sábado, 26 de maio de 2018
A cultura é um incómodo?
[A] sequência de cortes em verbas que constavam de contratos assinados pelo Estado com os agentes culturais, aos quais se juntaram reduções nos concursos mais pequenos que foram abrindo e o facto de vários concursos previstos na Lei não terem chegado abrir, explica o que aconteceu: entre 2009 e 2016, o somatório dos principais apoios públicos às artes passou de 21 milhões de euros para menos de 13 milhões de euros (...) Entre as palavras de ordem que profissionais do sector e público que se sente defraudado quiseram gritar ouviu-se “” Isto não acaba aqui” e “Um por cento, já neste orçamento”. Veremos, da parte do governo e da maioria parlamentar que o viabiliza, até onde estão dispostos a ir para serem coerentes com os princípios que enunciam.
Excerto do artigo de Pedro Rodrigues – “Os apoios públicos às artes” – publicado na edição de Maio do Le Monde diplomatique – edição portuguesa e que pode servir para enquadrar um debate cuja questão relembra uma reveladora declaração de desprezo pela cultura...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
19 comentários:
A cultura é um incómodo para os poderes instituídos e para os donos da eurolândia
«A cultura é um incómodo»
Parece-me um facto evidente, se falamos da maior parte da 'cultura como praticada pelos que se dizem os seus agentes'.
Essa incomodidade traduz-se na falta de quem lhes queira aturar as crenças e frequentar as suas manifestações culturais.
Mas, por qualquer outra razão que que não a do mantra '...segundo as suas necessidades', não se vê porque sustentar agentes culturais,
- ou se eternizem a projectar espectáculos para salas vazias repetindo variantes de um limitado leque de criações que o foram já há uma eternidade.
- ou, em versão mais moderna se dispensam de declarar ao que vêm e 'cada um que entenda o que bem entender', caso em que a ausência de mercado é já parte do projecto.
E quem sugere meios de avaliação do sucesso de uma manifestação cultural, é naturalmente inculto ... etc.
A arte e a cultura que serve para perpetuar conceitos já amplamente difundidos devia pagar-se a si própria, o investimento nestas áreas é essencial, precisamos de ideias novas, abordagens arrojadas e de pessoas diferentes.
A direita e a direita-extrema nunca gostaram da Cultura
"Quando ouço falar de Cultura saco logo a pistola"
Esta frase testemunha-o bem. Proferida segundo uns por Goering, segundo outros por Goebbels, parece que a citação é uma passagem da peça Schlageter (1933), de Hanns Johst(1890-1978), teatrólogo nazi. A versão original é "Wenn ich Kultur höre ... entsichere ich meinen Browning"
Ele sabia porque o fazia.
Jose também
Dizia Sophia de Mello Breyner:
“A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar – para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça. E, se o homem é capaz de criar a revolução, é exactamente porque é capaz de criar a cultura”.
Ora aí está mais uma acha para os reflexos pavlovianos de quem ouve falar em Cultura
Se se reparar bem e antes de irmos ao "aturar de crenças e às salas vazias e à ausência de mercado e ao naturalmente inculto", marcas de lugares-comuns duma tralha salazaristo-cavaquista bolorenta, o que João Rodrigues começa por falar é de cortes:
"[A] sequência de cortes em verbas que constavam de contratos assinados pelo Estado com os agentes culturais, aos quais se juntaram reduções nos concursos mais pequenos que foram abrindo e o facto de vários concursos previstos na Lei não terem chegado abrir"
E de concursos que, previstos na lei, não abriram
Percebe-se que estas coisas são menoridades a não merecer referência para quem, não há muito, defendia roubos de salários e de pensões. Também na altura o não cumprimento dos contratos era coisa sem importância.
Essa coisa de Lei tem o carácter dúbio de ser apenas para cumprir quando está em causa o sacrossanto direito ao lucro. E ao saque.
A incomodidade referida por jose traduz-se na "falta de quem lhes queira aturar as crenças e frequentar as suas manifestações culturais".
Ninguém obriga jose a sair da sua zona de conforto, embora se relembrem os seus berros histéricos de apoio ao seu ídolo Passos Coelho, quando este introduziu o tema do "conforto" para fazer singrar as suas políticas criminosas
Ninguém obriga jose a ler Eça de Queiroz ou a considerar este apenas como produto de decoração em estantes aprumadas para consumo visual a fazer de Kulto.
Ninguém obriga jose a ir mais além do que o seu métier. Aqui, ao contrário do futebol, fado e Fátima da sua preferência (e do tempo de outro dos seus ídolos), defende-se a liberdade de usufruto. E de garantir que haja possibilidades de tal
Define a nossa Constituição no seu artigo nº 2
"Estado de direito democrático
A República Portuguesa é um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.
E no seu artigo 9:
São tarefas fundamentais do Estado:
a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
E no seu artigo Artigo 42.º
Liberdade de criação cultural
1. É livre a criação intelectual, artística e científica.
2. Esta liberdade compreende o direito à invenção, produção e divulgação da obra científica, literária ou artística, incluindo a proteção legal dos direitos de autor.
E no Capítulo III, Direitos e deveres culturais, no seu artigo 73:
3. O Estado promove a democratização da cultura, incentivando e assegurando o acesso de todos os cidadãos à fruição e criação cultural, em colaboração com os órgãos de comunicação social, as associações e fundações de fins culturais, as coletividades de cultura e recreio, as associações de defesa do património cultural, as organizações de moradores e outros agentes culturais.
E no seu artigo 78, Fruição e criação cultural:
1. Todos têm direito à fruição e criação cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.
2. Incumbe ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais:
a) Incentivar e assegurar o acesso de todos os cidadãos aos meios e instrumentos de ação cultural, bem como corrigir as assimetrias existentes no país em tal domínio;
b) Apoiar as iniciativas que estimulem a criação individual e coletiva, nas suas múltiplas formas e expressões, e uma maior circulação das obras e dos bens culturais de qualidade;
c) Promover a salvaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum;
d) Desenvolver as relações culturais com todos os povos, especialmente os de língua portuguesa, e assegurar a defesa e a promoção da cultura portuguesa no estrangeiro;
e) Articular a política cultural e as demais políticas sectoriais.
Basta adivinhar o que leitura destes pequenos excertos da nossa Constituição fará aos defensores dos mercados uberalles. Problemas digestivos e irritações cutâneas pela certa. E arrepanhares pilosos nos locais onde ainda os têm
Não era por nada que pela escrita do próprio jose surgissem apelos à violação clara da CRP, aquando da governação miserável de Passos e da troika
A cultura é mesmo um incómodo e aí em cima tem a sua tradução primária na"cega-rega" desagradável e cansativa de um que arremete primariamente contra a cultura.
Essa história do dinheiro e da sua utilização tem os seus preceitos. Para salvar bancos e assegurar lucros escandalosos a banqueiros ou afins tudo certo. Até escutamos por vezes odes aos offshores e aos seus desmandos.
Há aí alguém que confunde cultura com moda.
A ideia de criticar a cultura como perpetuação de conceitos é também curiosa. Que tal fazer sair Camões da campa e fazê-lo pagar a ele próprio? Ou as construções pré-históricas que fazem parte da nossa cultura devem também pagar-se a si próprias.
Hoje por acaso deparei-me com uma notícia interessante do pasquim da tralha neoliberal
"A RTP vai ficar com cerca de 63,5 % do total da despesa na área da “Cultura”, onde se inserem, entre outras entidades, o Fundo de Fomento Cultural, a Direção Geral do Património Cultural e o Instituto do Cinema e do Audiovisual, que corresponde a 35,5 % do total da despesa não consolidada do programa."
Só para a RTP são 244 milhões de euros por ano, dos nossos impostos. Isto na era do Youtube, centenas de canais da TV por cabo, netflix, Internet, jornais online e centenas de meios para obter informação e conteúdo, uns pagos, outros até de borla, para nós e para o erário público, como aqui o LdB.
in: https://observador.pt/2016/02/05/cultura-rtp-custa-244-milhoes-euros/
Mas o que pensa a esquerdalhada lusa da RTP e dos seus 244 milhões por ano? Obviamente que é para continuar a "prestar serviço público", nem que nos custe os "olhos da cara".
Não faria esse dinheiro muita falta a tantas companhias de teatro? Não, a culpa da falta de cultura é da troika, de Passos Coelho e da tralha neoliberal.
Alexandre Simões Pimentel Ferreira armado em defensor amado da honra perdida de Passos Coelho
E a queixar-se dos nossos impostos. Dos que paga na Holanda ou que paga em Portugal?
Moda é a incapacidade de perceber a repetição ou a impossibilidade de percepcionar o momento?
Alexandre simões aonio pimentel ferreira fala que leu qualquer coisa num "pasquim da tralha neoliberal"
Não se sabem os critérios de classificação do dito aonio pimentel simões ferreira.
Mas se ele o diz, ele lá sabe os pasquins que frequenta
Pimentel ferreira alexandre simões acena com o seu mundo hodierno para justificar as suas teses que não são precisos canais de serviço público ao serviço de todos ( e a RTP não cumpre esta função, tendo-se agravado a situação no tempo da governação criminosa de Passos Coelho)
E é vê-lo todo contente, todo dandy, todo modernaço falar no Youtube (por acaso pimentel ferreira tentou ser um youtuber, mas os resultados foram paupérrimos), mais centenas de canais da TV por cabo, netflix, Internet, jornais online e centenas de meios para obter informação e conteúdo, uns pagos, outros até de borla.
A incapacidade de compreender a diferença entre o que deve ser um serviço publico e o que são os meios citados pelo pimentel ferreira vai de par com os seus posicionamentos ideológicos e com a sua posição de germanófilo impenitente.
Falamos de cultura é bom lembrar.
O nosso património cultural, o que somos, a nossa língua não podem estar ao sabor das idiotices de youtubers, dos canais pagos ou não, da netflix, dos jornais online.
Percebe-se o intuito de pimentel alexandre ferreira em tentar limitar ainda mais um serviço público que é torpedeado como o é. Para ele devíamos ter um "canal público" parido na Alemanha ou na Holanda a debitar as idiotices que pimentel ferreira faz diante de uma câmara. E sobretudo a servir o caudal informativo do interesse do pimentel ferreira
Mas que quer pimentel alexandre ferreira?
Ainda há por cá quem não vá nas suas tretas culturais
Pimentel ferreira faz uma pergunta qualquer dirigindo-se à "esquerdalhada"
A linguagem boçal deste tipo justifica-se do tipo de onde vem. Mas como não se tolera esta, sem uma referência adequada, aconselha-se pimentel ferreira a verificar que não está nos meandros que frequenta e de quem é amigo.
E a deixar-se de idiotices
Pimentel ferreira, agora sob a designação de alexandre simões ( tem mais de um cento de nicks) não gosta da CRP.
Gosta mais da alemã, parida na Alemanha. Alemanha que nos custa os olhos da cara. Muito mais, muitíssimo mais do que nos custa a RTP, que ainda mostra os tiques neoliberais imprimidos pela troika e por Passos
Os olhos da cara para os alemães justificam-se. Quando se trata da cultura portuguesa temos este fadinho
Relembra-se que "em 1995, o PNB português, ou seja, a riqueza que o país dispôs nesse ano ainda era superior ao PIB, ou seja, à riqueza criada nesse ano em Portugal, em 353 milhões €. A partir de 1996, o PIB passou a ser superior ao PNB, ou seja, uma parte crescente da riqueza criada em Portugal começou a ser transferida para o exterior indo beneficiar os habitantes de outros países. No período 1996-2015, o valor do PIB deste período (20 anos) é superior ao valor do PNB deste período em 70.751 milhões €. Tal é o montante de riqueza líquida criada em Portugal que foi transferida para o exterior indo beneficiar os habitantes de outros países, incluindo os da Alemanha. E como mostram também os dados, após a entrada de Portugal na Zona Euro em 2002, a transferência da riqueza criada em Portugal para outros países aumentou ainda mais (só no período da "troika" e do governo PSD/CDS a transferência liquida de riqueza para o exterior que foi beneficiar os habitantes de outros países atingiu 20.807 milhões €)."
As culturas não "atraem povos", os povos são a sua própria cultura. E se a cultura de um povo não é fomentada, acarinhada, o povo deixa de ter razão de existir.
Talvez seja isso que esse tal Pimentel Ferreira quer. Uma das suas estratégias para fazer que Portugal seja engolido por esta Europa fraudulenta
Enviar um comentário