sábado, 26 de maio de 2018

A vida, e a dignidade, dos outros (II)



«Defendo a dignidade da vida como bem essencial e não tenho sobre os meus concidadãos a arrogância de achar que sei mais sobre a dignidade da sua vida do que os próprios sabem sobre o que de mais precioso têm. O direito à vida não passa, para mim, pela imposição autoritária e sem critério de uma obrigação de viver em qualquer circunstância. Não me vejo, por ser deputado, como dono da consciência dos outros. (...) O que se pretende despenalizar é a morte assistida sempre que haja a combinação de quatro coisas: um diagnóstico de doença incurável e fatal ou lesão definitiva; um prognóstico de que essa doença é incurável e fatal; um estado clínico de sofrimento duradouro e insuportável; um estado de consciência que demonstre a plena lucidez e capacidade da pessoa entender o alcance do pedido. É sobre isto, e apenas sobre isto, que serei, como os outros deputados, chamado a votar.»

José Soeiro, A minha morte e a dos outros

«O que acontece quando alguém tem a consciência clara de que a perda de autoestima, de dignidade e de independência, assim como o sofrimento físico e psicológico que o esperam, se irão acentuar nas semanas, meses ou até anos de vida de que possa vir ainda a usufruir? (...) Se, para uns, a resposta óbvia são os cuidados paliativos, para outros, o desejo e a possibilidade de pôr fim rapidamente a esse sofrimento são também muito claros. (...) E é perfeitamente concebível que para muitos (em que eu me incluo) não é só a dor física que é intolerável. É também a ideia de que a quantidade de vida adicional não compensa a qualidade de vida perdida. E suspeito que quanto mais rica tiver sido essa qualidade de vida de alguém, menos disposta estará a valorizar semanas ou meses de vida adicionais.»

Alexandre Quintanilha, Porque a quantidade de vida adicional não compensa a qualidade de vida perdida

«Estou à espera do momento em que os partidos que defendem a "inviolabilidade absoluta da vida humana" sejam consequentes e se cheguem à frente para acabar com o consentimento informado. Pelos seus pressupostos filosóficos e éticos, um paciente não tem o direito de optar pela suspensão de um tratamento que o salva mas que lhe retira a qualidade de vida que ele considera nível mínimo para valer a pena viver e um médico que respeite a sua vontade estará, portando, a incorrer em má praxis. (...) Suspender tratamentos sem os quais alguém morrerá é também eutanásia e é legal. No caso acima é eutanásia passiva voluntária mas não é a única legal, há milhares de casos de eutanásia passiva involuntária que são sinal de boa prática clínica, o encarniçamento terapêutico [*] é falha deontológica grave.»

Maria João Pires (facebook)

14 comentários:

Jose disse...

Já por aí há um testamento vital a ser realizado em tempo certo de liberdade.
No mínimo seria esse o tempo de definir se admitem querer: a verdade clínica, o não prolongamento da vida e eventualmente a morte assistida nas condições em que a lei a admitisse.

Tudo o que está em curso é a merda da progressismo esquerdalho.

Anónimo disse...

Lindo linguarejar este

A discordância não justifica logo o aparecimento do trauliteirismo habitual em herr José

Há antros fundos

Anónimo disse...

Ai o medo do progressismo.... que horror. Ai o medo do SNS... que horror. Ai o medo do divórcio... que horror. Ai o medo do Evangelho de Jesus Cristo... que horror. Ai o medo do comboio... que horror. Ai o medo do parlamento... que horror. Ai o medo de não casar pela Igreja... que horror. Ai o medo da mulher trabalhar fora de casa... que horror.

E atrás do boneco, a foto do papa.

Que mania dos portugueses moralistas sempre a meterem-se na vida dos outros.

Desde o século XVI, quase 500 anos de censuras e de vigilância do comportamento social, uma desgraça autêntica.


Vitor disse...

a meu ver uma das principais desvantagens da legalização da eutanásia é o facto de se poder criar uma certa pressão social (e económica...) para que alguns indivíduos mais doentes, mais desprotegidos e em maior sofrimento, "resolvam" a sua situação por este meio. Não sei até que ponto será possível tomar uma decisão realmente "livre" sobre este situação que não seja tomada pelos menos com uns 5-10 anos de antecedência. Acho que neste ponto o comentário do José faz sentido.

Penso também que poderá afetar os profissionais de saúde (em estado de esgotamento no SNS) que ao ser possibilitada essa opção poderão passar a encarar estes doentes mais difíceis e intratáveis como uma "dificuldade" desnecesária ao exercício da sua profissão o que pode levar a uma descida do nível de cuidados de saúde dos doentes terminais que não optem

Não sei até que ponto esta preocupação poderá justificar a sua não legalização pois efetivamente é uma restrição da liberdade do indivíduo, mas penso que o parlamento atual não deveria legislar sobre esta matéria tão fraturante pois não foi um assunto discutido na campanha eleitoral e os eleitores não estavam minimamente informados sobre quais as opções defendidas por cada partido quando votaram.

Sobre o suposto esclarecimento da população sobre este tópico que é uma questão essencial a meu ver, nos últimos dias o numero de manchetes e notícias sobre o Sporting provavelmente ultrapassou umas 100 x as noticias sobre a eutanasia. Até seria algo interessante para ser verificado o numero de minutos dedicados nas TV ao tema eutanasia vs sporting.

Anónimo disse...

O José tem razão sobre a "decisão realmente "livre" sobre este situação que não seja tomada pelos menos com uns 5-10 anos de antecedência. decisão realmente "livre" sobre este situação que não seja tomada pelos menos com uns 5-10 anos de antecedência". Pois foi isso mesmo que ele disse , lolol.
Porque há o perigo para alguns indivíduos mais doentes, mais desprotegidos e em maior sofrimento, "resolvam" a sua situação por este meio.
E os profissionais de saúde em estado de esgotamento e o perigo para os doentes mais difíceis e intratáveis como uma "dificuldade" pode levar a uma descida.
O parlamento atual não deveria legislar sobre esta matéria tão fraturante pois não foi um assunto discutido na campanha eleitoral tal como o nosso Professor Cavaco Silva disse.
E o Sporting provavelmente ultrapassou umas 100 x a eutanásia
Brilhante de facto

Jose disse...

Ou o Cuco se transcendeu ou há um perigoso cretino aí acima.

Vitor disse...

Sr. anónimo assumo que não serão brilhantes mas são alguns dos meus pensamentos sobre uma matéria que a meu ver é muito complexa e sobre a qual não tenho certezas.

Relativamente ao facto de achar que é necessário um período longo de hiato para que a decisão de morte seja realmente livre o meu raciocínio baseia-se no seguinte (mais uma vez assumo que não seja uma explicação brilhante mas talvez possa fundamentar um bocadinho melhor o que escrevi anteriomente).
- muitas pessoas que tentam o suicídio sem sucesso são tratadas psiquiatricamente e posteriormente arrependem-se do sua decisão de terem tentado o suicídio. Ora a morte é algo de definitivo.Caso tivessem tido sucesso como suicídio já não teriam margem para se arrepender posteriormente dessa decisão. A meu ver uma pessoa que está doente, cheia de dores, imobilizada numa cama, provavelmente já com défices cognitivos dificilmente pode tomar uma decisão realmente livre e consciente. Já uma pessoa que toma antecipadamente essa decisão com por exemplo uns 10 anos de antecedência, através de um testamento vital, em que durante esses 10 anos tem facilmente a possibilidade de mudar de ideias mas não o faz, acho que permite uma segurança muito maior de que a decisão foi realmente tomada de forma livre e consciente. Por isso acho que poderia fazer sentido impôr essa limitação.
- por outro lado uma decisão tomada com um longo tempo de antecedência e que pode ser anulada a qualquer momento penso que também tornaria menos prováveis situações em que uma decisão de eutanásia seja tomada devidos a pressões sociais e económicas de terceiros.

Bem sei que supostamente existirão uma série de avaliações que visam evitar este tipo de problemas, mas assim como na Interrupção Voluntária da Gravidez está consagrada na legislação o direito a acompanhamento psicológico que muitas vezes depois por falta de meios não é proporcionado, penso que todas estas medidas de avaliação prévia que estão, e bem, consagradas nas propostas atuais depois na prática muito provavelmente não estarão disponíveis de forma universal. Assim ficaria muito mais confortável com uma legislação que implementasse sérias medidas preventivas que não impliquem a mobilização de muitos meios que evitem "eutanásias" motivadas principalmente pelos interesses de terceiros ou que não defendam o doente de um eventual posterior "mudança de ideias". A meu ver uma dessas formas seria apenas permitir a eutanásia a pessoas que previamente o definissem num testamento vital com uma antecedência longa (uns 5-10 anos).

Mais uma vez peço desculpa pela falta de "brilhantismo" da argumentação.


Pedro disse...

Este José é mesmo uma nódoa.

Tantos insultos ao "esquerdalho" por causa da eutanásia e nem sabe que o PCP vai votar contra a eutanásia.

A direita exibe sempre a ignorância mais labrega.

E que treta é aquela dos 5, 10 anos ?

Desde quando uma decisão legal tomada por um adulto tem de esperar uma década para ser válida ?

Anónimo disse...

"... suicídio sem sucesso são tratadas psiquiatricamente e posteriormente arrependem-se do sua decisão de terem tentado o suicídio. Ora a morte é algo de definitivo.Caso tivessem tido sucesso como suicídio já não teriam margem para se arrepender posteriormente dessa decisão"

Estamos no reino do humor, não? Assim tipo Monty Python ou Gatos Fedorentos?

Anónimo disse...

"Interrupção Voluntária da Gravidez está consagrada na legislação o direito a acompanhamento psicológico que muitas vezes depois por falta de meios não é proporcionado"

Estamos no reino da hipocrisia?
Que acompanhamento psicológico foi dado às mulheres que tiveram que abortar clandestinamente?


"muito mais confortável com uma legislação que implementasse sérias medidas preventivas que não impliquem a mobilização de muitos meios"

Sim, porque se forem necessários muitos meios, muitos profissionais de saúde, "poderá afetar estes (em estado de esgotamento no SNS) que ao ser possibilitada essa opção poderão passar a encarar estes doentes mais difíceis e intratáveis como uma "dificuldade" desnecesária ao exercício da sua profissão o que pode levar a uma descida do nível de cuidados de saúde dos doentes terminais que não optem"

("Mais uma vez peço desculpa pela falta de "brilhantismo" da argumentação."
Ainda não terá o vitor percebido que a questão não é mesmo essa? Por isso essas falsas modéstias parecem de uma prédica desajustada?)

Jose disse...

Um tal Pedro vem aí dizer que o PCP é 'esquerdalho'.
Ora isso é injustamente insultuoso!
O PCP é socialista, e só a contragosto alinha numas esquerdalhadas, e sempre torna claro que o faz tão só porque ainda não pode seguir a verdadeira via do 'rumo ao socialismo'.

Anónimo disse...

O que o jose faz para fugir ao que se debate.

Até publica obra sociológica sobre o PC,onde demonstra o seu verdadeiro rumo.

Lolol.

Ele,logo ele,que quando lhe falam em algo que cheire a ciências sociais, fica incontinente

Anónimo disse...

Mais um comentário de m.

"Alexandre Quintanilha, Porque a quantidade de vida adicional não compensa a qualidade de vida perdida"

Bem, o Universo tem 14 mil milhões de anos, e mais 14 mil milhões deverá pelo menos ter. 2 ou 50 anos é indiferente no espaço-tempo universal.

O estado a matar legalmente pessoas, mesmo que a pedido, é uma tragédia civilizacional.

Anónimo disse...

Muito activo este José. Entre o seu cretino e a sua “merda” o seu coração balança

Mais uma vez se lastima esta linguagem boçal. Terá aprendido com os seus?