dos valores relativos ao número de alunos por turma, para os valores que vigoravam antes da maioria de direita, foi sempre anunciada como sendo um processo gradual, que teve início nas escolas TEIP, no presente ano letivo (isto é, nas escolas localizadas em Territórios Educativos de Intervenção Prioritária).

Perante esta opção do jornal, fica uma dúvida: que fará o «i» quando o Ministério da Educação aplicar a redução do número de alunos por turma ao ensino secundário? Dirá também, nesse momento, que o ensino superior ficou «fora do processo»?

10 comentários:

Anónimo disse...

A comunicação social que temos é uma trampa e está nas mãos de um punhado de pessoas

Lowlander disse...

Os processos neoliberais de mercantilizacao dos media levam imveitavelmente a estes enviesamentos. Alias os media historicamente nunca foram baluarte algum de liberdade ou democracia mas sim marionetas e caixas de ressonancia das classes possidentes. Assim sendo a esquerda sobram duas opcoes: ser utopica e tentar que os media passem a ser independentes financeiramente dos grupos economicos ou entao a esquerda pode sempre ser pragmatica e largue umas massas e faca a sua propria imprensa simpatica para com a esquerda

MÁRIO disse...

Mesmo assim todas as turmas, desde o 1 .º ano ao 12.º ano, poderão ter apenas 20 alunos desde que tenham alunos com necessidades de inclusão, pois a nova legislação da educação inclusiva, que vai substituir a educação especial, refere a diminuição de alunos por turma, 20 , desde que existam 2 ou mais alunos com necessidades de inclusão.

Anónimo disse...

Realmente, deveria haver esquemas e ideias concretas para a comunicação social ser mais plural.

Jose disse...

Vejamos se percebi bem:
- Ao «alargamento» não se segue o «encolhimento», agora que se deu fim à austeridade de direita?
- 2 alunos do ensino especial e 18 observadores dão uma turma de inclusão?

Anónimo disse...

José e o alargamento

Está certo. Uma forma de confirmar o encolhimento sofrido ao longo do tempo

Anónimo disse...

Turmas para as elites sempre foi o sonho dos Josés deste mundo , enquanto papagueavam o direito dos mais fortes à condição de senhores

Essa história da educação inclusiva deixa-os em transe e desta forma alargada.

Que diacho na Legião , o os Capos também tinham um rancho diferenciado dos outros

Anónimo disse...

Na linha do pragmatismo de Lowlander estão à espera de quê para criarem uma publicação online que veícule a informação correcta de um ponto de vista das esquerdas?
As esquerdas nos USA, em França e um pouco por todo o lado resolveram essa carência. Não se pode fazer o mesmo?
Com tanto jornalista progressista desempregado não é de certeza por falta de mão de obra.
S.T.

Manuel Pinto disse...

E para quê diminuir o numero de estudantes por turma? Ninguem pergunta isso? Várias hipóteses:
1. para aumentar o sucesso pedagógico dos alunos, melhorando a aprendizagem? Parece que os resultados de vários estudos provam que isso só tem efeito abaixo de 12 alunos por turma. 28 ou 20, não faz diferença.
2. para aumentar o numero de professores a contratar e dar trabalho a professores desempregados?
3. para aumentar a despesa na educação e ficarmos melhor nas estatísticas?
4. So para xatear?

Anónimo disse...

Ninguém pergunta?

Claro que pergunta. Pergunta e discute-se embora se perceba que o caro Manuel Pinto tenha perguntas em atraso.
Parece que foi por causa do resultado de vários estudos, encomendados à troika e mais além do que a troika, que Crato aumentou o número de alunos por turma para 30...

Foi só para "xatear" .

Ah, ficou provado que o tamanho importa mesmo