quinta-feira, 24 de maio de 2018

Voluntariado laboral, uma das melhores práticas pós-modernas de exploração laboral


O Sainsbury's é um conhecido supermercado inglês. Lá, como cá, recorre-se com frequência a prácticas predatórias de gestão que só podem fazer inchar de orgulho o maior avaro esclavagista.

Introduzem-se manuais de normas instrutoras (as célebres guidelines que retiram discernimento e iniciativa fundamentais em qualquer posto de trabalho), achatam-se as hierarquias e estabelecem-se regimes intensos de estágios profissionais não remunerados para reduzir os custos com o trabalho, para não haver haver a responsabilidade ética de gerir carreiras e valorizar a experiência e a antiguidade, enquanto se multiplica o fosso remuneratório entre os de baixo e a adminsitração. Atribuem-se nome pomposos e longos para revalorizar socialmente funções que são depauperadas económico-financeiramente. Introduzem-se "contratos zero" em que apenas se é remunerado se se trabalhar. Porém, tem que se ter total disponibilidade para o momento em que se for chamado. Esta disponibilidade permanente não tem enquadramento legal, portanto não é remunerada.

Outra das prácticas predatórias preferidas, lá e cá, são os regimes de voluntariado - veja-se os pedidos da APEL para a feira do livro, os chorudos Websummit e Rock in Rio, ou mesmo a empresa de iogurtes em Castelo Branco que pagava com iogurtes, etc..

O voluntariado humanitário tem o mérito do altruismo. Porém, com a banalização das IPSS e das ONG, instituições sem fins lucrativos, tradicionalmente parcas de fundos e frequentemente imbuídas de caracter humanitário, foi um tirinho até essa coisa hedionda que é o voluntariado laboral.

Refira-se que precursor deste estado de coisas foi também a cedência feita pelo estado, o guardião da força de trabalho, à pressão para uma crescente desvalorização da importância de relações laborais estáveis, permitindo sem contravenção uma gritante precarização das relações laborais. A naturalização do problema da precarização laboral é tão grande que se vê com frequência as suas vítimas, os jovens millénials, a acusarem quem não aceita tamanha injustica de serem preguiçosos, "não querem trabalhar" costuma ser o epíteto.

Voltando ao Sainsbury's, este, usando as suas melhores competências e a mais apelativa e inclusiva rectórica, tentou resolver o seu problema: a renovação da sua cantina em Camdem a título gratuíto, como se de uma associação humanitária se tratasse. Um eloquente grupo de artistas, cansado da naturalização destas prácticas predatórias, respondeu à letra divulgando um anúncio em que solicita à melhor boa vontade dos supermercados, entre eles o Sainsbury, para gratuitamente lhes encher a despensa.

Resta saber se quem de direito - estado e empresas - se enxerga sobre a ilegitimidade desta, e outras, práticas de gestão. É que, quem faz voluntariado, não deixa de ser alimentado, vestido, transportado, protegido da intempérie, etc., apesar das empresas tratarem o assunto como se os seus voluntários vivessem do ar. A despesa com alimentação, habitação, transporte, vestuário, cultura e educação sai do bolso de alguém, pelo que estes métodos representa um subsídio ilegítimo a qualquer empresa que sistemáticamente a eles recorra. Se o voluntariado humanitário se pode em algumas circunstâncias justificar, a sua banalização representa uma forma de exploração desonesta.

Poderá a criatividade pôr a ganância e a desonestidade no devido lugar? E quebrar o estado de negação em que vivem os próprios explorados, felizes por, "pelo menos terem trabalho"?

19 comentários:

Geringonço disse...

Esqueceu-se de mencionar o recente festival da canção realizado em Portugal, foram centenas de escra... voluntários que contribuíram para a sua realização…

Tendo eu participado no programa de voluntariado europeu, que possibilita fazer voluntariado noutro país com custos pagos pela UE e organizações aderentes ao programa, pelo menos posso dizer que alguma coisa de aproveitei, coisa que não posso dizer do voluntariado meramente laboral.

O voluntariado laboral faz parte do ressurgimento do esclavagismo, a Eugénia menciona a geração abaixo dos 35 anos como sendo o alvo da vaga esclavagista, é algo que dura a há anos, antes até do governo de Passos Coelho.

Nós já temos uma geração perdida mas o tempo passa rápido, agora, as novas vítimas vão ser aqueles que nasceram já depois de 2000.
Vão ser duas gerações perdidas e tudo isto para alimentar os apetites da seita neoliberal...

Jose disse...

« guidelines que retiram discernimento e iniciativa fundamentais em qualquer posto de trabalho»
Quando a esquerdalhada demoniza a incompetência dos gestores nacionais, está a dizer que estão ausentes guidelines de algum tipo. Mas para os coitadinhos assalariados as guidelines tiram-lhe o discernimento!

Quem lhes tira o discernimento é quem se diz proteger e até representar trabalhadores e o menos que sabem é de organização do trabalho.

Anónimo disse...

A incompetência dos gestores ditos nacionais é proverbial.

Viveram à pala do estado novo e depois foram presenteados com manás imensos pela ala do bloco central de interesses, a que não faltaram os submarinos do CDS/PP, com todos os casos adjacentes.

Depois a sua mediocridade é também conhecida. Com uma dupla faceta. Por um lado o assumido carácter ultra-montano da espécie, já tão bem retratada por Eça. Por outro, a iliteracia de bradar aos céus que os torna naquilo que são:

Medíocres, pesporrentos, a armar aí pingarelho, vingativos e incultos

Mas fazem o que podem e o que não podem para manter o acesso ao saque

Jose disse...

O Cuco aí acima, da sua vasta cultura, só extrai o Conde de Abranhos como paradigma de tudo que se lhe oponha à doutrina esquerdalha.
Finge esquecer que tudo que aí se relata traduz uma corja de politiqueiros pendurada no orçamento, e quando o orçamento está pendurado em tudo que mexe em impostos, taxas, derramas, e alcavalas que têm em todo o valor criado nas empresas fonte segura.

Os Abranhos são bem o paradigma de quem ambiciona sinecuras públicas a troco de tretas, e algumas das teses deste post bem se qualificam como fonte inspiradora de tais personagens.

Anónimo disse...

Quem será o cuco?

E que linguagem lastimável esta...mais uma vez a realidade perturba este comentador de nickname jose?

Adnira ( ou talvez não) a ignorância sobre Eça e o conde de Abranhos Este como paradigma de toda a incompetência, mediocridade, iliteracia e pesporrência dos gestores ditos nacionais?

Este tipo ou é um ignorante ou é uma fraude. O Conde de Abranhos é apenas uma pequena e pálida imagem do que se passa no reino do grande patronato e dos seus gestores de topo ( que muitas vezes são os mesmos e/ou partilham cama, mesa e roupa suja)

Anónimo disse...

"Finge esquecer que tudo que aí se relata traduz uma corja de politiqueiros pendurada no orçamento..."

Mais uma vez me interrogo se quem escreve esta treta sabe ler ou se leu sequer este oportuno, certeiro e esclarecedor post de Eugénia Pires.

O que se relata aqui não é a corja de politiqueiros. O que se explana aqui é a corja (para usar o mesmo qualificativo) dum patronato predador e dos seus processos de gestão.

E da serventia de um poder político que, subserviente ao poder económico, legisla em função desse mesmo poder económico.

Relembra-se que o "precursor deste estado de coisas foi também a cedência feita pelo estado, o guardião da força de trabalho, à pressão para uma crescente desvalorização da importância de relações laborais estáveis, permitindo sem contravenção uma gritante precarização das relações laborais"

É para isto que "eles" querem o estado.

Anónimo disse...

De como a "corja" (para usar o mesmo qualificativo) dum patronato predador e dos seus processos de gestão é transformada depois em promotora de todo o valor criado nas empresas (e ainda para mais como fonte segura) é um verdadeiro espanto.

Não vale a pena ir muito mais longe. Sabemos como se processam as coisas e o escândalo denunciado por Eugénia Pires é "apenas" uma das facetas de toda esta choldra.

Porque há muitas mais. Por exemplo a "fonte segura" que constitui o desvio de milhares de milhões de euros para os offshores

Ou a fraude que é considerar o valor como criado nas empresas, quando se sabe que o trabalho é a criação de valor.

Anónimo disse...

Aí em cima alguém particulariza o Conde de Abranhos ( esta de lhe retirar o título nobiliárquico já demonstra muita coisa) como o representante do universo crítico de Eça.

A infantilidade redutora de tal gesto vai de par com o considerar o Conde como "paradigma de toda a incompetência, mediocridade, iliteracia e pesporrência dos gestores ditos nacionais".

Eça de Queiroz deu algumas fortes bengaladas nos que proclamavam de forma idiota a "diferença" como justificação para o escalonamento social (e económico,ético, cultural, etc etc etc).

Uma sua obra prima, o Conde de Abranhos, de 1878, mantém uma incrível actualidade.

Trata-se de uma espécie de biografia de Alípio Abranhos, escrita pelo seu fiel secretário, Z. Zagalo, um imbecil que julgando fazer-nos um eloquente elogio de Alípio nos vai desvendado todos os testemunhos da sua incompetência e oportunismo.

Por exemplo, os antecedentes familiares, usados pelo “biografo” para ilustrar a nobreza do conde não passam de façanhas de arruaceiros e bêbados. O Conde começa assim a surgir como uma caricatura do nobre aldeão. A educação rural de Alípio é parodiada ( lá se vai a defesa do ensino baseado nas "evidências" e as virtudes do ruralismo tão ao gosto de Salazar)

Mas o que aqui cabe destacar é que Alípio abominava o princípio “pernicioso da igualdade das inteligências, base funesta de um socialismo perverso”, assim como a “funesta tendência” de querer saber a verdade das coisas.

Para Alipio, para a felicidade dos povos, a ignorância é fundamental. Que o povo acredite, aceite e não questione: eis um princípio fundamental para Alípio Abranhos

Estamos a ver o quadro. É comum com outros personagens

Anónimo disse...

Tentar reduzir a figura do Conde de Abranhos a "quem ambiciona sinecuras públicas a troco de tretas" é assim atirar poeira para os olhos.

A filosofia política de Abranhos está plasmada nas convicções ideológicas de muitos, como é do conhecimento de quem lê este blog

Na Universidade, ele é um delator elogiado, um “lambe botas” como haveria de ser pela vida fora ( a universidade de Coimbra deu alguns exemplos deste tipo , que de convictos colonialistas, se converteram em lambe-botas vergonhosos da Alemanha uberalles)

Faz sucesso no parlamento graças a discursos barrocos e balofos, sem conteúdo. Hoje exageraria nos termos "esquerdalhada", "mamas", "cretinos", usados em modo looping

Na parte final da brilhante carreira deste imbecil típico da classe política lusa, (Passos, Cavaco e camarilha tiveram acessos de genialidade semelhante) Abranhos é nomeado ministro da Marinha; o Rei aceita a nomeação porque, embora não o conheça, “tem uma senhora muito galante”. Abranhos rejubila com a nomeação embora detestasse o mar e os navios. Não sabia o que era latitude e longitude; não sabia onde ficavam as colónias: só 18 meses depois da nomeação ficou a saber onde se situava Timor.

O estilo sarcástico de Eça ainda incomoda muita gente. Vê-se exposta com a nudez crua da verdade

Anónimo disse...

Quando dois lados de uma mesma coisa percepcionam uma certa normalidade é porque ela é real, a pergunta é: quem serão os responsáveis por isso?

Jose disse...

si·ne·cu·ra
(latim tardio [beneficium] sine cura, benefício sem cuidado)
substantivo feminino
Emprego remunerado, de pouco ou nenhum trabalho. = CONEZIA, MAMA, MAMATA, NICHO, PREBENDA, TACHO, TETA, TRIBUNECA, VENIAGA

"sinecura", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/sinecura [consultado em 26-05-2018].

Anónimo disse...

Pois é, é pena que tenha que se explicar tudo e mais um par de botas.

Valha tudo isto para demonstrar a inutilidade dos berros e a incapacidade de.

Alguém invocar o Conde de Abranhos como o representante do universo crítico de Eça é francamente redutor

Alguém reduzir o Conde de Abranhos a "quem ambiciona sinecuras públicas a troco de tretas" é francamente de ignorante. Do que Eça escreveu, do que se disse aqui.

Alguém depois vir tentar explicar o significado de sinecura, é francamente deprimente. Porque revelador de processos mentais em muito mau estado ou então, em alternativa, pretextos para tentativas de fuga sempre indiciadoras de.

O Conde de Abranhos representa muito mais do que o universo das tais sinecuras, com que alguém tenta restringir o debate. O Conde é um delator, um lambe-botas, qualidades que o vão acompanhar ao longo da sua vida. O exemplo da universidade de Coimbra como tendo gerado alguns exemplos deste tipo é apenas dado pela proximidade dos factos, Convictos colonialistas, se converteram em lambe-botas vergonhosos da Alemanha uberalles. Mas o mesmo se deu mesmo fora dos muros daquela prestigiada instituição

O Conde faz sucesso no parlamento graças a discursos barrocos e balofos, sem conteúdo. É ver os tempos da Assembleia Nacional e os primatas que o compunham. Hoje exageraria nos termos "esquerdalhada", "mamas", "cretinos", usados em modo looping. Quiçá perderia o seu tempo de intervenção a perorar sobre o significado das palavras?

O Conde acaba por ser nomeado Ministro. Mas a ironia de Eça ultrapassa a pobreza redutora dos significados livrescos. É que ele é nomeado porque “tem uma senhora muito galante”. E o coitado tem que se esforçar e ter cuidado para aprender o b-a-ba da marinha. O que é latitude e longitude, onde ficam as colónias, para que lado é Timor.

Mas o Conde é ainda mais do que isto: é a representação típica do imbecil típico da classe política lusa (Passos, Cavaco e camarilha tiveram acessos de genialidade semelhante). É a personificação duma aristocracia da treta, a dar-se ares de valer alguma coisa e que afinal não passa de parasitagem da sociedade. É a ilustração do resultado da primorosa educação da nossa classe dominante.

É o exemplo dos que proclamam de forma idiota a "diferença" como justificação para o escalonamento social (e económico, ético, cultural, etc etc etc). E aqui está tão bem acompanhado pelo que berra aí em cima.

Repete-se. Alípio abominava o princípio “pernicioso da igualdade das inteligências, base funesta de um socialismo perverso”, assim como a “funesta tendência” de querer saber a verdade das coisas. Para Alipio, para a felicidade dos povos, a ignorância é fundamental. Que o povo acredite, aceite e não questione: eis um princípio fundamental para Alípio Abranhos. Para o Conde e não só. Os exemplos abundam

Alípio tinha assim uma filosofia política que ia muito mais longe do que a canção das sinecuras a que o querem reduzir.

Percebe-se que seja a semelhança dos Alípios actuais com o Alípio de Eça e a demonstração deste facto, que provoque tanta comoção exaltada a justificar os berros escutados aí em cima.

(O regresso inevitável às "mamas", perdão às "MAMAS" pode todavia ter outros significados que devem ficar contudo limitados ao foro pessoal de quem assim se comporta)

Jose disse...

Reconheço sem esforço o mérito do detalhar dessa figura complexa que, a par de gozar os prazeres da vida, tem em si

O que é essencial a qualquer esquerdalho digno desse nome:
Ciente da inconveniência de ceder à ‘funesta tendência de querer saber a verdade das coisas’ ‘proclamam de forma idiota a "diferença" como justificação para o escalonamento social’.
Enfim, um ‘ imbecil típico da classe política lusa; aristocracia da treta, a e que afinal não passa de parasitagem da sociedade’.
Mas quando a si mesmo se qualifica como capaz de integrar a classe dos queridos líderes “abomina(va) o princípio “pernicioso da igualdade das inteligências, base funesta de um socialismo perverso’, o que significa que não é estúpido.

Quando é gente de partido,
Não se estranha que seja ‘um delator, um lambe-botas’ destinado a preencher auditórios com ‘discursos barrocos e balofos’.
Sempre disponível para preencher vagas ‘tem que se esforçar e ter cuidado para aprender o b-a-ba’ e ´dar-se ares de valer alguma coisa’.

Anónimo disse...

Mas, mas, mas

Mas e onde está agora o dicionário e a sinecura com as mamas aos berros?

Terá finalmente percebido a sua ignorância e idiotice?

Aguarda-se agora o pedido de desculpas pela desonestidade e pela histeria

Anónimo disse...

O resto é pobre, demasiado pobre para se levar a sério.

Jose viu-se no espelho. E, como verdadeiro émulo do conde de Abranhos, não gostou do que viu.

E o que fez? O que Alípio faria. Um discurso barroco e balofo, a repetir a sua imagem como se de outro se tratasse

Eça era magnífico nos seus retratos a esta burguesia decadente com requebros de aristocrata

Ahahaha

Jose disse...

Temos novidades!
A aristocracia contrapõe-se à burguesia decadente?

Anónimo disse...

José cala-se , engole em seco e tapa o espelho onde o reflexo do Conde de Abranhos o olha de frente, respondendo ao seu olhar

Em desespero tenta uma fuga, qualquer coisa que o livre desta miséria em que se atola.

E é um pouco de cabeça perdida que lê enviesadamente sobre a aristocracia e a burguesia Contrapõem-se, será isso?

E chuta a bola para aquele recanto

Pobre José. Não lhe bastava o que lhe sucedeu, agora atasca-se no que não está escrito

E é com uma gargalhada que se repete que Eça retratava uma burguesia decadente com requebros de aristocrata, como a figura deste Conde de Abranhos

Mais uma vez as semelhanças?

Jose disse...

O estado de desespero, pânico até, em que me colocam as interpretações da figura do Abranhos, levar-me-ão a emigrar caso não chegue depressa a eutanásia!!!!

Anónimo disse...

Levam o jose a emigrar? Sério?
Mas o que temos nós com isso?

Discutem-se outras coisas para além do umbigo de jose
E o que vemos é jose comportar-se como um verdadeiro salta-pocinhas.

Primeiro foram os berros, mais a idiotice do dicionário a ver se passava. Depois a tentativa do contraponto entre burguesia e aristocracia. Seguiu-se a ameaça de emigração, com muitos pontos de exclamação para ver se o levam a sério.

Grande Eça,de facto.

Agora podemos passar ao que se denuncia no post sobre a incompetência, mediocridade e má-fé do patronato e seus gestores?