terça-feira, 1 de maio de 2018

1º de Maio

Do filme Matrix Revolutions

8 comentários:

Geringonço disse...

Revolutions, talvez chegou o tempo…


A ficção “The Matrix” conta a estória de uma Humanidade explorada por máquinas.

A dada altura, as máquinas atingiram um nível de inteligência que lhes permitia ter livre-arbítrio, e elas viram como eram exploradas pela Humanidade.
As máquinas, inicialmente, tentaram coexistir pacificamente com a Humanidade, mas a Humanidade não aceitou ver as suas criações em pé de igualdade, então a guerra entre as máquinas e a Humanidade começou.
A Humanidade foi esmagada, e numa tentativa desesperada para derrotar as máquinas “queimou o céu”, um processo que impedia a luz solar penetrar a atmosfera, as máquinas dependiam da energia solar…
Mas a “bomba atómica” não deteve as máquinas, as máquinas desenvolveram um processo de produção de energia engenhoso, elas “cultivaram” seres humanos de forma a produzir electricidade, assim.
De forma que os corpos humanos pudessem ser explorados, as máquinas ligaram as consciências dos explorados a uma simulação computorizada de seu nome “Matrix”.

Embora alguns pensem que “The Matrix” é uma hipérbole e não está relacionada com a realidade humana passada e presente, na verdade este filme é uma das mais poderosas metáforas aplicadas através da cinematografia.
“The Matrix” conta, de forma subliminar, a História da Humanidade, uma História de exploradores e explorados, de como os exploradores manipulam os explorados, de como os explorados tantas vezes não têm noção que são explorados, e da luta visceral e brutal dos explorados para se libertarem da exploração.

No último filme, “Matrix Revolutions”, Neo (Keanu Reeves) fica a saber pela mão do Arquitecto (o programa que criou a Matrix) que há gerações e gerações de humanos lutam contra a exploração e opressão das máquina.
Coincidências com a realidade não é coincidência, foi deliberado pelos autores do filme.

Jaime Santos disse...

É verdadeiramente curiosa a atração que uma certa Esquerda tem pela cultura-pop, que é, claro está, uma criação capitalista para entreter as massas ignaras :-) (a religião já não é o ópio que era).

Como era aquela do James Bond (um herói libertador da classe operária, mau grado o sotaque posh de Roger Moore) a despejar um vilão em cadeira de rodas para dentro de uma chaminé, João Ramos de Almeida?

Anónimo disse...

Onde é que os autores do filme alegam que foi deliberado? Tem alguma prova?

Anónimo disse...

E o que dizer da vergonhosa reportagem da correspondente da RTP em Paris a acompanhar a comemoração do 1º de Maio com forte contestação a Macron. Perante as acções de vandalismo levadas a cabo, a coberto da manifestação e com o objectivo de impedir o seu percurso, por alguns elementos característicos e habituais, a jornalista apelidava-os de extrema esquerda, depois de anarquistas e depois de vice-versa, alternando e repetindo os diferentes termos de forma indiscriminada. Sobre o neo-liberal Macron e a forte pressão que os trabalhadores franceses quiseram manifestar praticamente nada foi dito.

Lowlander disse...

A unica vez que o Neo conversou com o Arquitecto foi no Matrix Reloaded.

João Ramos de Almeida disse...

Caro Jaime,
Eu encontro coisas nas mais variadas fontes e, ao contrário do que possa imaginar, não deito pela chaminé abaixo o que encontro de bom no capitalismo. Até porque - e levar-nos-ia tão longe - elas não são fruto nem filhos dos "donos" do capitalismo...

Mas vejo que ficou chocado com o facto de o James Bond ter deitado de um helicóptero abaixo o "mau" em cadeira de rodas, por uma chaminé industral adentro. Posso reafirmar-lhe que se tratava apenas de uma metáfora. Julgo que todos devem ter o direito à vida, mesmo quando tratam a vida de milhões de pessoas como se de parasitas se tratasse, atirando-os para a pobreza mais funda, muito abaixo da base de qualquer chaminé industrial.

Geringonço disse...

Obrigado pela correcção Lowlander.


Anónimo 1 de maio de 2018 às 22:57

Não sei se os autores afirmaram, mas parece-me mais do que óbvio que "The Matrix" não relata apenas um possível futuro, é sobretudo um filme sobre a natureza humana.


Jaime Santos
"ao contrário do que possa imaginar, não deito pela chaminé abaixo o que encontro de bom no capitalismo" - JRA
Não preciso acrescentar mais...

Anónimo disse...

Um texto belíssimo de António Santos sobre o primeiro de Maio.

"É Maio, maduro Maio, dia primeiro de todas as lutas que nos tornam gente: por salários de gente, porque neste país uma pessoa não tem direitos de pessoa com menos de 800 euros; por contratos de gente, daqueles que vêm com direitos de pessoas, como um futuro, uma família e, já agora, sonhos próprios; e horários de gente, e não de bestas mudas de carga alheia que só prestam para albardar. É dia de não trabalharem aqueles que trabalham os outros dias todos. É dia de vir aprender com os trabalhadores do Lidl a não sermos mais tomados por parvos e exigirmos o que por direito é nosso.

O Dia Internacional do Trabalhador é a assumpção da nossa História, dos mais altos voos aos mais fundos lodos, na primeira pessoa do singular: dizermo-nos sujeitos do devir como nos dizemos cantoneiros, professores, operários, vigilantes ou lojistas e ouvirmo-nos, sob o sol vernal da Alameda como nas antiquíssimas festas deste mesmo dia de plenilúnio pagão, a nossa voz colectiva, como um marulhar de povo por entre os prédios, ao ritmo das palavras de ordem que são literalmente palavras que dão ordens. «É mesmo necessário o aumento do salário», «igualdade salarial é urgente em Portugal», «emprego estável sim, precariedade não».

Maio é a desobediência histórica de nos apercebermos iguais entre os da nossa condição de trabalhadores, de mulheres e homens que vendem a força do seu trabalho e recebem muito menos do que a riqueza que criam. E para onde vai o resto? Quem tem o resto? A velha pergunta ressoa nova como há cem anos e a Alameda prossegue a marcha, rumo à grande desobediência de nos sentirmos capazes de mudar tudo e sermos, finalmente, gente. Lembramo-nos de onde vimos e do que não vivemos: a minha avó paterna, operária e cinco vezes mãe de filhos que só mantinha vivos roubando, escondido na roupa interior, o esparguete que ela mesma produzia na Fábrica dos Leões, em Évora. Para, quase cem anos depois, os netos lhe descobrirem, com um orgulho que se chama «classe», a verdade simples de que não é possível uma mulher roubar aquilo que ela própria criou. A nós tudo pertence porque nós tudo criamos."