«Existe uma diferença radical entre descobrir uma coisa e descobrir um ser humano: descobrir um ser humano implica reciprocidade. Quem descobre é descoberto. Se por qualquer razão esta reciprocidade é negada ou ocultada, o acto de descobrir, sem deixar de o ser, torna-se simultaneamente um acto de encobrir. A negação ou ocultação da reciprocidade assenta sempre no poder de negar ou ocultar a humanidade de quem é descoberto. Só assim é possível descobrir sem se descobrir, pôr a nu sem se pôr a nu, identificar sem se identificar, encontrar sem se encontrar, ver sem se ver. A modernidade é uma vasta teia de reciprocidades negadas: entre o sujeito e o objecto, entre a natureza e o homem, entre o civilizado e o selvagem, entre o sagrado e o profano, entre o indivíduo e o Estado, entre o patrão e o operário, entre o homem e a mulher, entre jovens e velhos. Os descobrimentos de Quinhentos são como que a metáfora fundadora da negação moderna de reciprocidade. São, pois, tão decisivos como descobrimentos quanto como encobrimentos.»
Boaventura de Sousa Santos, Descobrimentos e Encobrimentos
«Além de ser incompleta, a palavra Descobertas pode ainda fazer recair sobre nós, portugueses, a suspeita de querermos apagar da memória e do registo público aspetos menos positivos da nossa história, insistindo numa palavra que serviu esse propósito quando uma forma nacionalista de enaltecimento coletivo era considerada legítima. Não é esse, felizmente, o programa da Câmara Municipal de Lisboa, o que torna ainda mais importante procurar outro nome. (...) Com a palavra Descobertas estaríamos a ignorar que, além da CPLP, vivem em Portugal muitos portugueses (e pessoas que, não sendo legalmente portuguesas, nasceram em Portugal, falam o português e nunca conheceram outro país) que dificilmente se identificariam com ela. Quando se afirma a necessidade de considerar o “ponto de vista de todos os envolvidos” fala-se não só dos não-europeus (...), mas também de muitos portugueses do presente. De afrodescendentes, de descendentes de asiáticos e de americanos, dos que vieram de outros continentes para Portugal, fazendo do país o que ele hoje é.»
Cristina Nogueira da Silva, O museu da expansão portuguesa deve chamar-se dos descobrimentos?
«A carta em causa é um documento sensato e fundamentado, subscrito por um leque abrangente de académicos de universidades e quadrantes diversos, nacionais e internacionais, que faz eco das reticências que o termo “Descobrimentos” suscita – há muito – entre historiadores e cientistas sociais. É uma espécie de ground zero, de mínimo denominador comum, de ponto de partida sobre o qual estamos todos razoavelmente de acordo. (...) A exclusão do nome “das Descobertas” no futuro museu de Lisboa é um passo, ainda muito inicial e precoce. E a ver pelas reações alucinadas na fase do “como não se deve chamar”, não se anuncia pacífica a etapa do “como se vai chamar” e, muito menos, a do “o que terá lá dentro”. Para recomendar e atestar escolhas e opções, bastaria uma pequena equipa de biólogos, químicos, astrónomos, se fosse outro o campo. Como é o da História, a tal dos “descobrimentos” “ultramarinos”, “coloniais” ou do “império”, valerá a pena sequer obter uma validação científica?»
Paulo Jorge de Sousa Pinto, Voando sobre um ninho de corvos
«Um museu sobre a Expansão é ou não um museu a mais? Não só creio que não é, como acho que viria num momento certo. Precisamos de um sítio onde, em duas a três horas, o visitante fique com uma ideia global, rica e rigorosa, do que era esse mundo que os portugueses tocaram, de que modo o tocaram e com que consequências. Para mais, muitos dos que passam por Lisboa têm também a ver com essa expansão e gostarão de saber de que modo as viagens dos portugueses afetaram a vida e o destino das suas comunidades. Também os lisboetas e os portugueses sabem muito pouco da Expansão portuguesa e do seu impacto na história do mundo. (...) Para um museu destes, do que se precisa mais é de um bom guião, de uma narrativa inventiva e atual, não de muitas peças. (...) Quanto ao nome, o importante é que não se comece logo a enviesar o projeto, com palavras que o ‘fecham”, em vez de o manter bem aberto a todos. De resto, só faltava que se optasse pelo crioulo francês “descobertas”...»
António Hespanha (facebook)
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17 comentários:
«descobrir um ser humano implica reciprocidade»
Será um missionário?
Será um treteiro?
«quando uma forma nacionalista de enaltecimento coletivo era considerada legítima»
Envergonhemo-nos de ter pregado aos gentios, de descobrirmos e sermos descobertos.
Penalizemo-nos por ter ido mais além.
Nós que somos iberos, fenícios e romanos, godos, suevos e berberes, e de tudo isso fizemos fronteiras e nação, que direito tínhamos de ir a outras terras se tantos vieram ao que é a nossa?
Flagelemo-nos por ter ido a descobrir...pelo menos calemos a nossa História, para que quem chega não nos descubra...
Quem emigrou expandiu-se ou descobriu?
Quem descobriu e voltou, expandiu-se?
Quem descobriu e ficou, emigrou ou expandiu-se?
Descobertas é francês?
Gravíssimos problemas...
Porque não "Museu das Navegações Portuguesas" . Não ofende e afinal navegar é sempre preciso.
https://brasilescola.uol.com.br/curiosidades/navegar-preciso-viver-nao-preciso.htm
Gravíssimo problema!! De facto estes assuntos que dominam a Nova Esquerda, encontram o seu suporte intelectual, nos estruturalistas, pós-estruturalistas, pós-modernistas. Tudo teses relativistas, em que a discussão racional não faz avançar uma vírgula! É tudo luta e opressão... Depois queixam-se que ninguém os leva a sério, que se fossem biólogos seria diferente... Então eles não sabem que possuem uma definição de ciência que os coloca fora da demanda científica séria?! Para eles a ciência é apenas e só um constructo social, criado pelas classes dominantes (opressoras e burguesas) para dominar e controlar as suas vítimas (o operariado, o povo, as minorias?!). Veja-se a este propósito Chomsky sobre pos-modernismo e ciência. Agora é ridículo e triste que tanto cérebro na academia seja desperdiçado neste tipo de assuntos, quando as verdadeiras massas dos trabalhadores são dizimadas! É preciso estabelecer prioridades e lutar no que é fundamental porque essa luta está a ser perdida... E ainda: ciência é a busca da verdade não é luta política!
NM
Pateta José, Sim Descobertas é galicismo. Vem de Découvertes.
Em português ao longo dos séculos sempre se chamou à coisa Descobrimentos. Não sabes, Não chegas lá, não fales.
Galicismo é francês, diz um idiota que sabe.
Que tremedeiras são estas de herr José?
Que desassossego e que palavreado este ...
Proximidades de Abril e Maio???
Ao que parece o missionário ( talvez seja melhor dizer, o beato ) é mesmo José.
Treteiro é José mesmo. Estás fitas de virgem ofendida mostram apenas idiotice. De classe também. Mas não só
A crispação de herr José está todavia patente naquele seu arreguenho com que crisma os demais.
Idiota?
Também isso constitui herança paterna?
Também isso é marca duma pesporrencia trauliteira eivada daquele cheiro de?
Esta pequena compilação de fragmentos de textos mostra bem o que é a direita. A acefalia passa por aqui. Mas não é só desta que se trata.
Um tal Jose faz uso daquele seu ignorante e complexado vazio sobre tudo o que não diga respeito aos seus negócios de consultor financeiro. Ou aos discursos lúcidos e claros do seu ídolo salazar
Sobre esta frase:
«descobrir um ser humano implica reciprocidade»
Interroga-se angustiado:
"Será um missionário?
Será um treteiro?"
Não se sabe se dialoga consigo próprio na água reflectida naquela espécie de piscina de que se gaba.
Mas o resultado é penoso
Mas jose não está satisfeito. Não gosta das avaliações globais do que representam acontecimentos históricos.
E parte numa cruzada mística, assim do género; envergonhemo-nos , penalizemo-nos, flagelemo-nos.
Usa aquele linguarejar com que tenta tapar o que se denuncia e expõe:
"o que fomos íberos...bla-bla-bla ( faltam os mouros, lolol) ...e de tudo isso fizemos fronteiras bla-bla-bla"
É esta a justificação para se demandar outras terras e mais bla-bla-bla?
Este género de fuga cheio de prosápia ao que se debate faz com toda a certeza parte de um qualquer tomo daquele pervertido salazar a justificar as suas pulhices colonialistas. Lembre-se que este esteve no cerne de milhares de mortos tanto de povos colonizados como de jovens portugueses.
É por não se ir em idiotices bacocas de elogios coloniais com cheiro a suor, sangue e lágrimas que se quer ir mais longe e se quer fazer uma reflexão mais séria e honesta sobre a nossa participação na História.
Mas a inquietação de jose permanece. Tocaram-lhe lá naquele bocado de colonialista ressabiado. E não sossegando, não nos sossega com estas variações sobre o expandir:
"Quem emigrou expandiu-se ou descobriu e Quem descobriu e voltou, expandiu-se e Quem descobriu e ficou, emigrou ou expandiu-se?"
Isto ainda terá algum substrato cognitivo?
Francamente, que idiotices ocas face à articulação rigorosa ( e precisa ) dum texto como o de António Espanha
Mas esta colecção de textos fazem trazer a estas águas uma outra coisa.
Um tal NM . Um tal NM que não é outro que joão pimentel ferreira ou aonio eliphis ou um sem número de outros nicks com que tenta fazer pela vida e pela tralha neoliberal.
Eis aqui exposto o seu rancor à dita esquerda ( gravíssimo problema dirá , imitando o seu amigo jose) . E depois vem o arrazoado geral sobre os estruturalistas, pós-estruturalistas, pós-modernistas, teses relativistas.
E levanta ao alto a bandeira de cábula institucional (andou a arrastar-se penosamente para fazer um simples curso) sobre as inutilidades das discussões que não fazem avançar uma vírgula ( cita-se)
Não gosta do debate. Gosta sim sobretudo que se esvazie o conteúdo histórico e humano dos acontecimentos históricos.
Mas NM ou pimentel ferreira tem mais certezas
Dirá: "queixam-se que ninguém os leva a sério"
Mas quem se queixa? Pobre pimentel ferreira. Confunde os seus perturbados condicionalismos opinativos com factos?
E dirá: "possuem uma definição de ciência que os coloca fora da demanda científica séria?! Para eles a ciência é apenas e só um constructo social, criado pelas classes dominantes (opressoras e burguesas) para dominar e controlar as suas vítimas (o operariado, o povo, as minorias?!)."
Eis pimentel ferreira a esgrimir, não com argumentos, mas sim com os argumentos que cola aos demais, numa pantomina digna de um burgesso, a repetir uma cassete riscada. Aproveitando na boleia para fazer a sua publicidade aos registos da tralha neoliberal.
Pois é, tem azar o aonio pimentel vitor ferreira. Mas estes pseudo-diálogos consigo próprios não passam. Nem a versalhada em torno da mesma.
Um aldrabão de feira. Na exacta medida do non sense bacoco com que se despede com um " ciência é a busca da verdade não é luta política!".
Profundo, o fulano. Mas a cabeça está-lhe assim formatada e ainda por cima as células adiposas no cérebro vão fazendo o seu trabalhinho...
Esta conversa, de baixo nível entre o José e os seus críticos, com insultos vários, de parte a parte, não devia ser publicada. Para que serve o moderador?! Quem está de má fé nas discussões e parte para a ofensa fácil, não deveria ter os seus textos publicados! E esta história repete-se sistematicamente. A continuar assim este espaço de comentário e discussão interessante, vai desaparecer, e ficará uma coisa mesquinha e desinteressante em que os inimigos fidalgais se degladiam... Que tristeza!
E falta cá um ainda pior , um tal João Ferreira Pimentel.Esta história repete-se sistematicamente. E o que poderia ser um debate interessante é boicotado pelo jose e pelo João Pimentel Ferreira. Que até aparece a fazer queixa dos seus inimigos.E logo fidagais, ah ah ah
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